O comentário do meu amigo José
Alberto de que sou um bom contador de histórias, aqui publicado há
pouco, animou-me a contar mais um desses causos que não estão no
Gibi, como se dizia antigamente. Aconteceu numa época em que havia
apenas doze ministros na capital federal, ao contrário da
proliferação exagerada de quase quarenta hoje existente. E um
desses raros ministros encontrou tempo para vir de Porto Alegre a a
Jaguarão, em campanha política, numa viagem que tinha um dia de
duração, nas péssimas estradas de chão batido então existentes.
Era o político Clóvis Pestana,
Ministro da Viação e Obras Públicas, liderança do extinto Partido
Social Democrático e um dos candidatos a reeleição para a Câmara
Federal. Muito entusiasmado, o PSD jaguarense organizou então um
super badalado comício no Largo da Bandeira, batizado de “comício
monstro” para melhor dimensionar o seu esperado tamanho. E de fato,
assim veio a acontecer, com a presença de numeroso público que
ocupou todos os espaços disponíveis, das escadarias da igreja
matriz à calçada da Praça 13 de Maio, entre as ruas Osório e 27
de Janeiro.
Entretanto, talvez porque o locutor
local fosse muito iniciante, ele passou a descrever o encontro como
um comício monstruoso, o que obviamente alterava por completo o
sentido original. Mas o pior viria depois, após os primeiros
discursos, quando esse locutor oficial finalmente anunciou, com toda
a empolgação: “e agora, senhoras e senhores, chegou o grande
momento deste comício, com a palavra o Ministro Clovis Sobrancelha”.
Silêncio geral, alguns segundos de paralisia e expectativa até que
o Ministro visitante, indignado com a troca de nomes, tomou o
microfone e protestou: “Sobrancelha não, Pestana, Ministro
Clóvis Pestana”. Embasbacado, mas ainda ao vivo, o nosso
locutor tratou logo de se justificar: “Ah... Eu sabia que era no
olho, só não me lembrava se era em cima ou se era embaixo”.
Pior emenda que o soneto. Foi o fim
de uma breve e promissora carreira de apresentador, pois ele tinha
uma excelente voz microfônica.
Pedro
Fagundes Azevedo
Publicado na Coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional do dia 26/06/2013
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