Semana passada aconteceu-me algo que a todos desagrada e traz
transtornos. Indo de bicicleta para o trabalho, no meio do trajeto
percebi que meu bolso já não trazia o que deveria trazer. Minha
carteira com documentos pessoais, cartões e alguns trocados. Voltei
rapidamente pelo caminho, mas já não encontrei o que havia perdido.
Como de costume nesses casos, pedi aos meus amigos das rádios para
colocar os avisos correspondentes. Até o momento em que escrevo
esta, de nada tive notícia. Já tomei as providências cabíveis,
bloqueio de cartões, registro do famoso BO, solicitação de segunda
via de documentos. Um pouco trabalhoso, mas conformar-se com os
desígnios da sorte, parece ser o caminho mais adequado.
Porém, essa semana não seria apenas de ocorrências desafortunadas
e de perdas. Caiu-me nas mãos um livro que indico por ser leitura
que, sem dúvida, os agraciará com reflexões de grande sabedoria
sobre a vida e o destino humanos. Trata-se de as Cartas a Lucílio,
do filósofo romano Sêneca. O nome do livro de bolso, editado pela
LPM, é Aprendendo a Viver e traz uma coletânea de 29 textos dentre
os 124 daquela que é considerada a obra prima do filósofo latino e
que foram escritas entre os anos 63 e 65 da nossa era.
Nas cartas a Lucílio, personagem talvez fictício, para conformar o
gênero literário adotado na época, a epístola, a mesma do Novo
Testamento, Sêneca, remetente e ao mesmo tempo destinatário,
escreve sobre os temas que devem proporcionar ao homem uma reflexão
cotidiana a respeito da vida e não de questões vazias. A filosofia
antes de tudo é para ser vivida. Reflexões sobre o tempo, solidão,
velhice, sobre as lamentações, a insaciável busca de bens e
prazeres, a doença, etc. Reflexões com muita sabedoria e
argumentação característica da tradição greco latina.
Neste dia dois de novembro celebramos e reverenciamos a memória dos
antepassados. Diz Sêneca na epístola em que aborda o pesar pelos
amigos falecidos. “ Para mim, o pensamento sobre os amigos
falecidos é doce e brando, pois os tive sabendo que ia perdê-los, e
quando os perdi, era como se ainda os tivesse. (…) Por isso,
desfrutamos avidamente da presença dos amigos, porque não podemos
ter certeza por quanto tempo ainda os teremos. Pensemos que,
frequentemente, os relegamos por alguma longa viagem, ou que, muitas
vezes não os vemos mesmo morando no mesmo lugar, e compreenderemos
que , quando estavam vivos, perdemos muito tempo.(...) Quem amavas
morreu, procura outro para amar. É melhor recuperar um amigo que
chorar. (…) Pensemos pois, querido Lucílio, logo nós também
iremos para onde ele já foi e lamentamos. Talvez, se os sábios
dizem a verdade, se há um lugar que nos recebe, aquele que pensamos
que morreu simplesmente nos precedeu. Passa bem!”
Perdi uma carteira e achei um filósofo. A fortuna me sorriu sem
dúvida!
Jorge Passos
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