Xote Carreirinha, um dos momentos inesquecíveis desse show memorável |
Decerto deve ter
havido em Jaguarão espetáculos tão inesquecíveis como esse, protagonizado pelos
amigos do La Mancha, Borghettinho, Chico Saratt, Mário Barbará e seus parceiros,
na última terça, 09 de setembro, no espaço do Centro de Tradições Gaúchas do
Rincão da Fronteira.
Quem não se
lembra daquele Concerto no Largo das Bandeiras numa fria noite de inverno, em
que a cidade silenciou para ouvir o piano de Arthur Moreira Lima, considerado
uma das mais importantes personalidades da Cultura brasileira? Como esquecer,
no mesmo local, em data mais recente, o show de umas das mais importantes
intérpretes de samba da MPB, Leci Brandão? Pode-se olvidar a passagem de Jorge
Cafrune, o grande folclorista argentino, numa apresentação que fez no Clube
Harmonia lá pelos anos 60? E o rock gaúcho dos Engenheiros do Hawaii num show
do Projeto Jaguar nas Ruínas da Enfermaria em 1987? Ouso imaginar como teria sido impressionante
ter participado como ouvinte de alguma roda de bar nalguma esquina de nossa
cidade, onde o nosso maior instrumentista, Eduardo Nadruz, o Edu da Gaita,
executasse seu mágico instrumento na já distante primeira metade do século XX.
Se todos esses
eventos que mencionei são perenes na memória cultural de nossa cidade, este
show do La Mancha teve alguns fatos marcantes e peculiares que o fazem
destacável. A começar pela via de transporte dos músicos, o veleiro Sabiá, que
partiu de Porto Alegre singrando a Dos Patos , a Mirim, e o Jaguarão, até
chegar a seu destino cinco dias depois. Capitaneou a galera nessa aventura o
Kako Pacheco, percussionista que acompanha o Borghetti desde sempre. A bordo do
Sabiá, doze cantarolantes paisanos, trazendo muita farra, gaita, bombo e
violão. Contaram, durante o show, que
chegando à tardinha nas costas de uma fazenda na Lagoa Mirim, o Kako pediu ao
Borghetti para ir postar-se na proa com sua gaita de oito baixos para que o
gaúcho de ronda pudesse lhes identificar.
Afinal, quem no Rio Grande não conhece a imagem desse gaiteiro? E deu certo.
Além de não levar chumbo, se rebuscaram com uma churrasqueada hospitaleira
renovando as forças para a chegada em Jaguarão no dia seguinte. Enquanto essa
dúzia vinha por água, alguns vinham por terra. Caso do Barbará e do seu
inseparável parceiro Serginho Souza, que confessaram ter vindo meio no escuro,
sem saber ao certo pra que era mesmo. E depois, apareceram o Luiz Marenco da
Santana da Boa Vista e daqui da Banda Oriental,
cantando a full, o Canário Martinez.
Foi uma noite
fantástica, sem dúvida. Se o Kako chefiou o Sabiá, pode se dizer que o Chico
Saratt foi o capitão do show com suas tiradas sempre geniais. Muy informal e
empolgante e que faz o público sentir-se em comunhão com os cantores. Para mim, um dos momentos mais marcantes,
registrado na foto, foi quando o Barbará cantou O “Xote Carreirinha”
acompanhado pela gaita do Renato Borghetti e mais o vocal do Saratt e do
Rodrigo Munari, ex participante dos
Serranos. Para se ter uma ideia, me pego cantarolando volta e meia o
xote, coisa muito minha , muito nossa!
A viagem pelas
águas doces do Rio Grande rendeu música, composta pelo trio Borghetti, Saratt e
Munari, e que ficará como o registro poético dessa verdadeira saga cultural dos
amigos do La Mancha e que foi executada no inicio e no fim do espetáculo:
Parabéns ao
Pessoal do La Mancha por mais este momento inesquecível para a música e a
Cultura de Jaguarão!
Jorge Passos
Publicado na coluna Gente Fronteiriça do jornal Fronteira Meridional em 17/09/2014
A bordo do Sabiá, veleiro com destino de cantor |
Rincão ficou pequeno pra tanta gente que prestigiou o espetáculo |
Prende o Grito, Nós Vai!
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