sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

OS INFERNAUTAS

Reconheço que não são conhecidos com esse nome porque assumiram a forma humana e se fazem chamar pelos nomes mais comuns, conforme o lugar em que estão. Eles, hoje, são em número considerável e seu habitat é, praticamente, o mundo. Até hoje vi muito pouca coisa que coíba suas ações cada vez mais nefastas para os seres que habitam o nosso planeta. Naqueles países onde há mais controle social, eles têm mais dificuldade em disseminarem suas infernices, mas, mesmo assim, agem, embora com menos intensidade.

Os infernautas intensificam suas ações nos períodos em que as pessoas estão mais predispostas à tolerância, que, no caso brasileiro, são, principalmente, os dias dedicados às férias, que ocorrem geralmente no verão, em locais onde as pessoas pretendem descansar sem preocupações que as afligem durante o ano, como trabalho, escola, pagamento de prestações, etc.. Durante as outras estações do ano, eles atuam mais discretamente mas, igualmente, não deixam de agir. Naqueles países onde suas ações nefastas são mais controladas eles tem mais dificuldade em disseminarem suas infernices.

O pouco que sei deles é que foram criados por um poderoso cientista habitante de um planeta muito mais adiantado do que a nosso com a finalidade de destruir os habitantes de um determinado planeta inimigo. Eles foram mandados para lá de forma disfarçada e acabaram destruindo aquela civilização à força de terem enlouquecido os habitantes do planeta. Na verdade, o método que aplicaram foi de infernizar a vida deles até que os próprios acabavam se suicidando porque não suportavam mais viverem com a presença deles. A verdadeira missão deles era, na verdade, a de “infernizar” a vida daquelas pessoas até conduzi-las à morte por uma espécie de enlouquecimento induzido. Daí o nome “infernautas”, que lhe foram aplicados pelos policiais interplanetários encarregados de capturá-los. O objetivo foi conseguido após alguns anos. O que aconteceu, então, é que, logo após esse fato, o criador deles perdeu o controle sobre eles por uma falha do sistema e eles abandonaram aquele planeta e se dispersaram, sem qualquer controle, por toda nossa galáxia. Alguns deles vieram parar na Terra e, aqui, devido a terem encontrado boas condições acabaram se multiplicando em grande proporção. O risco é maior porque eles têm uma grande capacidade de reprodução, isto é, a cada ano aumenta seu número e, portanto, cada vez será mais difícil exterminá-los.

Para que possam identificá-los melhor e saberem que precisam tomar alguma providência senão podem acabar tendo o mesmo destino da civilização extinta naquele planeta, vou descrever alguns comportamentos que eles assumem quando estão travestidos de humanos. Gostam de escutar música bem alta (o maior volume possível de um aparelho potente) e, de preferência, um som repetitivo e monótono. Às vezes a letra é praticamente inaudível porque, normalmente, é em língua diferente do país em que estão infernizando. São capazes de escutarem a mesma música desde que se levantam até a hora em que caem na cama (literalmente). Ingerem muita quantidade de bebida alcoólica. Uma de suas diversões prediletas é praticarem essas “anti-humanidades” nos horários de descanso das pessoas normais, como, por exemplo, ao meio-dia ou pela madrugada quando todos dormem. Quanto maior o número de humanos que são molestados, maior é o prazer que conseguem alcançar. O metabolismo deles funciona estimulado pelo mal que forem acumulando durante “suas infernices”.


Estamos bem na época em que os “infernautas” costumam intensificar suas ações. Portanto, quando identificar algum membro dessa espécie, se não conseguir afastar-se dele, certamente sofrerá graves consequências em sua vida normal. Não conheço alguma providência que seja realmente eficaz para nos livrarmos dos “infernautas”. Quando algum cientista descobrir alguma fórmula que atinja tal objetivo, provavelmente haverá ampla divulgação para o bem de toda a humanidade. Por enquanto, só nos resta esperar...ou rezar (os que acreditam, é claro)!

Wenceslau Gonçalves

Publicado na coluna Gente Fronteiriça do jornal Fronteira Meridional em 07/01/2015

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