Prof.
Carlos José de Azevedo Machado (Maninho)
Mestrando
em Memória Social e Patrimônio Cultural/ICH/UFPEL
Em abril de 2009, quarto mês da gestão da Secretaria de Cultura,
onde tive o privilégio de estar no comando de uma excelente equipe
por 19 meses, organizou-se o Fórum do Patrimônio Histórico e
Cultural de Jaguarão que aconteceu de 01 a 04 de abril daquele ano.
A ideia surgiu nos primeiros dias de janeiro, quando nos fizemos a
seguinte pergunta: E agora "cara pálidas"? pergunta
feita em relação ao quê fazer com o Patrimônio histórico
cultural desta cidade, o qual tem um significado enorme, e
encontrava-se em processo de deteriorização e/ou um aparente
esquecimento de sua importância. Antes, levantávamos as bandeiras
como ativistas ou professores, mas não havia um sinal firme e
afirmativo por parte dos poderes públicos da cidade em partir para
uma prática mais consistente. Mas agora a coisa era conosco.
Então, fomos à obra. Em contato com o Iphan1,
através da presidente da regional Sul, Arquiteta Ana Lúcia Meira,
fizemos as primeiras conversas. Sentimos a vontade e o desejo por
parte daquele órgão, e em especial da Ana Meira, em trabalhar com
esta cidade. Então construímos este Fórum com participação de
gestores da região e integrantes do Iphan de Brasília e da região
sul. Até chegarmos ao evento, já havíamos construído uma
parceria com a Unipampa-campus Jaguarão, através da então
diretora Profª Maria de Fátima Bento Ribeiro, a qual teve uma
grande importância nesta caminhada.
Construído
esta etapa, descobrimos de antemão da necessidade do Iphan em
escolher um local para sediar o chamado Centro de Interpretação do
Pampa. Assim o Fórum, além de colocar Jaguarão no mapa deste
órgão, serviu para consolidar a cidade, em especial, as ruínas da
Enfermaria Militar, no alto do cerro da Pólvora, como o local ideal
para o Centro. Além disto, garantiu a vontade política do Iphan
de abraçar a primeira fase do Teatro Esperança, hoje já no
processo final da segunda fase.
Fórum |
O Fórum consistiu em vários painéis com experiências de outras
cidades como Bagé e Rio Grande. Apresentou-se o projeto de Restauro
do Teatro Esperança, através do Arquiteto William Pavão além de
vários painéis com professores e especialistas da área2.
A mim foi solicitado a apresentação dos Projetos Jaguar (inicio da
década de 80) e Jaguararte (Projeto da SIC3,
colocado em prática no início dos anos 90).
Com presença de
alunos de uma escola municipal além das autoridades e convidados, aproveitei para colocar o desafio de envolver toda a
comunidade com este tema, uma vez que sem isto, não haverá
compromisso nem paixão para proteger seu patrimônio histórico e
cultural, até porque muitos não o enxergarão como seu.
Dos resultados do encontro, talvez um dos mais visíveis, aconteceu
em uma reunião fora da programação, numa pequena sala do
histórico prédio da Casa de Cultura. Nele estavam presentes além
de mim e o prof. Alan de Mello4,
(pela Secult5),
Maria de Fátima B. Ribeiro (diretora da Unipampa), Profª Maria
Beatriz Luce (então reitora da Unipampa), Ana Lucia Meira (Iphan)
e, se a memória não me falha, Beatriz Muniz Freire (historiadora do
Minc). Na ocasião selamos a ideia do Centro de Interpretação do
Pampa no local onde se encontravam as ruínas da Enfermaria Militar
de Jaguarão. Mais do que isto, garantimos que a gestão seria
feita pela Unipampa. Esta ideia já vinha sendo amadurecida,
partindo de uma premissa básica: As Administrações Municipais
tem uma rotina de mudanças mais rápidas, onde muitos projetos não
gozam de continuidade por falta de vontade política entre uma gestão
e outra. Já nas universidades, apesar de possibilidades de mudanças
políticas no governo central, elas gozam de uma estabilidade muito
maior. Isto garantiria que o CIP6
seguisse seus passos independente do "humor" das gestões
do município. Além do próprio custo de manutenção que seria
quase impossível para um município com pouco mais de 30 mil
habitantes.
Este
pequeno artigo tem dois intuitos: Um é ajudar a entender um pouco
de como se chegou a escolha do local do CIP na cidade de Jaguarão,
haja vista que poderia ser em qualquer outra cidade do pampa. E
outro é o de ajudar a entender o como é importante pensar e
planejar o lugar onde queremos chegar, buscando parcerias positivas
para que as coisas aconteçam. Este Fórum é um bom exemplo, mas
obviamente que foi um processo que não se resumiu aos 4 dias que ele
ocorreu. Por fim, o Seminário Internacional do Bioma Pampa em
setembro de 2009, também discutido no Fórum, a criação da
Associação das Cidades Histórica do Rio Grande do Sul (2009), o
tombamento nacional do Centro Histórico em 2011, a escolha de 11
projetos de restauro no PAC das Cidades Históricas em 2013,
possibilitando 40 milhões para estas obras, são exemplos de que
quando pessoas interessadas na formação de uma amanhã melhor, se
encontram nos lugares certos, com certeza vão pensar e elaborar
projetos que abrirão novos horizontes, no caso do município de
Jaguarão, talvez a abertura de um processo maior o qual chamo de
Renascer Jaguarense.
1
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
2
Entre outros podemos citar: Professores Fábio Vergara Cerqueira,
Ester Judite Bendjouva Gutierrez e Ana Lucia Costa de Oliveira
(UFPEL), Roséli Safons (então Secretária de Cultura de Bagé),
Robsom Almeida (na época, pelo Projeto Monumenta), Aldyr Garcia
Schlee (escritor) e Prof. Andrey Rosenthal Schelle (Universidade de
Brasília).
3
Sociedade Independente Cultural, fundada em 16 de fevereiro de 1987.
4 Mestre em Memória Social e Patrimônio
Cultural (UFPel), na época Diretor do Patrimônio Histórico, e
parceiro fundamental na idealização deste evento. Atualmente é
Professor da Unipampa.
5 Secretaria Municipal de Cultura e
Turismo de Jaguarão.
6 Centro de Interpretação do Pampa
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