É tempo de Copa do Mundo e me ponho a
reflexionar em cima de minhas lembranças sobre esse evento. Sinceramente, para mim
esse certame já acabou em 1970 com a conquista definitiva pelo Brasil da Taça
Jules Rimet, aquela mesma que foi roubada da sede da CBF e sumariamente
derretida pelos larápios. Embora discutível, era minha opinião que nosso país
passasse a ocupar uma posição de “hors concours”, dando oportunidade a que
outros também chegassem ao tricampeonato e se habilitassem a uma disputa com
nossa seleção canarinho. Mas reconheço que, se assim fosse, estaria se privando
às novas gerações o gostinho de levantar mais um caneco.
Apesar dessa minha divergência, nunca
deixei de acompanhar o desempenho de nossos atletas nas competições de futebol.
E o que tenho visto nas últimas Copas não chega a me entusiasmar face o
acentuado declínio técnico dos participantes em geral, a maioria dependendo da
genialidade do principal jogador de sua equipe. Isso que são regiamente
remunerados para exercer uma honrosa função. Nosso selecionado está ai todo
enxertado de jogadores que atuam no Exterior, à exceção de alguns poucos
oriundos de quadros nacionais, classificando-se a duras penas (e até com ajuda
da arbitragem) numa das chaves mais fáceis da atual Copa do Mundo. Haja
tremedeira...
Até algum tempo atrás, ainda guardava como
relíquia uma edição extra de “A Noite Ilustrada” que circulou na véspera da
decisão de 1950 entre Brasil e Uruguai, tendo estampada na capa em letras
garrafais a manchete “BRASIL CAMPEÃO DO MUNDO” em flagrante desrespeito ao
adversário. Favas contadas, vivia-se um clima de oba-oba, todo mundo querendo
tirar casquinha em cima de nossos craques, que assim viam aumentar sua
ansiedade em relação ao jogo. Preservação da equipe, nem pensar, até tiveram
que aguentar, por imposição do técnico Flávio Costa, uma missa de mais de uma
hora de duração, rezando em pé. A politicagem imperava sobre o grupo.
No lado uruguaio, alguns dirigentes só
queriam não perder de goleada, o empate já estava de bom tamanho, com o que se
rebelou “El Capitán” Obdulio Varela, comandando a reação sobre nossa vantagem
de empate de 0x0 do primeiro tempo, já no intervalo da partida, dentro dos
vestiários. Um “maracanazo” que calou as vozes daquelas inoportunas
provocações, sepultando as esperanças de milhões de brasileiros. Porém, esses
“futurólogos” ufanistas não foram capazes de assumir seu equívoco perante a
opinião pública e descarregaram toda sua irresponsabilidade ao buscar algum
“bode expiatório” pelo ocorrido, crucificando de forma desumana Barbosa e
Bigode.
Recém tinha nascido para o futebol e
comecei adorar aqueles ídolos fantásticos como Barbosa(V), Augusto(V),
Juvenal(Fa), Bauer(SP), Danilo(V), Bigode(Fa), Friaça(SP), Zizinho(Ba),
Ademir(V), Jair(P) e Chico(V), além daqueles grandes coadjuvantes Castilho(Fu),
Nilton Santos(Bo), Nena(I), Eli(V), Rui(SP), Noronha(SP), Alfredo II(V),
Maneca(V), Baltazar(C), Adãozinho(I) e Rodrigues(P). Quer dizer, dois craques
em cada posição para dar e vender, não tinha erro. Mas faltou humildade para os
líderes das classes dirigentes do país, que contaminaram com a sua
imprevidência toda estrutura montada para aquele desfecho mais favorável,
coroando a melhor campanha da nossa seleção em toda a Copa de 1950.
Parecia um jogo jogado, ninguém se dava
conta que os uruguaios entravam em campo de sangue doce, era nossa a obrigação
de vencer. Uma tremenda sobrecarga emocional pairava sobre o elenco brasileiro.
Mesmo assim, já aos 2 minutos, Friaça abria o placar com nosso tento de honra.
Esta foi a gota d’água que transbordou o copo do orgulho “celeste”.
Anunciava-se uma enfiada, jamais admitida por “Dom” Obdulio que correu rápido
para apanhar a bola no fundo das redes, voltando logo ao meio de campo para
repô-la em jogo, e aos berros incitando seus companheiros “vamos a ganar, a
ganar ese partido!”
José Alberto de Souza
Publicado na Coluna Gente fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional em 02/07/2014
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