De 200 alunos em 2009, Campus no município saltou para mil estudantes em 2013, matriculados em cinco cursos de graduação, quatro de especialização e um de mestrado
Carlos Queiroz - DP |
Por: Roberto
Witter
Cinco mil seiscentos
e vinte e seis metros quadrados de concreto movimentam o saber e a economia de Jaguarão.
Erguido no bairro Kennedy, o Campus da Universidade Federal do Pampa (Unipampa)
cresce em velocidade assombrosa.
Dos 200 alunos que tinha em 2009, pulou para
mil estudantes em 2012. Reflexo sentido na economia da cidade. Os forasteiros
que chegam alugam casas, comem em restaurantes e se divertem à noite. Mais
dinheiro no caixa dos comércios. Mais cultura nas ruas.
Os primeiros cursos
universitários chegaram à cidade em 2006. Juntas, as graduações de letras e
pedagogia abrigavam 100 estudantes. O Campus ficava sob comando da Universidade
Federal dePelotas (UFPel), assim como outros quatro campi, em Bagé,
Caçapava do Sul, Dom Pedrito e Santana do Livramento.
A reestruturação do
Ensino Superior no país foi responsável pela criação da Unipampa, em 2008. O
ano seguinte foi de reorganização. Nomeações de servidores e professores saíram
do papel e um projeto institucional criou metas para o crescimento da
universidade. A maior parte delas foi cumprida, garante o professor e doutor em
Educação Maurício Vieira, diretor do campus. “Em 2010 começamos a ampliar o
atendimento, ofertando os cursos de gestão do turismo e licenciatura em
história. Em 2012 criamos o bacharelado em política e produção cultural”,
conta.
Projetos ambiciosos
para o futuro
O futuro próximo
reserva projetos ambiciosos para a universidade. Uma cantina já está em
processo final de construção, e deve entrar em funcionamento ainda este ano.
Também em 2013, a ideia é iniciar a construção de um segundo prédio, com cerca
de 2 mil metros quadrados, e de uma sede para a biblioteca, que hoje possui 20
mil livros (o segundo maior acervo de todos os campi da Unipampa).
O curso de geografia
já está em fase de aprovação no Conselho Universitário da Unipampa, que é o
último estágio dentro da universidade. Se aprovada nos próximos meses, a
graduação poderá ser oferecida em 2014. Nas comissões internas, tramita ainda a
criação das graduações de licenciatura em computação, filosofia e
biblioteconomia. “Pela estrutura que temos hoje, poderíamos abrigar, pelo
menos, mais mil alunos”, afirma o diretor.
O campus de Jaguarão
foi também o primeiro a ter aprovado um curso na modalidade de ensino a
distância. Em, no máximo, 18 meses (o curso pode também estar apto a funcionar
dentro de seis meses), a graduação de Letras poderá ser ofertada. A partir de
então, Jaguarão gerenciaria a oferta de mais 50 vagas através do campus de
Livramento e outras 50 vagas pelo campus de Alegrete.
Impulso na cultura
Além de ofertar
Ensino Superior, a Unipampa atua diretamente em processos culturais e de
qualificação profissional no município. Segundo o diretor do campus, a
universidade auxiliou na criação do Plano Municipal de Educação. Projetos de
extensão e pesquisa também são direcionados para a comunidade, como a oferta de
cursos de qualificação para quem atua em restaurantes e hotéis.
A cidade vizinha de Arroio
Grande também se beneficia. No final de 2012, uma parceria com a
Secretaria Municipal de Educação garantiu a qualificação de 60 professores do
ensino básico do município na área de educação ambiental.
“Já se planeja levar
um curso de graduação para Arroio Grande. Conversamos com a antiga
administração e realizamos uma audiência pública. A ideia é saber que curso
eles gostariam de receber e a viabilidade para a Unipampa instalar na cidade”,
adianta o professor.
