sábado, 21 de março de 2015

AS “JUSTIÇAS” BRASILEIRAS


Que o Brasil é um país politicamente singular nenhum brasileiro tem dúvida. O que pode variar é a maneira como cada um argumenta para concordar com a afirmativa. Há justificativas para todos os gostos, desde a extrema esquerda até a extrema direita. Neste último caso estamos procurando quem assuma essa condição, embora se saiba que seus adeptos são numerosos. Ninguém quer ser direitista, no Brasil.

Quis iniciar com a afirmativa acima para justificar que também reconheço a existência de peculiaridades “inexplicáveis” em todos os campos do relacionamento da comunidade com as lideranças responsáveis pela condução do País e, mais importante ainda, daqueles organismos que têm o compromisso de servir de elo de ligação confiável entre governo e sociedade, mais comumente designada como “mídia” (aportuguesando), seja ela falada, escrita ou televisionada e todas demais que tenham a faculdade de lidar, diretamente ou indiretamente, com as questões de opinião pública.

Grosso modo poderia dizer-se que temos “três justiças” no Brasil, todas elas com suas causas e consequências inerentes à responsabilidade com que cada uma é aplicada ou faz produzir seus efeitos. A primeira, lógico, é a “justiça oficial” que, definida pela nossa Constituição é exercida através de seus inúmeros organismos estatais, obedecendo às regras estabelecidas em lei. De um  modo geral funciona razoavelmente bem não fora reconhecidamente lerda. Como toda iniciativa humana, comete suas falhas. Sobre ela, assim se referiu nosso mais ilustre sábio, Ruy Barbosa: “Justiça que tarda não é justiça”. Isso, talvez, tivesse servido para a época em que foi feita a declaração. É uma discussão para outro espaço.

A segunda justiça é a da sociedade. Levados, às vezes, pelos mais estranhos motivos, os cidadãos, geralmente reunidos em um grupo ocasional, tomam a deliberação de decretar que determinada pessoa é culpada de um crime baseados apenas em pequenos indícios mesmo sem qualquer comprovação concreta. É o tipo de justiça que nos transforma em seres incapacitados de pensar racionalmente e pode ocasionar, inclusive, a prática da pena capital – até de forma bárbara -, como ocorreu recentemente (No Estado do Paraná, se não me falha a memória) e ocasionou a morte de uma pessoa por espancamento sob suspeita de um crime que, depois, foi concluído que não havia de fato cometido.

A terceira justiça é a praticada pela mídia. Embora não venha implicar uma pena capital em sua ação, é a mais devastadora delas pelo número de pessoas que pode atingir com uma simples citação. Tão logo um crime é trazido ao conhecimento da opinião pública pelos responsáveis pela investigação, mesmo que ainda não exista qualquer decisão judicial os nossos comunicadores já escolhem a “quem” culpar. A partir daí já podem começar a atribuir uma infinidade de irregularidades que passam a manchetear em caixa alta em jornais ou até em especiais de TV. Se o denunciado é uma personalidade no meio político as suas mazelas passam a dominar o noticiário e os principais âncoras fazem citações quotidianas sob qualquer pretexto, reforçando sua “condenação”. Alguém poderia perguntar: “Mas, e se o denunciado for absolvido em todas as instâncias?”. A resposta vem da forma mais sem compromisso possível: “Bem, ele não é culpado, mas poderia ser, não é? Desculpem a nossa falha...”

Só para não deixar a afirmativa sem ao menos algum exemplo, basta rememorarmos casos que tiveram grande repercussão entre os muitos que já ocorreram nos mais diversos meios de comunicação. Quem não lembra dos episódios “Ministro Alceni Guerra”, e dos professores da “Escola de Base de Brasília”?. Todos “condenados” pela mídia e, depois, inocentados pela justiça oficial. E há, também, um que atingiu diretamente os gaúchos. Quem não sabe que um de nossos deputados federais foi lançado à execração pública e acabou perdendo seu mandato? Uma revista semanal de circulação nacional “confundiu” cem dólares com cem mil dólares e não quis voltar atrás porque as suas revista já haviam sido impressas? Recentemente, a mesma revista teve um de seus diretores envolvido com o doleiro do caso Senador Demóstenes/Carlos Cachoeira, só que a única menção que ela fez sobre o fato foi a de que os duzentos contatos telefônicos feitos, pelo jornalista, com o doleiro eram por motivos “profissionais”.

Na verdade, o objetivo principal deste artigo é lançar um alerta para o que está ocorrendo em relação à divulgação de diversos problemas que o País vem enfrentando, sejam eles econômicos ou políticos. A grande mídia oligopólica, a serviço da direita e da elite brasileira, está cerrando fileiras na busca de um impedimento da Presidenta e, para tanto, qualquer meio é válido para atingir seu objetivo. É necessário que cada brasileiro, antes de tomar qualquer posição, faça uma análise profunda da situação não se deixando levar pela massificação da ideia de que tudo no Brasil se tornou um caos. Não sou defensor incondicional de tudo o que o Governo vem fazendo. Acredito que há muitas falhas, mas não vou incorrer na leviandade de querer contribuir para a instalação de um quadro reacionário, a serviço de interesses que não são os da população menos favorecida, mas, apenas, concorrerá para a manutenção de benesses seculares que uma parcela reduzida de privilegiados continua a desfrutar.
 
Wenceslau Gonçalves
 
Publicado na Coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional em 11/03/2015

 

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