terça-feira, 28 de janeiro de 2014

A FAMIGERADA “LATINHA”

Comecei a comentar futebol lá por 1953, para A Folha de Jaguarão, cujo dono era meu primo Anysio de Souza Resem. De lambujem, tornei-me correspondente da Folha da Tarde Esportiva de Porto Alegre e, em seguida, aceitei convite para integrar a Equipe U7 de esportes da ZYU-7 Rádio Cultura de Jaguarão, A Mais Meridional do Brasil. Inicialmente, meus comentários eram lidos por Cláudio Ely Rodrigues ou pelo Alcir “Gaita” Riccordi e eu só me animava a falar na latinha quando anunciado sob o pseudônimo “Abel Kaur”, fazendo minha saudação inicial com exagero na impostação da voz. “Senhoores e senhooras, desportiiistas em geral... Queeeiram aceitar... o meu boa-noite cooordial!”

O microfone era colocado em um pedestal no centro do estúdio e os speakers atuavam de pé, ao redor, sem que houvesse mesa nem cadeira. A turma queria porque queria meus comentários em viva-voz e, então, passei a receber fichas de reclames para desencabular de vez. Eu já vinha fazendo algumas intervenções. “O que você recomenda, Abel Kaur, para entorses e luxações?” A resposta vinha no capricho: “Ge-lol-lol!” Gaita era goal-keeper de segundo team, lutador e acrobata. Logo que eu dizia algo na “latinha”, ele se punha plantar bananeira, o que me obrigava a conter o riso, desesperadamente. Numa dessas, eu lia um reclame de creme dental e veio a dúvida em pleno ar: “Não esqueçam: para um sorriso bonito, não deixem de usar o creme dentri... dentri... dentri...” Ainda bem que Cláudio me socorreu: “Perdão, caros ouvintes, quebrou o disco! Não deixem de usar o creme dentifrício...”

Retornei a Jaguarão em 1959 e acabei aceitando convite do primo Anysio para assumir a gerência de A Folha. Pau para toda obra. Redator, diagramador, tipógrafo, cobrador, relações-públicas, tudo comigo. Eu já me preparava, em Porto Alegre, para o vestibular de Engenharia na UFRGS e tive de planejar as coisas da melhor forma possível. Outra vez como correspondente da Folha da Tarde, a Caldas Jr. até pediu que eu lançasse em Jaguarão o concurso da Mais Bela Gaúcha. A rotina foi estabelecida e chamei o amigo Flávio Brum para os comentários dos jogos, assinados simplesmente como “Flávio”, pedindo que eu não revelasse a sua identidade – ninguém mesmo se dava conta. Ele chegou a comentar uma partida em que atuara como half esquerdo no Navegante F.C., valendo-se de sua prodigiosa memória! Quem fazia o programa de esportes da emissora eram o Jara Nunes como narrador e o Paulinho Azevedo na reportagem de campo, que andavam cabreiros sobre quem era o tal Flávio do jornal, mas eu vinha com a desculpa de “arma secreta”.


Jara era o dono do pedaço e me pediu para colaborar com perguntas nas entrevistas de sua mesa redonda (a emissora já contava com móveis). Paulinho fazia os comerciais, enquanto Jara e eu conversávamos com o convidado. Certo dia, fiquei sozinho com todas as tarefas, encarregado de entrevistar o jogador Pedro Brechane, vulgo “Pedrinho Cachorro” do Esporte Clube Cruzeiro do Sul. De cara, recomendei que ele ficasse o mais à vontade possível, que o bate-papo ficaria “só entre nós e o povo”. Estourei o horário da programação, em vingança contra os ausentes.

José Alberto de Souza

Publicado na Coluna Gente fronteiriça do jornal Fronteira Meridional em 15/01/2014

