quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Todos os caminhos levam à cultura

Centro de Interpretação do Pampa - Foto Brasil Arquitetura


Há algum tempo a cultura parece ter sido descoberta pelos governos e pelos empresários. É um fenômeno mundial. Percebeu-se que ela expressava a identidade de um povo, de uma cidade ou região, e que suas peculiaridades, únicas, poderiam ser um bom negócio. Era, ao mesmo tempo, algo já pronto, mas passível de ser melhorado, bastando para isso “adubar” o terreno, estimulando as infinitas criações culturais e assim obter os melhores frutos. A indústria do turismo floresceu: turismo rural, turismo histórico, turismo religioso, turismo de lazer, entre outros.

Jaguarão está assentando os alicerces e apostará forte na cultura, como uma prometedora fonte de renda para o município (esbocei esse parecer no meu artigo “A cultura como espelho do que somos”).

O investimento da Unipampa, em parceria com a Prefeitura Municipal de Jaguarão e o Governo Federal, na construção do Memorial do Pampa, é talvez a grande seara nesse sentido. Mas a própria existência da Universidade em Jaguarão é, com certeza, um agente multiplicador e qualificador na preparação técnica e profissional de muitos jaguarenses e estudantes de outras cidades e estados que aqui moram e estão se formando.

Ter diversos espaços culturais, a maioria relacionados com a preservação da memória histórica da cidade (os Museus Geográfico e Histórico, o Teatro “Esperança”, o Círculo Operário, os clubes sociais “Jaguarense”, “Harmonia”, “24 de Agosto”, entre outros, o próprio Memorial do Pampa, a Ponte Internacional Mauá, centenas de casas e prédios tombados pelo IPHAN, o resgate da cultura afro-brasileira no município, a Feira Internacional do Livro, o Cineclube, o Carnaval, a Universidade, as praças Alcides Marques e Comendador Azevedo, o belo rio do qual a cidade toma o nome, etc.) tudo isso é terreno fértil que, se bem trabalhado, promete uma auspiciosa colheita em forma de retorno financeiro para o nosso município.

As instituições públicas ou privadas, as empresas, podem desempenhar a função de financiadores e/ou veiculadores culturais, ainda que a cultura em si mesma seja um produto diversificado e coletivo, que não cresce parelho e ao mesmo tempo, em suas distintas formas, e por isso precise às vezes ser estimulada.

Quem cozinha, quem constrói casas, quem pinta, quem escreve ou canta como solista ou em um coral, quem executa um instrumento, quem dança, quem ensina, quem estuda, quem conta anedotas, quem recicla o lixo, quem faz artesanato, quem pratica um esporte, quem atende um comércio ou dirige um táxi, etc.: todas essas pessoas estão fazendo cultura.

O fato de que nem todo mundo cozinha o feijão do mesmo jeito, nem todos os que tocam violão o fazem com o mesmo estilo, nem executam as mesmas músicas, é o que dá identidade cultural a uma cidade, por exemplo.

Algo flutua no ar. Uma certa energia ainda muito condensada, mas que já se insinua como uma promessa de explosão de criatividade, de “criadores e criaturas” —parafraseando um verso de “Meninas do Brasil”, do grande Morais Moreira—. (E aproveito para enviar as minhas congratulações aos colegas de Produção e Política Cultural, Daniel Andrade e Louise Pereira, quem com o PTG “Raízes da Fronteira” conquistaram a 3° Melhor Entrada Estudantil do Estado, obtendo os pupilos de Daniel Andrade, Vítor e Fabrício, o 1° e 2° lugares. Com o “GDT 20 de Setembro” se posicionaram 2° em tradicionais, 2ª Melhor Entrada, e 1° Melhor Saída. E, em outubro de 2012, conquistaram o primeiro lugar em dança tradicionalista, em San José, no Uruguai).

Há algumas semanas a seleção de futsal de Jaguarão ganhou a Taça Zona Sul do Estado. Isso é mais uma conquista que eleva o moral da cidade e serve de estímulo aos jaguarenses, para além da área do esporte. A “cultura jaguarense”, ou “fronteiriça”, é o que os turistas procurarão quando nos visitarem, isto é, achar aqui o que somente aqui descobrirão, o que nos faz diferentes e dignos do interesse para sermos conhecidos.



Dario Garcia
Acadêmico de Produção e Política Cultural - Unipampa

Texto publicado na Coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional do dia 16/01/2013 


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