Pude
apreciar neste 7 de setembro, com a tarde maravilhosa de sol que fez,
alguns desfiles na 27 de Janeiro. Escolas, Programas Sociais,
Projetos Educativos, Bandas marciais, abrilhantaram os festejos.
Este jeito de comemorar a Independência creio que já é patrimônio
cultural de nossa cidade. Peculiar, típico de cidades do interior
onde ainda é prestigiado. A comunidade toda se envolve, tanto os que
vão às ruas para presenciar seus filhos, parentes e amigos
desfilando, como os que participam efetivamente nos cortejos.
Defronte
aos Correios, onde ocorria a Concentração, pude ver um menino
vestido com um uniforme tipo Dragão da Independência, casaco azul,
barretim com penacho branco. Olhei para ele e me vi em 1965, ano no
qual fui convidado a ser, o que muito ainda me orgulha de ostentar em
meu currículo, mascote da Banda Marcial do Colégio e Escola Normal
Imaculada Conceição. E não era qualquer Banda! Era a Primeira
Banda Marcial Feminina do Estado do Rio Grande do Sul formada pelas
alunas do Ginasial e Normal! Eu era do primário, que era mixto.
Apesar
do tempo transcorrido, ainda recordo as repercussões de espanto e
incredulidade quanto ao êxito da proposta que esse ambicioso Projeto
de montar uma banda marcial exclusivamente feminina, idealizado e
bancado pela Irmã Corália, provocou na cidade e no próprio
Colégio. Tratava-se de um grande desafio para as alunas tocar
instrumentos de sopro, clarineta, trompete, pistón e de percussão
mais pesados, que eram tradicionalmente exclusividade masculina.
Faziam parte das primeiras voluntárias para dar inicio ao
aprendizado com o saudoso Professor Rossi, conceituado maestro da
Banda do Exercito, minha prima Maria Rita Campos e sua colega de
ginásio, Ana Luiza Silveira. Depois, por falta de tempo do Rossi e
porque a nossa incansável freira queria intensificar os estudos
musicais de suas meninas, foi contratado um professor da Banda do
Gonzaga de Pelotas que se hospedava na Casa do Maestro Rainha.
Estive conversando com a Rita, ela contou-me que hoje se assombra ao
recordar, como na época, podia tocar com destreza aqueles toques de
reunir, dispersar. O Projeto da Banda Marcial Feminina só pode ser
concretizado pela dedicação total da Irmã Corália. Professora de
matemática, ela era de uma rigidez e cobrança severíssima! Mas
quem estivesse participando da Banda tinha sua proteção. Fazia
vistas grossas para algum errinho de equação. Mas ai da aluna que
errasse um tom no trompete, ou quebrasse o ritmo da batida no surdo!
Em
1966 a Banda do colégio das Freiras já estava no auge. Participou
em Porto Alegre de um concurso de Bandas Marciais sendo premiada nas
primeiras colocações, só ficando atrás da Banda do Colégio São
João, que tinha perto de 160 componentes. Aqui em Jaguarão, havia
forte competição com a Fanfarra do Espírito Santo. Era moeda corrente
que muitos alunos do Colégio Estadual, que depois também foi o meu,
não se conformavam com o sucesso das gurias do Imaculada e num
desfile de 7 de setembro, seguiram atrás da Banda feminina
tentando atrapalhar com o barulho forte de seus tambores (porque
sopros não tinham), as evoluções das meninas. A Corália ficou
brabíssima e na hora, mandou parar de tocar enquanto não se
dispersassem os inimigos. Foi uma verdadeira guerra!
Eu
me saía relativamente bem na minha missão de mascote. Nessa de
Porto Alegre não participei, mas lembro de que fomos numa exibição
da Banda em Melo. Naquela época, ir a Melo, capital de Cerro Largo,
era uma aventura e tanto. Lá ia eu, girando meu bastão de
malabarista, liderando as quarenta belas meninas da Irmã Corália.
Só uma vez passei por apuros na minha exitosa carreira de mascote.
Num arriamento de bandeiras no Largo, posicionei-me arriscadamente
perto demais do bumbo manejado por uma das mais possantes alunas do
Imaculada. Tinha um braço de fazer inveja ao Thor manobrando o
martelo. No momento solene em que se deu inicio ao Hino Nacional, na
introdução épica em que rufam os tambores, na reboleada evolutiva
das baquetas, senti um estouro na minha testa. Aquilo foi como um
raio em céu azul. Atordoei quase chegando a desmaiar. A Corália
lançou-me um olhar desesperado. Mantive a altivez e galhardia apesar
do golpe. Afinal era a honra e a imagem do nosso Colégio que estava
em jogo.
Jorge Passos
Publicado na Coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional em 10/09/2014
Pátio Interno do Colégio Imaculada Conceição |
Um comentário:
Que saudades deste colégio, professoras e colegas da época que estudei aí, fui baliza da banda com a Ana Luiza Mendonça e mais 2
Postar um comentário