Cronica retirada do Livro Digital    O VELHO “CHATEAU” DAQUELES RAPAZES DE ANTIGAMENTE

domingo, 26 de janeiro de 2014

Jards Macalé - Um morcego na porta principal


SÃO PAULO (Reuters) - Logo no início, o documentário "Jards Macalé - Um Morcego na Porta Principal" dá uma pista de que não vai ser uma homenagem convencional ao seu protagonista.
Um irritado Jards Macalé vocifera para o cineasta Marco Abujamra (um dos diretores): "Olha que eu posso processar vocês!" O motivo da bronca é que o cantor, músico e compositor carioca não tem certeza de que vai deixar-se retratar pelo filme. Quando o diretor pergunta qual é o seu medo, ele dispara: "O medo de que vocês desconstruam tudo o que construí - minha vida."
E é assim mesmo, bronqueado, irreverente e franco que Macalé vai sendo revelado no filme, um pequeno mapa da identidade deste músico que andou perto do Tropicalismo, mas não foi sócio do clube, esteve em todos os momentos e lugares onde isso era importante - como o show "Opinião", em 1964 - e resistiu à ditadura militar com sua arte. E também dono de uma obra como compositor que é, infelizmente, subavaliada.
Macalé não é um medalhão da música brasileira, assim como Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa - e essa é uma injustiça que o filme de Abujamra e João Pimentel, vencedor do Prêmio do Júri do Festival do Rio de 2008, procura reparar.
E assume esta causa sem esbarrar na condescendência que contamina tantos documentários, inclusive os que tem protagonistas dignos de tantos louvores, como é o caso deste.
Macalé aparece possuído de sua peculiar mistura de ira santa contra as mazelas do mundo, combinada a uma ironia peculiar.
Assim, o tijucano Macalé enumera a mistura de influências recebidas em casa, da mãe e da avó que cantavam Vicente Celestino, do pai que tocava acordeon e adorava ópera e também das batucadas de samba ouvidas ao pé dos morros do Rio.
Violonista, ele cruzou seu caminho nos bares da zona sul com Baden Powell. Brigou com Dori Caymmi, ficando sem falar com o cantor por três anos só porque mudou um acorde de sua composição, "Tarde Demais". Episódio que hoje os dois lembram rindo.
Não era essa a guerra de Macalé, nem de sua geração, que enfrentou a ditadura. Assim, Macalé junta-se a Bethânia no palco do histórico show "Opinião", ela substituindo Nara Leão, ele, Roberto Nascimento, no violão. Bethânia, aliás, morou alguns meses na casa de Macalé. Uma casa em ebulição onde, como ele lembra, Caetano, Torquato Neto, Capinam e Rogério Duprat discutiram a Tropicália.
Com alguns dos amigos partindo para o exílio, como Gil, Caetano e Chico, Macalé fica no enfrentamento com a censura e o sufocamento político. Nem sempre é compreendido. Em 1969, no Festival Internacional da Canção, é sonoramente vaiada sua composição "Gotham City", parceria com Capinam, cuja letra sobre a existência de "morcegos e abismos na porta principal", traça um evidente paralelo entre o clima dos anos de chumbo e a sombria cidade do heroi Batman.
Batalha maior foi vivida em 1973, quando foi chamado a participar, com outros artistas, da comemoração aos 25 anos da Declaração dos Direitos Humanos no Museu de Arte Moderna do Rio. Macalé comparece com seu show "Banquete dos Mendigos" - alusão ao álbum dos Rolling Stones, "Beggars' Banquet", de 1968. Lida em público a Declaração dos Direitos Humanos, que mencionava tortura e outros temas proibidos pela censura, o museu, cheio de artistas, foi cercado pela polícia.
Macalé ainda seria preso - por sete horas - depois de um show em Vitória (ES), do qual participou o veterano sambista Moreira da Silva. Uma prisão que teve momentos hilariantes, diante das tentativas de Moreira de livrar a cara do amigo, aproveitando o fato de que tinha fãs entre os policiais.
Se há uma coisa que enfurece Macalé ainda é o rótulo de "maldito", que uma parte da mídia costuma pregar-lhe há décadas. Ele odeia este selo, que costuma ser estendido também a artistas como Jorge Mautner, Luiz Melodia, Tom Zé. Para o músico, isto nada mais é do que uma maldição jogada por gravadoras, contra as quais ele se bateu a vida inteira.
O lado poético e anarquista de Macalé, entretanto, flui a todo momento. Como quando ele fala de seu sonho de ver a palavra "amor" inserida na bandeira brasileira, ao lado de "ordem e progresso". Macalé é assim, esta indissociável mistura entre fúria e paixão.
Fonte: http://cinema.uol.com.br/

