A fronteira
Brasil-Uruguai, especificamente no caso de Jaguarão/Rio Branco, foi
– e, em parte, ainda é – objeto de uma visão tradicional e
geopolítica de ambos os Estados. Este fato se torna mais notório
por ser ela a única, relativamente importante, entre esses dois
países, que possui uma Ponte Internacional unindo-os, ou até mesmo,
separando-os, pois acaba sendo um gargalo que impede, de certa forma,
uma melhor integração entre os dois lados, diferentemente do que
ocorre, por exemplo, com as fronteiras Livramento/Rivera, Aceguá
Brasil-Aceguá/Uruguai ou Chuí Brasil/Chuy Uruguai. Por ser a única
fronteira com um rio por meio, acaba sendo, muitas vezes,
prejudicada; justificando assim os versos de um compositor uruguaio
de Rio Branco, Duca Marins (música do Jaguarense Hélio Ramirez):
“Hay un río que nos une, y un puente que nos separa”.
Historicamente,
desde a luta pela sua demarcação, as tentativas de expansão
luso-brasileira e de resistência uruguaio-espanhola acabaram
caracterizando esta região como uma área de conflito, onde o outro
era visto como adversário na fixação de um território próprio.
Essas visões, que deveriam ser ultrapassadas, a partir da
estabilidade da linha demarcatória, continuaram fazendo parte do
imaginário fronteiriço. Valendo-me do escritor Aldyr Garcia Schlee,
cito o seu conto “Braulina”, onde há uma passagem que revela
todo o drama - invisível, porém real - que envolve essa questão. O
casal protagonista está no meio da ponte Mauá, ela dá um passo a
mais e está do lado de lá, ele retém o passo e não atravessa a
linha imaginária. Ela está no lado uruguaio. Ele, no Brasil. Ele
então comenta: “Que engraçado, nós tão perto um do outro e tão
separados!”. Nessa frase; nesse momento; nessa divisão, revela-se
toda a barreira que não aparece à primeira vista, mas que está aí:
presente no cotidiano de cada ser que vive neste espaço de mundo.
Entretanto,
ao buscarmos as raízes históricas e culturais da formação do ser
fronteiriço, encontramos, na maioria das vezes, um ser que não se
considerava nem de um lado e nem de outro da linha divisória. Que se
negava, em sua maneira de agir, a seguir o limite imposto pelos mapas
e tratados. E foi esse modo de viver que acabou forjando a alma de
muitos que foram se fixando na região da fronteira, desde a época
da chegada dos europeus e seus descendentes a estas terras; desde os
primeiros conflitos oriundos da busca dos portugueses de levarem os
seus domínios até o Rio da Prata e da tentativa da Espanha de
manter a posse do que considerava seu baseada nos tratados.
Posteriormente,
na formação dos países, houve um processo de separação forçada,
imposta pelos governos; e que, inegavelmente, foi necessário para a
afirmação da identidade de ambas as nações. Porém, na
atualidade, em um momento em que parecem ter sido superadas todas as
ameaças de conflitos por limites e que se caminha para uma
integração regional, busca-se inverter o sentido. Ou seja, almejar
uma visão mais homogênea do mundo em que vivemos. Não somente na
questão comercial, cuja integração parece bem mais avançada, mas
também na questão cultural. Em suma, tratar de ser possível olhar
para o “outro” sem vê-lo como “outro”, confirmando a tese de
que “posso ser o que você é, sem deixar de ser o que eu sou”.
Elisangela
Vasconcellos
Acadêmica
de Pós Graduação em Cultura, Cidades e Fronteiras
Publicado na coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional em 03/04/2013
2 comentários:
Jaguarão/Rio Branco não é a única fronteira que separa Brasil e Uruguai através de uma ponte internacional. Pois Quarai e Artigas também são unidas pela Ponte da Concórdia, a qual não deixa de ser internacional:
http://uruguai.comprasnafronteira.com/artigas/
Complementando: a importância da Ponte Internacional Mauá se refere ao fato de se tratar de uma obra de arte, ao que me consta, única no mundo declarada como patrimônio arquitetônico binacional.
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