segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Os Infinitos Tons de Cinza

Há tanta mesmice, tanta hipocrisia e babaquice na TV aberta e na mídia como um todo, hoje em dia, que ser seletivos é um grande desafio. Escolher entre tanto lixo o que possa nos acrescentar algo de bom nos obriga a um constante zipping, como quem folheia uma revista chata procurando alguma página com conteúdo, evitando a fofoca vazia disfarçada de jornalismo, a propaganda ideológica sempre à direita e panfletariamente “antipetista”, as verdades emporcalhadas entre as meias verdades ou asfixiadas entre mentiras disfarçadas de verdades.
Famíglia Marinho- monopólio midiático que os faz bilionários

Tal decadência nos fala do esgotamento de um modelo elitista e monárquico do controle da informação, totalmente alienado de sua função social e cidadã. Precisamos duma mídia menos mercenária, que se foque nos assuntos que mais nos afetam como sociedade, e menos comprometida com os interesses das grandes máfias de colarinho branco, que entende por “reportagem” a saturação do horário nobre com crimes e violência.

Salvo raríssimas exceções o jornalismo de hoje veste o capuz do mercenário a soldo das grandes corporações, e sua mensagem possui a monocromia em todos os tons do cinza. Pelo dia fofoca e banalidades, à tardinha crimes e engarrafamento no trânsito, e a madrugada vira uma terra de zumbis que, como num pesadelo, invade grande parte dos canais com programas evangélicos onde pastores se esganitam expulsando demônios, invocando ameaças contra o capeta ou pedindo dinheiro..., em nome de Jesus!

Senhor! Livrai-nos destes fariseus e também dos canais que parecem feiras de camelôs ou vitrines de joalherias, e dos que só oferecem eletrodomésticos, esteiras para ginástica ou dietas milagrosas! Os grandes grupos econômicos, aos quais, infelizmente para nós, pertence a própria grande mídia —no Brasil apenas seis famílias controlam quase todos os meios de comunicação: rádios, TVs, jornais, revistas, editoras e sites da internet— querem exorcizar o Estado privatizando-o, apostam  no demérito e no fracasso da política e dos políticos. Tais Grupos teriam via livre se não houvesse Congresso, se somente o “deus mercado” ditasse a lei que eles apregoam: nada de impostos, nem serviço social. Tudo para poucos, e para a grande massa, a eterna anestesia idiotizante do cinza!

Tudo deve ser um grande negócio. O Estado democrático é um obstáculo para a monarquia midiática, que se acha no direito de ditar as regras do jogo político, condenar a quem não lhe agrada, inocentar a quem lhe serve, ignorar e ocultar os crimes de quem divide com ela o lucro da corrupção e dos despojos. É uma maquinária diabólica que 24 horas ao dia e 365 dias ao ano manipula, mente, distorce, difama..., envenenando as consciências e apodrecendo a saúde mental de todos, apostando ao fracasso de um projeto social e de país!

A Argentina e o Uruguai já aprovaram a ley de medios. Isto é um avanço para a democracia, pois coloca um limite aos monopólios do grande capital, e possibilita aos municípios, aos bairros, às comunidades e associações, além dos Estados e a União, a terem também direito a se expressar possuindo uma emissora de rádio ou de TV —a modo de exemplo: há um canal da comunidade mapuche, em Mar del Plata, na Argentina—. No caso  brasileiro, a democratização midiática estabelecida pela Constituição de 1988 destina o controle dos meios em terços: 1/3 para os governos federais, estaduais e municipais, 1/3 para a sociedade civil e 1/3 para os empresas.

Aqui as seis famílias e suas franquias estão pondo o grito no céu. Dizem que isso —a democratização da mídia— é um atentado à democracia (!?) Claro, para quem se acha dono da verdade e com direito a manipular 200 milhões de consciências isso deve ser horrível, mas e nós, somos representados por esse atual modelo de mídia fofoqueira e vazia? Não seria mais rica a TV, o rádio, a imprensa como um todo, se mais vozes fossem escutadas, e saíssemos da ditadura do cinza?

Dario Garcia

Acadêmico Unipampa

Publicado no Jornal Fronteira Meridional em 08 de janeiro de 2014


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