No dia
seguinte, chegaram os monstros de aço aos quais não se poderia
oferecer resistência. Eram dois. Um era enorme e possuía duas
grandes mandíbulas. Uma tridentada e ameaçadora garra comprida e de
longo alcance e outra menor que apenas lhe servia de cobertura. O
outro monstro é apenas conivente. Comparando ele é, apenas, um
monstrinho. Chega ao local e se imobiliza. É dos que somente aguarda
que o primeiro lhe entregue o produto da destruição e parte rápido
para voltar logo depois. Ambos são barulhentos – produtos do mundo
moderno - e enegrecidos pelo próprio fumo que expelem. E, assim,
começa a batalha. O inimigo é cercado por todos os lados. Sua única
defesa é o conhecimento do terreno. Nasceu e vive há muito tempo
ali. Ninguém, como ele, sabe de suas nuances e possibilidades. É,
inutilmente, ajudado pela umidade e pelos sais minerais que seguram
suas raízes entranhadas na terra. A sua cor verde já tem bastante
do resquício da civilização que o circunda. Já pariu muitos
frutos e acolheu muitos pássaros com seus membros fortes. No
inverno, abrigou-os do frio; no verão apaziguou-lhes o calor.
Cumpria sua missão com galhardia. A resistência, no entanto, é
inglória porque sua desvantagem é gritante: contra ele há todo o
progresso de vinte séculos de civilização que não reconhece
nenhum direito adquirido para resistir os obstáculos em sua
caminhada.
A
batalha continua. Pouco a pouco, o terreno cede à ação dos
monstros e deixa o inimigo só, sem seus aliados. Agora é sua vez de
sucumbir. Estremece. Tremulam seus galhos e folhas. Cai o último
ninho que ainda resistia e ela própria aspira seu último quinhão
de oxigênio e cai prostrada na terra que, há pouco, ainda lhe
transmitia a seiva vital para sua existência. É, apenas, mais uma
árvore que tomba em uma grande metrópole. Não vai nem participar
das estatísticas!
Wenceslau
Gonçalves
Publicado na Coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional em 21/05/2014
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