sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Achados e Perdidos

 Semana passada aconteceu-me algo que a todos desagrada e traz transtornos. Indo de bicicleta para o trabalho, no meio do trajeto percebi que meu bolso já não trazia o que deveria trazer. Minha carteira com documentos pessoais, cartões e alguns trocados. Voltei rapidamente pelo caminho, mas já não encontrei o que havia perdido. Como de costume nesses casos, pedi aos meus amigos das rádios para colocar os avisos correspondentes. Até o momento em que escrevo esta, de nada tive notícia. Já tomei as providências cabíveis, bloqueio de cartões, registro do famoso BO, solicitação de segunda via de documentos. Um pouco trabalhoso, mas conformar-se com os desígnios da sorte, parece ser o caminho mais adequado.

Porém, essa semana não seria apenas de ocorrências desafortunadas e de perdas. Caiu-me nas mãos um livro que indico por ser leitura que, sem dúvida, os agraciará com reflexões de grande sabedoria sobre a vida e o destino humanos. Trata-se de as Cartas a Lucílio, do filósofo romano Sêneca. O nome do livro de bolso, editado pela LPM, é Aprendendo a Viver e traz uma coletânea de 29 textos dentre os 124 daquela que é considerada a obra prima do filósofo latino e que foram escritas entre os anos 63 e 65 da nossa era.

Nas cartas a Lucílio, personagem talvez fictício, para conformar o gênero literário adotado na época, a epístola, a mesma do Novo Testamento, Sêneca, remetente e ao mesmo tempo destinatário, escreve sobre os temas que devem proporcionar ao homem uma reflexão cotidiana a respeito da vida e não de questões vazias. A filosofia antes de tudo é para ser vivida. Reflexões sobre o tempo, solidão, velhice, sobre as lamentações, a insaciável busca de bens e prazeres, a doença, etc. Reflexões com muita sabedoria e argumentação característica da tradição greco latina.

Neste dia dois de novembro celebramos e reverenciamos a memória dos antepassados. Diz Sêneca na epístola em que aborda o pesar pelos amigos falecidos. “ Para mim, o pensamento sobre os amigos falecidos é doce e brando, pois os tive sabendo que ia perdê-los, e quando os perdi, era como se ainda os tivesse. (…) Por isso, desfrutamos avidamente da presença dos amigos, porque não podemos ter certeza por quanto tempo ainda os teremos. Pensemos que, frequentemente, os relegamos por alguma longa viagem, ou que, muitas vezes não os vemos mesmo morando no mesmo lugar, e compreenderemos que , quando estavam vivos, perdemos muito tempo.(...) Quem amavas morreu, procura outro para amar. É melhor recuperar um amigo que chorar. (…) Pensemos pois, querido Lucílio, logo nós também iremos para onde ele já foi e lamentamos. Talvez, se os sábios dizem a verdade, se há um lugar que nos recebe, aquele que pensamos que morreu simplesmente nos precedeu. Passa bem!”

Perdi uma carteira e achei um filósofo. A fortuna me sorriu sem dúvida!

Jorge Passos

Publicado na Coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional  em 30/10/2013


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