quarta-feira, 19 de junho de 2013

Jaguarão já cantou de galo neste terreiro

Olhos de Azeviche, autoria de Jaguarão e interpretada por Clementina de Jesus. 
Álbum Raízes do Samba. ( Dica do João Pompílio Neves Pólvora)

Pergunta-me Jorge Passos se conheço o sambista Jaguarão, mencionado na música “O Samba é Meu Dom”, de autoria de Wilson das Neves e Paulo Cesar Pinheiro. Aceito o desafio e me ponho a campo para responder essa questão. Fico sabendo que esse é o apelido de José da Silva, parceiro de Zinco em vários sambas-enredo compostos para a Escola de Samba Lins Imperial, escola esta que nasceu da fusão da Filhos do Deserto, fundada em 1933, e Flor de Lins em 1946, ambas existentes na Cachoeira, no bairro Lins de Vasconcelos. Permanecendo o verde e rosa das duas escolas, entre seus fundadores e grandes colaboradores figuravam Jones da Silva (Zinco) e José da Silva (Jaguarão).

Em “Certidões de Vida e Identidade”, Nei Lopes escreve: “Durante muito tempo, pertencer ao seleto grupo de compositores de uma escola de samba era um privilégio e uma honra, que dependia do talento poético e musical do sambista. Aceito na ala, por indicação ou mesmo “por concurso”, o compositor estava autorizado a mostrar seu talento no terreiro. O número de sambas que poderia apresentar, a cada ano, variava de escola para escola, sendo em geral dois. Esses sambas tinham vida curta, pois a renovação do repertório era obrigatória a cada ano. Mas essa curta existência resumia-se ao terreiro, pois muitos deles, embora nunca gravados, permanecem até hoje na memória do mundo do samba, como alguns escritos por Jonas da Silva, o legendário Zinco, e seu parceiro Jaguarão, dos Filhos do Deserto, da qual nasceu a Lins Imperial...”

Já Martinho da Vila em  “Feliz Primavera” opina: “A minha estação preferida é a que estamos, cantada pela Filhos do Deserto há anos atrás, com ricas rimas que se não me falha a memória eram do Zinco e do Jaguarão (“Olhai a natureza nas campinas, esse Brasil de flores mil, esta beleza tão divina que enfeita um fabuloso jardim. Olhai os lírios nos campos, o cintilar dos pirilampos e o bailado das flores em fantasias multicores. Tudo isso que estás vendo faz a gente viver feliz. É a natureza oferecendo um grande presente ao nosso país. Pétalas soltas pelo chão sob um pé de flamboaiant. Um aroma que é sedução a perfumar o raiar da manhã. Manacás, hortênsias, violetas, cravos, malmequeres, bogaris... Onde um bando de borboletas faz os seus charivaris. Primavera em flor. Em alta madrugada, um lindo sonho de amor nos braços da nossa amada”).

Um ilustre desconhecido no cenário nacional, João da Silva (o Jaguarão) teve duas de suas composições gravadas. No álbum “Clementina de Jesus e Convidados” (Emi/Odeon, 1979) figura na faixa 4 com o título “Olhos de Azeviche”. Esta se encontra registrada no programa semanal Essa é Pra Tocar no Rádio – 73 – Os Olhos da Amada (29.02.2012), iniciando um desfile temático de grandes nomes do nosso cancioneiro como Cartola, Garoto, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Chico Buarque e outros mais, Além dos intérpretes Fagner, Maria Bethania, Fafá de Belém, Milton Nascimento, Paulinho da Viola, Marisa Monte, Elis Regina e outras feras. E em 1989, a gravadora Ideia Livre lançou Projeto em Homenagem à Memória do Presidente Getúlio Vargas, denominado “O Grande Presidente”, onde aparece na faixa 8, “24 de Agosto”, música de sua autoria interpretada por João Nogueira.

José Alberto de Souza

Publicado na coluna Gente Fronteiriça do jornal Fronteira Meridional em 12/06/2013


Um comentário:

Rafael Chaves disse...

Bah, conhecendo e ouvindo Wilson das Neves aqui, me perguntando: será que esse "Jaguarão" é de Jaguarão (de onde boa parte de minha família veio)?

Muito obrigado pela pesquisa!

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