Entre os dias 04
e 06 de abril do presente ano de 2014 o grupo PET(*) do curso de Produção e
Política Cultural da Unipampa-Jaguarão, realizou uma saída de campo com destino
às cidades de São Miguel das Missões e Santo Ângelo, no noroeste do estado. O
escopo da viagem era conhecermos, in loco, as ruínas jesuítas e o artesanato
guarani em São Miguel das Missões, e visitar a Catedral Angelopolitana e o
Museu Dr. José Olavo Machado na cidade de San Ângelo.
Destaco, como
curiosidade pessoal, a terra vermelha e o cultivo da mandioca em São Miguel. A
herança cultural guarani ainda sobrevive em muitos detalhes, sutis,
simbioticamente. Na pousada onde pernoitamos, em São Miguel, conhecemos um
militar, nativo daquele pago, mas que há muitos anos mora fora do Rio Grande.
Homem viajado, de fala serena e olhar perspicaz, ele é ciente do valor cultural
e simbólico dessa herança missionária
que quase caiu no esquecimento. Destaca o esforço do IPHAN e da prefeitura
municipal de São Miguel, que conseguiram, juntos, manter em pé as ruínas do
outrora célebre templo, cujo plano foi originalmente desenhado por um arquiteto
italiano, e executado com mão de obra guarani.
Assim, é digno de
observação o trabalho em tijolo e a majestosa estética que ainda sobrevive nas
paredes sem teto da catedral de São Miguel Arcanjo. O edifício —dizem— foi
construído originalmente sem o uso de argamassa, mas hoje é esta a que mantém
em pé as ruínas. É possível admirar também diversas esculturas de santos
católicos, entalhadas em madeira e várias delas em tamanho natural, cujos olhos
indígenas nos fazem imaginar as mãos que lhes deram forma. Acabadas numa peça
só, seu estilo barroco lembra a obra do mestre mineiro Aleijadinho.
Descendentes
daqueles artistas, dentro da área tombada alguns guaranis vendem hoje aos
turistas e visitantes suas artesanias feitas em madeira e com penas de
pássaros. São representações de animais típicos do bioma das Missões e do
pampa, e objetos com valor decorativo ou que contêm significados místicos.
O espetáculo “Som
e luz”, encenado pelas noites defronte às iluminadas paredes da velha catedral
jesuíta, recria e dramatiza o tempo histórico que viu o nascimento, o apogeu e
a destruição dos “Sete povos das Missões”, dos quais São Miguel era a
capital. A terra e as paredes do templo
se metamorfoseiam, e através de um diálogo épico fazem a história voltar sobre
seu curso dando vida a esse passado, nas vozes de seus diversos personagens.
Narra o drama que: Além da tragédia, do
massacre de milhares de guaranis e suas famílias e dos poucos sacerdotes
espanhóis que com eles morreram, conta-se a perda de uma riquíssima cultura
mestiça... Fato destacável é o acordo assinado entre Espanha e Portugal, por
meio do qual os “Sete Povos das Missões” (em território lusitano) deixavam de
pertencer à coroa de Castilha e passavam ao domínio pleno de Portugal, e em
troca a cidade de Colônia do Sacramento, na Banda Oriental (atual Uruguai)
também mudava de senhor, e desde então obedeceria à coroa castelhana.
Em Santo Ângelo
visitamos a sua bela catedral e o museu Dr. José Olavo Machado. A Catedral
Angelopolitana é o principal templo da Diocese da cidade e foi construída entre
os anos de 1929-1971. Sua arquitetura basicamente barroca lembra o templo da
redução de São Miguel Arcanjo.
O Museu Municipal
Dr. José Olavo Machado tem em seu acervo armas, ferramentas, instrumentos
musicais, trabalhos em pedra feitos pelos guaranis e inúmeros outros materiais
que evocam o período colonial.
Infelizmente a
nossa visita foi curta devido ao horário em que lá chegamos. O Museu funciona
de terça a domingo, das 9 ao meio-dia e das 14 às 17 horas.
Darío Garcia
(*) PET: Programa de Educação Tutorial, que oferece bolsas aos alunos das universidades públicas brasileiras.
Publicado na Coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional em 14/05/2014
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