Cavalgada tradicional do Vinte de Setembro |
Meus sonhos me aprontam cada
“gancho”! Pois não é que me deparo com uma comadre que falava para outra ter
lido no jornal uma reportagem sobre os perigos aos jovens saindo a cavalgar
fora da cidade. “Peraí, eles passeavam a cavalo dentro da cidade?” –
estranhei, quase invadindo a cena. Porém, veio-me à mente uma de
minhas estadias na cidade de Tapes - RS, situada às margens da Lagoa dos Patos
e considerada a mais plana ao nível do mar, onde constatei não ser incomum esse
costume, mesmo fora do tradicional desfile no feriado comemorativo de 20 de
setembro.
Nada mais natural para que se
favoreçam longas caminhadas a pé ou pedaladas de bicicleta, apesar do comodismo
daqueles que não dispensam o automóvel para se deslocar em pequenas distâncias.
E do lazer daqueles que ainda têm como alternativa a prática da equitação no
perímetro urbano. Sem submeter suas montarias a grandes esforços, os ginetes
também desfrutam de um prazer mais ecológico e saudável. Eles circulam nas vias
públicas, inteiramente despojados de qualquer pretensão de impressionar com
suas esporádicas passagens, que nem chegam a ser notadas no passeio.
Essa conversa das comadres falando
do inconveniente dos jovens pegarem a estrada montados em seus pingos me jogou
em tempos distantes quando minha cidade parecia pequena demais para minhas
perspectivas de vida. Jaguarão era o universo a que me restringia como se não
bastassem minhas explorações pelas ruas, quando as percorria de cabo a rabo,
uma por uma, às vezes, tentando chegar a pé nas vilas mais pobres e afastadas,
em busca da aventura de sentir a realidade de outras paragens. Quantas vezes
não me detive ali no Prado, querendo prosseguir pela saída da cidade.
Houve ocasiões em que alugava
bicicleta para prolongar esses trajetos. Mesmo assim, essas novas expectativas
não passavam de entradas Uruguai adentro, pela ponte cruzando o rio e seguindo
na direção da Cochilla para trazer “pan alemán” ou então esticando mais até o
cansaço me parar lá pelos lados da Tablada. Outras vezes, a gente pegava um
pequeno bote para navegar rio acima, onde nos perdíamos num dos inúmeros braços
e ficávamos horas dando voltas, sem a mínima orientação, apenas na base de
tentativas para encontrar o caminho de volta ao curso principal das águas.
Um dia havia de chegar a que
surgisse oportunidade de sair daquele insulamento e lá fui eu de carona num
"jipão" do Exército, a convite do primo Cesário, para passar uns dias
em sua residência de Bagé, onde servia numa das guarnições locais. Pelo
caminho, a estadia no Paris Hotel, de Pelotas, contemplava pela janela
entreaberta do quarto em que estávamos hospedados a imensa torre metálica do
relógio do Mercado Público, cujo carrilhão batia preciso as horas. Eu começava
a desbravar o mundo...
José
Alberto de Souza
Texto publicado na coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional do dia 19 de setembro
Um comentário:
Mais uma vez, essa gente boa da Confraria me cumula de gentilezas inesperadas. Tanta consideração me sensibilizam profundamente para dizer estas humildes palavras de gratidão.
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