O Grande Altair devorado pelo Mar |
Com aquele vento, o
negócio era ficar dentro da barraca e esperar o temporal passar.
Djalma não tinha andado mais que uns cinco quilômetros quando
avistou, na praia, o “maior peixe” de sua vida: um navio enorme,
cujas cores, branco, cinza e laranja, brilhavam a cada novo relâmpago
dentro da noite escura dando a impressão que continuava seu trajeto
areia a dentro. Djalma, que ainda não tinha bebido nada, lembrou
disso para se dar por conta que se tratava mesmo de um enorme navio
encalhando na beira da praia e não de um tipo de visão etílica.
Djalma então voltou
imediatamente para a barraca e convocou os colegas pescadores para
ajudarem no salvamento dos marujos que procuravam sair do navio.
Djalma, Beto e outros quatro pescadores da turma, levaram até o
local a canoa Pingo de Ouro, que pertencia ao grupo, e demoraram
quase três horas para retirar do Altair todos os 21 tripulantes sãos
e salvos. Sim, Altair era o nome do navio de bandeira argentina que
acabara de encalhar na Praia do Cassino.
A carga do Altair
era de três mil toneladas de trigo que foi totalmente perdida.
Durante muito tempo era possível ver aquela mancha amarelada
composta pelos grãos do trigo na água que, de acordo com o vento e
a direção das ondas, em alguns dias chegava até a praia do
Hermenegildo, no Chuí. O lugar passou a ser ponto de referência na
praia do Cassino. Tudo passou a ser, antes ou depois, do “navio
afundado”. Várias espécies de peixes e outros animais marinhos
passaram a fazer dos seus restos a sua morada e o local ficou também
conhecido como um bom lugar para pescar.
Não há quem passe
por lá e não bata uma foto, com os restos do navio encalhado ao
fundo, como lembrança do Cassino. Quem ainda não fez isso poderá
ter perdido a chance pois nestes últimos 34 anos o mar foi
implacável com ele. Quase não há mais nada para se ver. Nada
mesmo, se compararmos com as primeiras fotografias do Altair
encalhado. Vários colegas do Estadual,como a nossa fotógrafa
Liliana, já posaram com a família por lá. Muitos outros bageenses,
além do Djalma e da Liliana, já viram esse navio.
Não é de hoje que
a Praia do Cassino é uma das preferidas do pessoal de Bagé. Outros
naufrágios ocorreram na praia do Cassino, mas o único navio que
permaneceu lá, com seus restos para contar a história, foi o
Altair.
Publicado na Coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional em 12/11/2014
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