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Os Infinitos Tons de Cinza

Há tanta mesmice, tanta hipocrisia e babaquice na TV aberta e na mídia como um todo, hoje em dia, que ser seletivos é um grande desafio. Escolher entre tanto lixo o que possa nos acrescentar algo de bom nos obriga a um constante zipping, como quem folheia uma revista chata procurando alguma página com conteúdo, evitando a fofoca vazia disfarçada de jornalismo, a propaganda ideológica sempre à direita e panfletariamente “antipetista”, as verdades emporcalhadas entre as meias verdades ou asfixiadas entre mentiras disfarçadas de verdades.
Famíglia Marinho- monopólio midiático que os faz bilionários

Tal decadência nos fala do esgotamento de um modelo elitista e monárquico do controle da informação, totalmente alienado de sua função social e cidadã. Precisamos duma mídia menos mercenária, que se foque nos assuntos que mais nos afetam como sociedade, e menos comprometida com os interesses das grandes máfias de colarinho branco, que entende por “reportagem” a saturação do horário nobre com crimes e violência.

Salvo raríssimas exceções o jornalismo de hoje veste o capuz do mercenário a soldo das grandes corporações, e sua mensagem possui a monocromia em todos os tons do cinza. Pelo dia fofoca e banalidades, à tardinha crimes e engarrafamento no trânsito, e a madrugada vira uma terra de zumbis que, como num pesadelo, invade grande parte dos canais com programas evangélicos onde pastores se esganitam expulsando demônios, invocando ameaças contra o capeta ou pedindo dinheiro..., em nome de Jesus!

Senhor! Livrai-nos destes fariseus e também dos canais que parecem feiras de camelôs ou vitrines de joalherias, e dos que só oferecem eletrodomésticos, esteiras para ginástica ou dietas milagrosas! Os grandes grupos econômicos, aos quais, infelizmente para nós, pertence a própria grande mídia —no Brasil apenas seis famílias controlam quase todos os meios de comunicação: rádios, TVs, jornais, revistas, editoras e sites da internet— querem exorcizar o Estado privatizando-o, apostam  no demérito e no fracasso da política e dos políticos. Tais Grupos teriam via livre se não houvesse Congresso, se somente o “deus mercado” ditasse a lei que eles apregoam: nada de impostos, nem serviço social. Tudo para poucos, e para a grande massa, a eterna anestesia idiotizante do cinza!

Tudo deve ser um grande negócio. O Estado democrático é um obstáculo para a monarquia midiática, que se acha no direito de ditar as regras do jogo político, condenar a quem não lhe agrada, inocentar a quem lhe serve, ignorar e ocultar os crimes de quem divide com ela o lucro da corrupção e dos despojos. É uma maquinária diabólica que 24 horas ao dia e 365 dias ao ano manipula, mente, distorce, difama..., envenenando as consciências e apodrecendo a saúde mental de todos, apostando ao fracasso de um projeto social e de país!

A Argentina e o Uruguai já aprovaram a ley de medios. Isto é um avanço para a democracia, pois coloca um limite aos monopólios do grande capital, e possibilita aos municípios, aos bairros, às comunidades e associações, além dos Estados e a União, a terem também direito a se expressar possuindo uma emissora de rádio ou de TV —a modo de exemplo: há um canal da comunidade mapuche, em Mar del Plata, na Argentina—. No caso  brasileiro, a democratização midiática estabelecida pela Constituição de 1988 destina o controle dos meios em terços: 1/3 para os governos federais, estaduais e municipais, 1/3 para a sociedade civil e 1/3 para os empresas.

Aqui as seis famílias e suas franquias estão pondo o grito no céu. Dizem que isso —a democratização da mídia— é um atentado à democracia (!?) Claro, para quem se acha dono da verdade e com direito a manipular 200 milhões de consciências isso deve ser horrível, mas e nós, somos representados por esse atual modelo de mídia fofoqueira e vazia? Não seria mais rica a TV, o rádio, a imprensa como um todo, se mais vozes fossem escutadas, e saíssemos da ditadura do cinza?

Dario Garcia

Acadêmico Unipampa

Publicado no Jornal Fronteira Meridional em 08 de janeiro de 2014


sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Zebeto Corrêa - Por onde o rio passa


Show de Zebeto Correa acompanhado pelo pianista Nilton Júnior no Espaço cultural de Verão La Mancha, Jaguarão, 11 de janeiro de 2014.

A música "Por onde o Rio Passa" foi ganhadora do Festival da Moenda em 2013.




Clandestino - Gilberto Isquierdo e Said Baja

  Assim como o Said, milhares de palestinos tiveram de deixar seu país buscando refúgio em outros lugares do mundo. Radicado nesta fronteir...