Cada
vez passa em minha mente a palavra teatro lembro do Grupo Cênico
Contranestesia que ajudei a criar e onde atuei até 1996. A partir
de 1997 ele parou de atuar, mas quem sabe, volte a brilhar. Por isso
resolvi reescrever este texto.
O
teatro brasileiro, como assim o entendemos, vai surgir no início da
colonização européia com José de Anchieta, numa tradição
medieval. Mas só vai se afirmar como teatro nacional na primeira
metade do séc. XIX. Teve uma renovação a partir de 1922 com a
Semana de Arte Moderna e vai alcançando sua Idade de Ouro no início
da década de 60.
Na
década de 70 (ditadura) o teatro brasileiro passou pela vigilância
da censura militar, assim qualquer trabalho que fizesse pensar sobre
nossa realidade era literalmente excluído. Mesmo assim, neste
período o teatro brasileiro atingiu picos de criatividade que o
lançaram entre os melhores do mundo, por conta justamente de
mostrar na linguagem artística, aquilo que as mentes insanas
poderiam não perceber (tentativa de escapar da censura). Surge aí
peças como "Arena Conta Zumbi (1965) criado por Guarnieri e
Augusto Boal e “Gota D’agua” (1975) de Paulo Fontes e Chico
Buarque. Esta última já fora apresentada em Jaguarão pelo Grupo
Teatro Escola de Pelotas, em 1989.
O
Teatro em Jaguarão começa logo em seguida de nossa elevação a
vila (metade do século XIX) já com o funcionamento de pelo menos
dois teatros que, infelizmente não existem mais. Porém na segunda
metade do século XIX, muitas companhias europeias que vinham para o
Brasil, passavam antes em Montevidéu e de lá entravam em nosso país
por Jaguarão, onde ficavam de um a três meses para acertar o visto
de entrada. Isso fez com que a cidade se mobilizasse para a
construção de um grande Teatro à altura destas companhias. Então,
em 13 de janeiro de 1897 foi inaugurado o nosso Teatro Politheama
Esperança, o 3º mais antigo do Estado, um dos mais antigos do
Brasil (no gênero) e já fora considerado a melhor acústica do país
por alguns críticos. Hoje, depois de ter passado para o poder
público municipal na década de 90, ficou um bom tempo em estado
crítico e esperando um restauro. Só em 2009, através de uma ação
da Secult (Prefeitura) e IPHAN (União) foi dado os passos para a
recuperação deste Patrimônio Histórico tombado pelo Estado, e
hoje pela União (assim como todo o centro histórico da cidade). A
obra de restauro está a todo vapor.
Por Jaguarão passaram vários
atores de renome nacional como Procópio Ferreira e outros. Mas há
gente da terra. E com muito brilho. Cito Arnaldo de Ávila (hoje
atuando em São Paulo) e o pessoal do Gruta, que encenou, entre
outros, a “Paixão de Cristo” nas ruínas da Enfermaria Militar
em abril de 2010 e 2011. Também aqueles que já não estão entre
nós: Álveo Teixeira, Vladimir Ricordi, Volmir Silva, Omar da Costa,
e o nosso Professor Cléo Severino, e outros que, por ventura, me
escaparam neste momento. A estes, meu respeito. O livro “Minha
Terra, Minha Gente” (1994) de Marilú Duarte trás uma nominata
mais completa, referente até à data da obra.
Há
21 anos (1992) havia sido formado o Grupo Cênico Contranestesia da
SIC (Sociedade Independente Cultural) que já montou várias peças,
inclusive ganhando o 1º lugar no VI Festival Gaúcho de Teatro
Amador – Fase Regional (1995) e ficando entre as cinco melhores
peças do Estado, na cidade de Erechim, com a peça “Nuestra
América”, sob a direção de Arnaldo de Ávila e encenada por mim
e pelo próprio Arnaldo. Arnaldo de Ávila se encontra hoje
profissionalizado como ator e atuando na cidade de São Paulo, onde
atualmente reside.
Aproveito
o momento para render minhas homenagens à todos que, muitas vezes
contra a corrente, tiveram a coragem de lutar por sua arte, pela
cultura e consecutivamente pelo ser humano, pois está aí uma das
principais diferenças de nossa espécie dos demais seres vivos: “A
capacidade de pensar sobre si mesmo”, e quando perdemos esta
capacidade, perdemos a noção de vida, perdemos a noção de amor.
A
todos, um bom espetáculo. Aos atores, M.
Carlos
José de Azevedo Machado (Prof. Maninho)
Publicado na Coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional em 25/09/2013
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