Preocupação com
patrimônio histórico modifica linhas de estudo
Professor de
história, Cláudio Martins (PT) honrou as origens. Nos últimos quatro anos do
primeiro mandato, passou a trabalhar a valorização do patrimônio histórico da
cidade. O trabalho da prefeitura refletiu-se em maior preocupação da universidade
com o assunto, garante o prefeito.
“Veio o curso de
história e algumas linhas de estudo no curso de produção cultural e turismo
também passaram a contemplar esta área”, conta Martins.
O Centro de
Interpretação do Pampa, espaço que irá revitalizar as ruínas da Enfermaria
Militar, já está sendo construído. O orçamento inicial prevê um investimento de
R$ 6 milhões na obra. A maior parte dos recursos vem do governo federal, mas a
prefeitura entra com uma contrapartida financeira.
“Assim que
inaugurado, o Centro será a maior ferramenta de educação patrimonial e da área
da museologia da América Latina”, garante o diretor da Unipampa. Segundo ele, a
universidade será responsável pela gestão do Centro.
O Centro será
dedicado à pesquisa e à experiência sensorial e estética sobre o bioma do
Pampa.
O Campus da Unipampa
em números
42.943,50 m de
terreno
5.626,53 m² de área
construída
6 laboratórios
74 professores
21 servidores
concursados
26 servidores
terceirizados
1.000 alunos
5 cursos de graduação
4 cursos de especialização
1 curso de mestrado
R$ 2 milhões é o
valor aproximado do orçamento anual
Chegada de alunos
movimenta economia
Os mil alunos, muitos
deles de fora da cidade, movimentam a economia do município e amenizam as
perdas sofridas pelos comerciantes desde a implantação dos free shops, na
cidade vizinha de Rio Branco.
“Se olhar pelo lado
material e financeiro houve, sem dúvida, uma explosão no setor imobiliário.
Aumentou a procura por casas e apartamentos e também subiu o preço dos
aluguéis”, explica o prefeito Cláudio Martins (PT).
Um hotel, a 250
metros da Unipampa está sendo erguido. O investimento é da iniciativa privada,
mas a prefeitura doou o terreno como forma de incentivo.
Embora não tenha
dados concretos, a presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de
Jaguarão, Maria Emma Lippolis cita um incremento no setor de serviços,
principalmente no ramo hoteleiro.
“Até por necessidade,
o setor de hotéis e pousadas precisou incrementar os serviços. A gastronomia,
lojas de roupas e as festas também tiveram crescimento”, aponta a presidente.
Os ganhos são
ofuscados pelo prejuízo gerado pelos free shops, segundo a dirigente lojista.
“Dezenas de lojistas
fecharam as portas porque a concorrência com o comércio do Uruguai é desleal.
Teve gente que foi embora da cidade para buscar o sustento”, afirma Maria Emma.
A esperança é o
projeto de lei do deputado Marco Maia (PT - RS), que já foi sancionado pela
presidente Dilma Rousseff.
O texto final prevê
que o pagamento pelos produtos poderá ser feito com moeda nacional ou
estrangeira, como o dólar. Os estabelecimentos poderiam ser concedidos às
chamadas “cidades gêmeas”, como Jaguarão, Chuí, Aceguá e Santana
do Livramento.
A partir da
publicação da lei, a Receita Federal ficou responsável pela colocação do
projeto em prática. No entanto, os comerciantes reclamam de lentidão no processo
de regulamentação.
“A situação está nas
mãos da Receita, mas eles não sabem o que a gente está perdendo ao longo destes
últimos anos. A solução precisava ser mais rápida. Assim, muitos de nós
(comerciantes) poderíamos também migrar para o sistema de free shops”, afirma a
presidente da CDL.
Segundo o
superintendente adjunto da Receita Federal no Estado, Ademir Gomes de Oliveira,
a instalação dos free shops no lado brasileiro trata-se de uma operação
complexa. Uma comissão foi criada em Brasília para estudar o caso e ainda não
há previsão de resposta.
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