domingo, 14 de dezembro de 2014

Festa do Interior

Foto Prefeitura de Jaguarão Digital
  
Que noite a de domingo! Depois de um dia nublado e ventoso prenunciando temporal, o entardecer trouxe a calmaria. A chuvarada passou por cima, como faz tantas vezes por aqui. Dizem que a topografia da nossa cidade a protege. Fazia muito calor. Da janela entreaberta olhei para as árvores do canteiro central e nenhuma folha se movia. Também não se movia o ataque do Imortal Tricolor na Fonte Nova. O zagueiro do Grêmio havia sido expulso e logo em seguida o Bahia marcou um gol de falta. Melancólico final de campeonato, só amenizado pela goleada no grenal. Desliguei a TV. Chega de sofrimento. Convidei minha esposa para darmos uma caminhada pelo centro. A cidade fervilhava.

O clima apetecia o saboreio de um sorvete, foi o que fizemos. Enquanto nos deliciávamos com o gelado, olhei para a porta envidraçada da confeitaria e comentei que a 27 de Janeiro estava com cara de “18 de Julio”, a avenida central de Montevideo. Com as devidas proporções, parece mesmo, concordou ela. -Olha, o que mudou esta cidade de uns dez anos pra cá é incrível. Recordo quando vinha dar aula por aqui, era um marasmo total, completou. 
 
No Largo das Bandeiras, que eu gostaria de chamar de Largo Mestre Vado, pois ali é o espaço dedicado às manifestações populares e à arte, estava acontecendo a terceira noite da IV Feira Binacional do Livro. Sucesso total. O povo tomou conta de todos os lugares. Aqui uma nota. Merecida homenagem ao escritor jaguarense Eduardo Alvares de Souza Soares agraciado com o patronato da Feira. Seus livros sobre a Igreja Matriz, Ponte Internacional Mauá, Olhares sobre Jaguarão, Coletânea de crônicas na antiga Folha, sobre o Poeta Lobo da Costa, além de vários artigos nos Cadernos Jaguarenses, são de valor inestimável para a história de nossa cidade e o resgate de seu patrimônio cultural. 
 
A nossa Feira voltou para alegria de todos. Ela tem características peculiares. Engloba no mesmo espaço, o livro, a música e a gastronomia. Elementos inseparáveis. Une o popular e o erudito. 
 
Quase meia noite e a festa continuava. Resolvemos voltar para casa. Observamos que o movimento não era concentrado somente na praça central. Em toda a avenida principal o trânsito de automóveis e pessoas caminhando, continuava. Na Comendador Azevedo, os trailers estavam repletos. Gente que “gosta mais de ouvir o silêncio e prefere mais o sossego do que o juntamento”, como diria minha avó, pensei. Não importa. Estavam fazendo parte da paisagem dessa noite de domingo numa Jaguarão que vibra. E que noite de domingo!

Jorge Passos

Publicado na Coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional em 03/12/2014

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