Sempre
que venho a Jaguarão e tenho tempo disponível, dou uma caminhada
sem rumo pela cidade. Transito de preferência pelas ruas menos
movimentadas, só ou bem acompanhado. Aproveito, nessas relembranças,
para desafiar a saudade que, no túnel do tempo, me joga ao passado -
e lá vão algumas décadas. Com isso retorno a alguns caminhos que
pisei com os mesmo pés que tenho hoje, mas olhei com outros olhos:
os de quem apenas começava a pensar em trilhar outras sendas deste
mundão danado de grande para a cabeça do guri de cidadezinha. Neste
transitar pelo passado, vou recordando coisas que me trazem alegria
ou mexem em cinzas do que não gostaria de lembrar.
Mas
não tinha intenção de falar de mim. Quero falar da cidade.
Confesso que uso um truque contextual - digamos assim - para criar um
clima de Jaguarão do passado. Em uma conversa, quando me refiro a
algum local, falo como se tivesse voltado no tempo. Quando explico
alguma coisa, digo "Ali no centro, defronte à Farmácia
Graciliano". Ou, "Perto da Miscelânea". Ou, "bem
pertinho da Confeitaria São José". Desse jeito vou trazendo um
pouco da história da cidade para a rememoração daquilo que foi uma
referência que todos conheciam.
Em
matéria de saudosismo e competência para transferir para a escrita
a história do quotidiano da cidade, meu amigo José Alberto de Souza
é a lembrança perfeita. Quem já leu qualquer de seus livros sabe
do que estou falando. Quase a totalidade de sua obra conhecida,
refere-se a sua vivência na Jaguarão que sempre leva no peito,
embora permaneça distante dela. Já disse no meu blogue que ele é
"meu saudosista predileto" e meu parceiro de papos e
reminiscências jaguarenses em longas tardes porto-alegrenses em
torno de xícaras de cafezinho já vazias ou taças de bom vinho
tinto.
Há
poucos dias, em um destes meus passeios, chamei a atenção de minha
companheira para o fato de que Jaguarão é uma bela cidade com
muitas coisas para mostrar aos visitantes, mas é uma cidade
melancólica (De momento não acho outro termo apropriado). Chegamos
à conclusão de que "a cidade das belas portas não abre suas
janelas", como se as casas não fossem habitadas.
Nessas
minhas relembranças e fantasias gosto de imaginar que, um dia, nossa
cidade vai apresentar-se também cheia de cores, adornada das mais
variadas flores e, então, nós e os nossos visitantes vão ser
cativados pela beleza natural que lhe estaremos proporcionando. Falei
desse meu sentimento com o Cléber Carvalho (também um companheiro
de muitas digressões em meus dias jaguarenses) mas ele não me
acompanha nessa ideia. Entendo que a cidade serrana tem um pensamento
coletivo mais aperfeiçoado do que o nosso, porém, também tenho a
esperança - quase uma convicção - de que essa fase de integração
ao mundo cultural porquê passa Jaguarão (por motivos vários) deve
conduzir-nos a uma mudança de comportamento. Isso nos há de trazer
uma nova mentalidade que terá preocupações com a estética como
forma de transmitir uma melhor acolhida aos que chegam aqui
procurando nossas características próprias.
Eu
passarei. Nós passaremos. Jaguarão permanecerá, acompanhando o
tempo, mas guardando a nostalgia de uma antiga povoação com seus
traços coloniais cheios de mensagens dos que aqui estiveram antes de
nós. Nosso compromisso deve ser conservá-las para aqueles que
vierem depois de nós.
Wenceslau
Gonçalves
Publicado na coluna Gente Fronteiriça do jornal Fronteira Meridional em 09/07/2014
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