Carlos
José Azevedo Machado, o Professor Maninho, está preparando uma tese
de mestrado na UFPEL sobre Memória Social e Patrimônio Cultural e
me solicita um depoimento acerca daquilo que vivenciei no Cine Teatro
Esperança, de Jaguarão.
Para
início de conversa, devo relatar a indignação do amigo João
Campelo Costa, o “Ceará”, falando da entrevista do ator Paulo
Autran com a apresentadora Cristina Ranzolin, na qual ele citava os
diferentes teatros do mundo inteiro, onde representara a sua arte,
incluindo aqui no Estado nossa terra. E
não é que Cristina não conseguiu se conter para lhe perguntar como
é que ele, já sendo aplaudido em grandes metrópoles da América e
da Europa, sentiu-se pisando o palco de uma cidadezinha inexpressiva
como Jaguarão. Em verdade, criei-me na mentalidade do “já teve”
de tanto ouvir falar daquelas companhias líricas que faziam ponto de
parada em Jaguarão em seus deslocamentos de São Paulo e Rio de
Janeiro para as repúblicas do Prata, privilegiando nossa cidade com
memoráveis temporadas. A
acústica do Teatro Esperança sempre foi destacada pela sua clareza
para se ouvir perfeitamente os diálogos encenados a partir da
ribalta, encantando todos os artistas que ali se apresentavam. Entre
aqueles que chegaram a meu tempo, era useira e vezeira em se hospedar
no Gerundo Hotel a pianista Luzia Felix, sempre acompanhada do
marido, o humorista Sérgio Felix, os quais nunca deixavam de marcar
sua presença no vetusto Esperança, antes de seguirem para
Montevidéu.
Outra
das inesquecíveis atrações que ali tive oportunidade de
presenciar, recordo da veterana cantora Dircinha Batista,
da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Muito simpática, ela falou da
sua vinda a Jaguarão como uma viagem sentimental que trazia a
lembrança daquelas excursões que fazia com seu pai, o cantor
Batista Júnior, e sua irmã Linda, inclusive já tendo estado nesta
região sul do Estado. Era de se ver como ela cativou naquele momento
a plateia do nosso Teatro que a deixava entusiasmada e feliz com a
receptividade jaguarense, a ponto de manifestar seu desejo de um
breve regresso e sua promessa de vir acompanhada da outra irmã,
também famosa, Linda Batista. Azar o nosso que não chegou a se
concretizar essa expectativa.
Já
que Professor Maninho me provocou para pisar nestas brasas de uma
fogueira mental, nem precisei esconder a primeira ideia que me
ocorreu. Veio-me à mente certa peça encenada no antigo “politeama”,
cujo título me parecia “Helena abriu...” que procurei conferir
com o "expert" Luiz Carlos Dutra Monteiro e ele prontamente
me corrigiu: “Helena fechou a porta”, apesar de desconhecer o
ator principal da cena. Martelava-me o cérebro um tal de Luiz, do
Teatro do Estudante. Em
contato com a Coordenação de Artes Cênicas (SMC/P. Alegre), Breno
Ketzer Saul gentilmente me envia mensagem com o artigo “Teatro do Estudante do Rio Grande do Sul”
e
eis que me “aparece a margarida” LUÍS TITO na direção daqueles
espetáculos.
Das
minhas andanças internáuticas fico sabendo que a peça “Helena
fechou a porta”, autoria de Accioly Neto, teve sua estreia no
Teatro Copacabana do Rio de Janeiro, em 1950, estrelada por Tônia
Carrero e Paulo Autran. Também consigo algumas informações sobre o
ator e diretor teatral Luís Tito, que chegou a trabalhar com Cacilda
Becker, Walmor Chagas, Célia Helena e Raul Cortez em “Santa Maria
Fabril SA” (1958), de Abílio Pereira de Almeida, além de “Os
Perigos da Pureza” (1959), ambas as montagens da Cia. de Teatro
Cacilda Becker. E no cinema, encontro sua participação em “Caçula
do Barulho”, contracenando com Oscarito, Grande Otelo, Anselmo
Duarte e Gianna Maria Canale. Acredito que se possa ter uma ideia da
importância daquela viagem do Teatro do Estudante, em 1954, pelo
interior gaúcho.
Ainda
me ocorrem outras passagens a serem reveladas para ilustrar a
história de uma das mais tradicionais casas de espetáculos do nosso
Estado, que se ombreia com o Teatro São Pedro, de Porto Alegre, mais
o Sete de Abril e o Guarani, de Pelotas. Fica para uma próxima
Coluna.
José
Alberto de Souza
Publicado na Coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional em 23/07/2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário