A
jornalista paraibana Rachel Sherazade, apresentadora do SBT, vem
despertando paixão e repulsa. Não que isso pareça incomodá-la.
Absolutamente. No gênero Bolsonaro News, ela é top-midia e parece
realizada. Não está onde está gratuitamente. Sua credencial é o
que defende e o que difunde. Serve a uma corrente ideológica muito
bem definida. Representa as maquiagens de uma tribo ressentida e
amargurada com a persistência democrática. Afinal, o Brasil elegeu
um operário presidente e depois uma ex-prisioneira política. Não
que isso tenha transformado profundamente a cultura dominante. Se
assim fosse, estaríamos punindo os barões do crime muito antes de
acorrentar adolescentes negros e pobres, acusados de pequenos furtos.
Mas, a elite nunca engoliu isso.
Em 2014
teremos eleição. A violência será pautada com o cinismo de
sempre. Pouco se falará do assassinato de mulheres. Menos ainda, da
violência cotidiana dos machos em alguns lares. A banalização
midiática encobrirá a erotização da infância e a pedofilia. Os
debates não pautarão os assassinatos por homofobia ou racismo.
Pouco se falará do extermínio de jovens negros nas periferias. A
direita clássica irá se reportar ao adolescente pobre que rouba o
celular, o tablet ou a bolsa da classe média. Não vamos nos iludir.
Em 2014, mais uma vez, a verdade terá morte súbita. As ideias sobre
Educação e Saúde públicas, salvo as exceções, serão velhos
engodos. Fatos corriqueiros nas grandes cidades serão pinçados e
mais uma vez a redução da maioridade penal revelará o rosto e o
discurso de uma direita que odeia e combate a diversidade humana.
Os
candidatos conservadores deveriam topar os inúmeros debates
convocados pelos movimentos sociais. Deveriam realmente nos convencer
que o problema da violência é tão banal que basta criminalizar a
infância e tudo se resolverá. Todavia, duvido muito. Não
resistiriam uma discussão mais densa. Por isso, insistem na mentira,
ancorados na manipulação da opinião pública. Principalmente
porque uma coisa é certa: a punição sequencial da maioria pobre e
negra não é problema. Mas, os delinquentes de classe média
continuam um brindando em ‘habeas-cópus’.
Todavia,
é a impunidade como forma de dominação que precisa ser debatida.
Punir quem já é punido desde o nascimento é fácil. Outro dia ouvi
a poeta e filósofa Viviane Mosé dizer que atualmente, em nosso
país, basta alguém levantar a mão e dizer algo em nome da verdade
e já consegue adeptos. É a Síndrome de Sherazade! Estamos à beira
do fascismo. Quem não for contido pela reflexão, será engolido
pelo obscurantismo. Pensar nunca pesou no bolso. Mas, pode fazer
estragos na consciência.
Lau
Siqueira
lau-siqueira.blogspot.com.br
Publicado na Coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional em 12/03/2014
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