Há tanta mesmice,
tanta hipocrisia e babaquice na TV aberta e na mídia como um todo, hoje em dia,
que ser seletivos é um grande desafio. Escolher entre tanto lixo o que possa
nos acrescentar algo de bom nos obriga a um constante zipping, como quem
folheia uma revista chata procurando alguma página com conteúdo, evitando a
fofoca vazia disfarçada de jornalismo, a propaganda ideológica sempre à direita
e panfletariamente “antipetista”, as verdades emporcalhadas entre as meias
verdades ou asfixiadas entre mentiras disfarçadas de verdades.
Famíglia Marinho- monopólio midiático que os faz bilionários |
Tal decadência nos
fala do esgotamento de um modelo elitista e monárquico do controle da
informação, totalmente alienado de sua função social e cidadã. Precisamos duma
mídia menos mercenária, que se foque nos assuntos que mais nos afetam como
sociedade, e menos comprometida com os interesses das grandes máfias de
colarinho branco, que entende por “reportagem” a saturação do horário nobre com
crimes e violência.
Salvo raríssimas
exceções o jornalismo de hoje veste o capuz do mercenário a soldo das grandes
corporações, e sua mensagem possui a monocromia em todos os tons do cinza. Pelo
dia fofoca e banalidades, à tardinha crimes e engarrafamento no trânsito, e a
madrugada vira uma terra de zumbis que, como num pesadelo, invade grande parte
dos canais com programas evangélicos onde pastores se esganitam expulsando
demônios, invocando ameaças contra o capeta ou pedindo dinheiro..., em nome de
Jesus!
Senhor! Livrai-nos destes fariseus e também dos canais que
parecem feiras de camelôs ou vitrines de joalherias, e dos que só oferecem
eletrodomésticos, esteiras para ginástica ou dietas milagrosas! Os grandes
grupos econômicos, aos quais, infelizmente para nós, pertence a própria grande
mídia —no Brasil apenas seis famílias controlam quase todos os meios de comunicação:
rádios, TVs, jornais, revistas, editoras e sites da internet— querem exorcizar
o Estado privatizando-o, apostam no
demérito e no fracasso da política e dos políticos. Tais Grupos teriam via
livre se não houvesse Congresso, se somente o “deus mercado” ditasse a lei que
eles apregoam: nada de impostos, nem serviço social. Tudo para poucos, e para a
grande massa, a eterna anestesia idiotizante do cinza!
Tudo deve ser um grande negócio. O Estado
democrático é um obstáculo para a monarquia midiática, que se acha no direito
de ditar as regras do jogo político, condenar a quem não lhe agrada, inocentar
a quem lhe serve, ignorar e ocultar os crimes de quem divide com ela o lucro da
corrupção e dos despojos. É uma maquinária diabólica que 24 horas ao dia e 365
dias ao ano manipula, mente, distorce, difama..., envenenando as consciências e
apodrecendo a saúde mental de todos, apostando ao fracasso de um projeto social
e de país!
A Argentina e o Uruguai já aprovaram a ley de medios. Isto é um avanço
para a democracia, pois coloca um limite aos monopólios do grande capital, e
possibilita aos municípios, aos bairros, às comunidades e associações, além dos
Estados e a União, a terem também direito a se expressar possuindo uma emissora
de rádio ou de TV —a modo de exemplo: há um canal da comunidade mapuche, em Mar
del Plata, na Argentina—. No caso brasileiro,
a democratização midiática estabelecida pela Constituição de 1988 destina o
controle dos meios em terços: 1/3 para os governos federais, estaduais e
municipais, 1/3 para a sociedade civil e 1/3 para os empresas.
Aqui as seis
famílias e suas franquias estão pondo o grito no céu. Dizem que isso —a democratização
da mídia— é um atentado à democracia (!?) Claro, para quem se acha dono da verdade
e com direito a manipular 200 milhões de consciências isso deve ser horrível,
mas e nós, somos representados por esse atual modelo de mídia fofoqueira e
vazia? Não seria mais rica a TV, o rádio, a imprensa como um todo, se mais
vozes fossem escutadas, e saíssemos da ditadura do cinza?
Dario Garcia
Acadêmico Unipampa
Publicado no Jornal Fronteira Meridional em 08 de janeiro de 2014
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