Quando
enviei aquela foto para ilustrar a primeira Das Minhas Reminiscências, o confrade Jorge Luiz Passos me questionou acerca de
uma construção que aparecia atrás dos “carnavalescos”. Na
ocasião não cheguei a esclarecer aquela dúvida, porém, remexendo
no meu baú de achados e perdidos, encontrei um retrato da antiga
agência do Banco do Estado do Rio Grande do Sul e do atual prédio
da Rodoviária, em fase de acabamento, ocupando o espaço onde
funcionou a Confeitaria São José. Até aquela época, a nossa 27 de
Janeiro tinha se mantido “imexível”, apenas sofrendo alterações
posteriores com o incêndio do Café do Comércio que deu lugar ao
“Caixão” Econômico Federal e mais ainda com a infeliz demolição
daquele tradicional prédio do Banrisul.
Naquela foto, também postada na Confraria dos Poetas de Jaguarão, as
camisetas do “time de futebol” pertenciam ao Granada que fez
história no futebol varzeano lá pelos idos de 1954, composto por
craques como Paulo Sabbado, Sicco, Pedro Bittencourt, Clóvis
Amâncio, Portinho, a fina nata do Café do Comércio. E para
combater esses incautos, amarrei uma partida sem dispor de nenhuma
equipe, saindo em louca disparada para conseguir local, bola,
camisetas, meias e chuteiras, gentilmente cedidas pelo E. C. Cruzeiro
do Sul, além de madrinha e árbitro para a contenda. Agora, para
formar o plantel, vali-me dos préstimos do amigo Eulálio Delmar
Faria que me apresentou ao cabo Mulita, a quem passei o encargo da
arregimentar os elementos necessários, soldados de Rio Grande
servindo no Quartel local.
Daí
que a coisa evoluiu para a fundação do Esporte Clube Tuiuti,
presidido por mim e secretariado pelo riograndino Antônio Ledur
Dias. Então eram comuns as “peladas” entre Grêmio Esportivo
Jaguarense, treinado por Dair “Zazá” Nunes, e América Futebol
Clube, de Heponino Costa, a que se vieram juntar Estrela do Sul, do
estivador Torto, e Internacional, do Carlinhos Rodrigues, hoje fiscal
da Fréderes. Toda essa gente reunida no barraco de Heponino resolveu
criar a Liga Jaguarense de Futebol Varzeano, chegando a elaborar o
calendário dos jogos que não passou da primeira rodada por
desavenças nas batalhas campais. Mesmo assim, ainda continuei
teimando com o Tuiuti até chegar no dia de nossa formatura no
Ginásio, quando Eulálio e eu tivemos de abandonar uma das pelejas,
já atrasados para a cerimônia.
Vieram
1955 e o início do ano letivo, tive de embarcar num daqueles
“gaiolões” da Fréderes, gélida madrugada, com destino a Porto
Alegre para cursar o científico no Colégio Estadual Júlio de
Castilhos, junto estava meu tio e pai de criação Cantalício Resem
para as despedidas. Ali encontramos o Sr. Alcides Pereira da Silva,
genitor do colega “Pitita” que rumava para o Colégio Cruzeiro do
Sul, de onde faria trampolim à Faculdade de Medicina da UFRGS, a fim
de exercer sua nobre profissão na terra natal como o conceituado e
saudoso Dr. Mário Conceição Pereira da Silva. Refresco assim a
memória para situar naquele ano o local desse embarque que ocorreu
na antiga Rodoviária situada ao lado do Café do Comércio.
Tantas
digressões só para explicar a origem daquela fotografia de
irreverentes fólios, mas que mexeram um bocado em meu subconsciente
na tentativa de buscar local e ano daquele carnaval, lembrando-me das
obras de construção da nova Rodoviária provavelmente concluídas
em fins de 1956. As camisetas do Granada me remeteram àquelas
partidas de futebol na várzea em 1954, seguindo-se minha ida em 1955
para a Capital. Chamou-me atenção o fato de que até esses anos não
cheguei a verificar nenhuma outra nova construção no trecho da 27
situado entre a Avenida Odilo Marques Gonçalves até a beira do rio
Jaguarão. E a foto que ilustra este texto deve representar um
importante marco divisório entre a antiga e a moderna cidade.
José Alberto de Souza
Publicado na Coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional em 08/05/2013
4 comentários:
Parece até que tive de sair de Jaguarão para a cidade se modernizar...
Com memória assim, não há "alemãozinho" (Alzheimer) que resista ...
Poeta da águas doces, as fotografias do seu baú de memórias precisam ficar arquivadas e bem coladas com belas palavras neste álbum mnemônico chamado Confraria do Poetas de Jaguarão! As gerações futuras se deliciarão com imagens e vidas riquíssimas arquivadas neste arco do conhecimento.
Raimundo Cândido
Caro José Alberto,
Lembro-me, quando ainda era guri de calças curtas da antiga confeitaria São José, onde hoje está a Rodoviária e do antigo Banco do Rio Grande do Sul ao lado. Também, lembro-me da Rodoviária ao lado do antigo Café Comércio. De resto, não lembro de nada, muito menos dos times da época. Gostei muito de tuas reminiscências. Deves conservar um acervo muito bom que ficará para a posteridade. Parabéns e um grande abraço. Hunder.
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