Sebastião, há cerca de 47 anos vendendo pipoca, atende várias gerações.
Quando eu era criança e passeava nas
ensolaradas tardes de Jaguarão, guiada pelas mãos de meu pai, tínhamos parada
certa na esquina da Praça Alcides Marques com a rodoviária, porque lá, já se
encontrava, o pipoqueiro Sebastião. O colorido varal de algodão doce, o cheiro
de açúcar e de pipoca quentinha eram e ainda são um atrativo para qualquer
criança e, enquanto meu pai, que sempre foi bom de conversa, demorava-se ali
proseando, eu saboreava as gostosuras. O tempo passou e hoje meus filhos é que
integram a clientela favorita do pipoqueiro e, quando vamos à praça, o pedido é
certeiro e um componente a mais no passeio.
Esta semana tive o prazer de em uma boa
conversa entrevistá-lo e saber um pouco mais sobre a sua trajetória, já que muito
mais preciosos do que o nosso patrimônio “de pedra e cal” são nossas histórias
e o nosso patrimônio imaterial.
Sebastião Sarmiento Veleda tem 62 anos e
nasceu em Bagé, mas se considera jaguarense. Conta que veio para a cidade aos
13 anos, em um dia que hoje recorda bem e, entre risadas, mas que na época
muito lhe custou, pois aqui chegou com sapatos de cerca de dois ou três números
abaixo do seu, inquieto no assento do ônibus, com os pés já dormentes de dor. O
menino logo em seguida começou a trabalhar ajudando o pai, o senhor João
Antônio Freitas, amplamente conhecido na cidade pelo apelido de “Mulita”. Com o
slogan de “O Mulita chegou e a fome acabou”, o comerciante, especialista em
comida, fez sucesso na cidade em fins dos anos 60 e na década de 70, como dono
de restaurante, onde Sebastião trabalhava como garçom. Conta-se que foi o
inventor do “churrasquinho de espeto” por estas bandas, teve um famoso “bar
móvel”, instalado em sua camionete, e fazia sucesso em locais movimentados e em
feiras e eventos, vendendo bolinho, pastel, cachorro-quente e bebidas.
Astuto para os negócios, Mulita decidiu
investir em uma máquina elétrica de pipoca, causando transtornos ao seu Ary, o
pipoqueiro mais antigo, que trabalhava com uma carrocinha manual e um fogareiro
de querosene, artesanal. A novidade fez
sucesso em Jaguarão. Sebastião, que auxiliava o pai, com o tempo tornou-se o
protagonista do negócio e durante a semana instalava-se em pontos estratégicos
como a Livraria Miscelânea, a esquina da Caixa Econômica e em frente às Lojas
Pernambucanas, para, aos sábados e domingos, ir para o Cine Regente.
Na matiné, conta que fazia fila. Quando o
filme era bom, esperto e escondido do pai, o pipoqueiro dava uns trocos para
que outro guri, vendedor de amendoim, tomasse seu posto e ele aproveitasse a
sessão.
Hoje, sua rotina é certa. Acorda de manhã,
brinca com a neta, toma mate com os amigos e companheiros de pescaria, almoça e,
no começo da tarde, com dia bom, vai para o trabalho. Limpa e prepara as
máquinas e ruma à Praça vender pipoca e algodão doce, de onde tira o sustento e
vive dignamente. Adora o que faz, pois o serviço lhe permite tratar com
crianças e, tirando os dias de chuva, que às vezes atrapalham, tem autonomia.
Diariamente alimenta os pombos, outros
pássaros e até as abelhas que, atraídas pelo açúcar, parece que já conhecem a
sua rotina.
Vida longa ao seu Sebastião, pois a praça e,
mesmo a nossa infância, não seriam as mesmas sem ele!
Andréa da Gama Lima
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