Trabalhar
com a lógica as vezes nos traz algumas informações bem legais. Num
conjunto de 15 cães, 3 são ferozes e maldosos (faz de conta que um
cão tem esta característica). Posso dizer que todo o conjunto é
feroz e maldoso? Não, seria uma sacanagem com os 12, que inclusive
são maioria. E se dizer que todos não são ferozes e maldosos?
Também seria sacanagem com os demais de fora, além de acobertar os
ferozes e maldosos. A lógica é clara (e usamos em vários
conhecimentos, muito comum na matemática). "Alguns não são
todos, e todos não são alguns". Quando damos aulas aos alunos
do Ensino Fundamental e Médio, é comum, às vezes, colegas
comentarem sobre determinada turma, em função de alguns alunos
"bagunceiros". Tipo, "aquela turma não dá pra
trabalhar", "é horrível". Pronto, transformamos o
"alguns no todo". E isto é ruim pra quem? Para aquela
maioria que não era "horrível" como se propagava com este
discurso, mas pagava o pato.
O objetivo aqui não é tratar de como
os professores devem agir numa situação destas, mas demonstrar
como, por falta de uma compreensão elementar de lógica, sacaneia-se
muitas pessoas de bem. O senso comum, apesar de ser por onde devemos
começar uma análise, é provido de vários preconceitos (conceitos
prévios, não provados, portanto não verdadeiros). E também por
operações lógicas desatentas. Uma delas é justamente esta:
Confundir Alguns com Todos, e Todos com alguns.
Hoje,
e de muitos anos, pois já abordava isto lá pelos idos de 1989, no
campo da política, há grupos de pessoas alicerçadas por grupos de
Mídia (TV, Rádio, Jornal), que alimentam esta terrível
argumentação totalmente desprovida de lógica. Vejamos: quando
algumas pessoas (políticos) se corrompem, e como é possível
corromper individualmente, não há necessidade do todo, no caso os
partidos. Estes apenas tem suas Comissões de Ética para tratar do
assunto e suas propostas e bandeiras, que é onde as pessoas poderiam
e deveriam estabelecer os debates, defendendo ou combatendo (ideias)
de um lado ou outro.
Assim,
se uma agremiação tiver milhares de membros, e 5 ou 8 forem
corrompidos ou corruptores, eu posso dizer que "Alguns são
todos". Da mesma forma não. Assim, apenas estaremos sacaneando
os corretos, e ainda ajudando os corruptos a se esconderem no meio de
todos. Por isso não gosto destas generalizações, que a própria
lógica demonstra, não resolvem o problema. Neste caso, teríamos
que verificar onde estão as situações mais propícias para a
corrupção. Uma delas está bem clara. Financiamento privado por
grandes grupos econômicos a candidatos, que eleitos, estão sujeitos
a defenderem os interesses destes grupos (até aí, ainda não se
configura exatamente a corrupção, mas a opção de lado). Mas em
determinado momento em que estas empresas tem interesses em
licitações por exemplo, aí sim, percebemos como funciona o causo.
E uma vez investigados nomes que, por ventura, possam estar
envolvidos, e uma vez comprovados, será que podemos concluir que
"Todos são Alguns".
Esta noção do senso comum, muito
apreciada e difundida justamente por grupos econômicos que operam
com a corrupção, ajuda em muito a manter os corruptos quase a
salvo, no meio de todo o conjunto. Enquanto não aprendermos a dar
nome aos bois, de todos os lados, e evitar generalizar para todo o
conjunto, também se estará ajudando os corruptos. O importante na
política é debater os projetos, sem preconceitos ou lógicas
falsas. Defender isto ou combater isto, por conta disso e disso.
Pressionar o governo tal para encaminhar tal projeto. De outra forma,
ajudar-se-á a manter a situação como está. Em muitas
manifestações pairou o senso comum principalmente através da Rede
Globo, já que a Reforma Política praticamente não foi apresentada
como tema fundamental, porém a ideia de que "Alguns são
todos", sim, é o que mais percebi, e pior, de um lado só. Além
da falsa lógica que ajuda a corrupção, ainda tem a parcialidade.
Carlos José de A. Machado
Publicado na Coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional em 18/03/2015
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