Renegada, camisa canarinho hoje orgulha criador: "Símbolo nacional"
Aldyr
Schlee com a criação que desdenhou por mais de 50 anos
(Foto:
Gilberto Perin/Divulgação)
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Exposição em Porto Alegre relembra o feito do gaúcho Aldyr Garcia Schlee, que criou a camisa canarinho em 1953, após o Maracanazo
Aos 79 anos, Aldyr Garcia Schlee finalmente
reconhece o feito que conseguiu aos 19 anos de idade. O gaúcho de
Jaguarão é o criador do icônico uniforme da seleção brasileira:
camisa amarela com detalhes em verde, calção azul e meias brancas,
apresentado ao mundo pela primeira vez em 20 de janeiro de 1954.
Nesses 60 anos, a camisa canarinho virou sinônimo de futebol e um
dos maiores símbolos nacionais, mas por pelo menos cinco décadas
foi praticamente renegada por seu criador.
Camisa
canarinho da década de 60 igual ao modelo original
(Foto: Vinícius
Guerreiro/GloboEsporte.com)
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Eu nunca dei muita importância para essa
criação. Recentemente que fui convencido da importância. Me
orgulha ter colocado as cores da bandeira nacional no uniforme -
discursou Schlee na abertura da exposição “The Beautiful Game: O
Reino da Camisa Canarinho”, aberta ao público na noite de
terça-feira, em Porto Alegre.
Quem não conhece a
história deste escritor, jornalista, desenhista e professor pode
estranhar a postura do idealizador de um dos maiores símbolos do
Brasil. Schlee era um garoto quando começou a trabalhar em jornais
ilustrando gols de partidas de futebol. Aos 19 anos, resolveu
participar de um concurso feito pelo jornal carioca “Correio da
Manhã”, que escolheu o novo uniforme do Brasil em 1953. A ideia
era substituir a camisa branca do trágico Maracanazo.
Schlee
recebe cumprimentos na inauguração da exposição
(Foto: Vinícius
Guerreiro/GE)
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- Na verdade eu era
muito jovem quando ganhei esse concurso, há 60 anos, mas há 50 anos
eu não desenho mais profissionalmente. A maior parte destes anos eu
me dediquei ao magistério e à literatura, que são sempre coisas
muito importante na minha vida. Eu coloquei a camisa canarinho num
plano secundário – admitiu.
Foi um inglês que começou a
convencer o criador da camisa canarinho da relevância do feito que
ele realizou há 60 anos. Há alguns anos, Schlee foi procurado pelo
escritor britânico Alex Bellos, autor do livro “Futebol soccer,
the brazilian way”, que traz na capa um dos esboços do gaúcho
para o uniforme da seleção.
- Na medida que eu fui
convencido pelo Alex Bellos de que eu tinha criado um símbolo
nacional, isso em um jogo entre Brasil e Uruguai em Montevidéu, eu
tive que assumir essa condição. Hoje realmente eu vejo a
importância que isso teve. Não pela qualidade do desenho, já que
ela se tornou um símbolo nacional pelos craques que fizeram história
e consagraram o uniforme.
Esboços
inéditos da camisa da seleção brasileira feita por Schlee em 1953
(Foto: Vinícius Guerreiro/Globoesporte.com)
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Se deixava em segundo plano a criação da camisa
canarinho, Schlee tem bem claro que a imaginação usada para
desenhar os gols quando era jovem tem um fator importante no universo
literário que criou no decorrer dos anos. Na época, a Copa do Mundo
não era transmitida pela televisão, mas sim pelo rádio.
-
Imagina que em 50 eu desenhei todos os gols da Copa a partir do
rádio. Ouvindo as partidas, contadas através da Rádio Sarandi, de
Montevidéu, pelo locutor Carlos Solé. Esses desenhos me fizeram
exercitar minha imaginação para criar o meu pequeno mundo literário
fictício.
A exposição
Aberta nesta terça-feira, a exposição The
Beautifil Game: O Reino da Camisa Canarinho ficará até o dia 15 de
julho no Memorial do Rio Grande do Sul, na Praça da Alfândega.
Cerca de 390 pessoas estiveram presentes na inauguração, um número
bem elevado segundo a diretoria do Memorial. O projeto foi idealizado
pelo historiador José Francisco Alves e conta com a participação
de outros 10 artistas, além Schlee.
- Percebi que havia
essa lacuna na história fantástica da criação plástica da camisa
canarinha. Que foi feita por um jovem artista do Rio Grande do Sul.
Essa história precisava ser contada por meio de exposição -
afirmou o curador.
Esboço
original da camisa canarinho feito por Aldyr Schlee
(Foto: Vinícius
Guerreiro/Globoesporte.com)
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A exposição apresenta os esboços feito
por Schlee, alguns exibidos pela primeira vez, modelos de camisas
utilizados pela seleção brasileira, reportagens feitas com o
próprio criador ao longo dos anos e os desenhos dos gols que o jovem
jaguarense fazia para os jornais há 60 anos. O amplo acervo agradou
ao público que esteve presente na inauguração do evento. Entre os
itens que mais chamaram a atenção estão os “álbuns” de várias
Copas do Mundo desenhado por Schlee.
- E o mais bonito, com
toda a modéstia, é o deste ano que está prontinho. Tem os dois
uniformes de todas as seleções – revelou Schlee sobre a obra
ainda inédita.
Além dos trabalhos de Aldyr, há diversas
obras espalhadas pelo salão. A maioria de artistas gaúchos.
-
A partir da arte podemos resgatar a história social do futebol. Há
vários elementos e metáforas. A linguagem que facilita uma relação
muito grande com a comunidade. Por isso chamou bastante a atenção –
disse o diretor do museu, Márcio Tavares.
Fonte: http://globoesporte.globo.com
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