Quando os índios invadiram a Europa.
Um libelo para os tempos atuais...
Quando os
índios invadiram a Europa
“- Como
ousavam?”- Se indagaram os brancos reis
Se não tinham mais que armas
antiquadas
Se em seus barcos não cabiam mais que
três
Se nem sabiam que o dinheiro era
preciso
Se não se guiavam nem por regras, nem
por leis
Se não exploravam nem o solo, nem os
rios
Se não falavam nem o básico de inglês
Quando os índios invadiram a Europa
Todos riram... padres, nobres e plebeus
Se esses loucos não sabiam nem guerrear
E se o faziam, não lutavam por um Deus
Se só comiam o que a terra oferecia
Se não cercavam os domínios que eram
seus
Se não sabiam transformar a natureza
Como podiam comparar-se aos Europeus?
Mas eles tinham seus poderes invisíveis
E foram, aos poucos, destruindo as cidades
Plantando árvores no lugar dos
edifícios
Desnudando as pessoas, chocando a
sociedade
Criando um novo mundo onde todos eram
livres
E em cada voz só se escutava uma
verdade
Onde não havia nem mais ricos, nem
mais pobres
Onde se viu o que era, enfim, a igualdade
Sim, eles tinham seus poderes
misteriosos
Seus
espíritos da floresta,seus remédios naturais
Os conselhos dos mais velhos,
a coragem de seus bravos
E essa força
sobre-humana de seus deuses ancestrais
E desde então já não se pôde destruir por destruir
Já não se pôde exterminar ou enjaular
os animais
Já não se pôde livremente poluir o céu
e as águas
E a terra fez-se pura como há muito
tempo atrás
Quando os índios invadiram a Europa
Já não mais se soube o que era lucro
ou prejuízo
Pois a prata e o ouro só lhes serviam
como enfeites
E o dinheiro, estranhamente,
nunca mais se fez preciso
Agora, depois que os índios invadiram
a Europa
Os senhores do mundo já não zombam com seus risos
E a vida passa, livre e bela, sem ter
pressa
Pois desde então estamos aqui:
no paraíso!
Martim
César
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