O Sobrado construído por H. Corrêa Durão para residencia e negócios e que depois passou à propriedade do Barão Tavares Leite |
Em coluna
anterior, sob o título “Sobrado do Barão ou dos Durão?”
abordamos as origens do conhecido e imponente prédio da Rua XV de
Novembro. Não era nosso objetivo contestar a propriedade do Sobrado,
que por longo tempo foi do Barão Gabriel Tavares Leite, mas sim de
incorporar outro protagonista, não menos importante, à história do
edifício e de sua construção. Falamos de Hygino Corrêa Durão,
assim como Tavares Leite, também oriundo de Portugal.
Hygino
casou-se em 1850 com Antonina dos Cantos, natural de Jaguarão, onde
ocorreu a cerimonia de casamento. Nascida por volta de 1820, filha de
Fabiano Cantos, provavelmente militar da Divisão de Voluntários Reais, unidade criada em 1815 para atuar na retomada da Banda
Oriental sob o comando do General Carlos Fredrico Lecor, e de Anna de
Toledo, de possível origem argentina, já que seu genro, o Hygino,
desempenhou por longo tempo o cargo de Cônsul da Província do Prata
na cidade de Rio Grande.
A
hipótese formulada por Alberto Durão Coelho, descendente de Hygino
Durão, a partir de pesquisas efetuadas na Loja Maçonica de
Jaguarão, é de sua gente ter vindo parar em Jaguarão em razão de
contatos com Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá. Crê
ele, que a Loja de Jaguarão deve ter sido a de iniciação do
próprio Mauá, embora este tenha saído ainda criança da sua Arroio
Grande. Eram membros da Confraria, o Liddelll de Castro e João
Frick, o futuro sócio de Hygino e futuro genro de Mauá.
Em Rio
Grande, Hygino Corrêa Durão esteve envolvido na construção do
primeiro cais, em 1869. Atuou tanto na implantação da Companhia Hidráulica Pelotense como na Rio Grandense. A Ponte sobre o Rio
Piratini, conhecida como Ponte do Império, contratada por Durão,
foi entregue ao trânsito em novembro de 1870. Além disso, também
apresentou proposta ao governo provincial para a execução de pontes
sobre os rios Camaquã e Arroio Grande. Além disso, identificou-se
um projeto de entroncamento entre a estrada de ferro Rio Grande-Bagé
e a linha de Porto Alegre- Uruguaiana, que foi mandado executar por
Hygino Durão, sob a direção dos engenheiros A. Primrose, Carlos Morsing e do chefe de escritório, João Frick.
Caixa dágua Pelotas |
Os
Jornais de Pelotas da década de 1870 noticiavam os trabalhos de
Durão na Hidráulica Pelotense, ressaltando a construção da
gigantesca e admirável obra do depósito de água, a Caixa dágua da
Praça Piratinino de Almeida, e que recentemente foi restaurada pelo
IPHAN. Abolicionista, o empresário Durão comemorou a inauguração em 1874 da Hidráulica Pelotense, libertando três escravos na
presença das autoridades representativas do conservadorismo e do
regressismo, em uma monarquia que não achava caminho para realizar a
dignidade do homem.
No dia 14 de março de 1874, um decreto imperial concedia a Corrêa Durão permissão pra explorar carvão de pedra e outros minerais no território situado entre as pontas dos rios Santa Maria e Jaguarão. Hygino
veio a falecer precocemente em 1876, quando em pleno andamento das
explorações de jazidas de carvão mineral, construção da estrada
de ferro e outras. Sua viúva, Antonina, morreu em 12 de fevereiro
de 1889 no Rio de Janeiro.
Precisaríamos
de muito espaço para escrever mais sobre este fascinante personagem,
construtor do Sobrado do Barão e seu primeiro morador. Creio que
sua trajetória de empreendimentos e realizações engrandece ainda
mais a importância desta edificação no acervo do Patrimônio
histórico de nossa cidade. A boa noticia é de que obtive
informações de que o Sobrado dos Durão e do Barão, terá projeto
de restauro contratado em breve.
Jorge Passos
Publicado na Coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional em 27/08/2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário