Acompanhando as inquietações de um amigo em sua crise pós 40
anos, percebi uma alma perspicaz, lutadora e vencedora diante da fronteira
entre o que ele tinha realizado (com sucesso) e a falta de desafios para o
resto de sua vida.
O colapso afetava a mente e o corpo. Tinha a sensação de
estar desagregado de seu contexto e desconectado dos seus sonhos. Mantinha em
curso um único projeto de vida que era vencer a rotina e adiar a morte, pelo
menos física, pois a mente já lhe parecia moribunda, por não saber o que
acontecia.
Os retumbantes sucessos na vida pessoal, financeira e
emocional traziam um orgulho do passado, mas o sabor da vida se amargava na
falta de propósito e tudo o que foi vivido vitoriosamente se tornava um peso
para mudar e só restava viver o nada interior, regado pela falta de desafios.
Um nada assentado em toda a sua história, em seus percursos
intelectuais, cheios das coisas já vividas, parecia o bastante para qualquer
alma conformada. Formou-se um círculo pernicioso em que o pensamento,
alimentado pelo conhecimento, se tornava uma arma arguta voltada para sua
própria cabeça, criando labirintos recônditos cheios de desvios de sentido.
As perguntas, que sempre foram o alimento de seus
pensamentos, passaram a machucar um espírito carente de soluções, respostas
pragmáticas para sua angústia.
Era preciso sair do buraco que estava cavando em sua volta,
e isolando-o das pessoas mais importantes de sua vida.
A busca, inicialmente inglória, o conduziu ao ato de defesa
na persecução da lógica da preservação. Primeiro houve o empenho em eliminar o
que, supostamente, acreditava que não queria, mas isso se tornou um processo
limitante e claustrofóbico, que reforçou o ensimesmamento.
Os labirintos da alma lhe apresentavam caminhos de
questionamentos sem sentido até que se deparou com o verdadeiro dilema de sua
fronteira: manter-se no velho ou nascer no novo? Manter-se no velho significava
continuar definhando em suas angústias, mantendo as lembranças vivas de sua
história ritualizada na coisificação do dia a dia. Nascer de novo era o
rompimento com o passado, levando apenas as experiências, sem saber a dimensão
e o que se perderia nesse novo.
A angústia da encruzilhada era não poder seguir nos dois
sentidos e escolher um caminho é certamente deixar outras infinitas
possibilidades para trás. Do mesmo modo, não escolher é também uma escolha e
nenhum caminho será percorrido. O mofo se formará no espírito desafiador e lutador
do outrora eterno revolucionário. Seria a morte em vida o meio termo.
A nuvem negra já estava se dissipando, agora já não era mais
uma busca por respostas no seu labirinto pessoal, mas um momento de decidir
como seria a sua travessia, o caminho a ser escolhido, o compromisso de um
encontro consigo mesmo no futuro.
A partir daquele ponto, depois da travessia, não poderia
mais olhar para trás, viraria “estátua de sal” e as perdas seriam os alicerces
da sua escolha por ser feliz.
Fábio Martins Oliveira
Publicado na Coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional em 12/02/2014
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