domingo, 27 de janeiro de 2013

Unipampa está cada vez mais povoada


De 200 alunos em 2009, Campus no município saltou para mil estudantes em 2013, matriculados em cinco cursos de graduação, quatro de especialização e um de mestrado

Carlos Queiroz - DP
Por: Roberto Witter

Cinco mil seiscentos e vinte e seis metros quadrados de concreto movimentam o saber e a economia de Jaguarão. Erguido no bairro Kennedy, o Campus da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) cresce em velocidade assombrosa. 

Dos 200 alunos que tinha em 2009, pulou para mil estudantes em 2012. Reflexo sentido na economia da cidade. Os forasteiros que chegam alugam casas, comem em restaurantes e se divertem à noite. Mais dinheiro no caixa dos comércios. Mais cultura nas ruas.

Os primeiros cursos universitários chegaram à cidade em 2006. Juntas, as graduações de letras e pedagogia abrigavam 100 estudantes. O Campus ficava sob comando da Universidade Federal dePelotas (UFPel), assim como outros quatro campi, em Bagé, Caçapava do Sul, Dom Pedrito e Santana do Livramento.

A reestruturação do Ensino Superior no país foi responsável pela criação da Unipampa, em 2008. O ano seguinte foi de reorganização. Nomeações de servidores e professores saíram do papel e um projeto institucional criou metas para o crescimento da universidade. A maior parte delas foi cumprida, garante o professor e doutor em Educação Maurício Vieira, diretor do campus. “Em 2010 começamos a ampliar o atendimento, ofertando os cursos de gestão do turismo e licenciatura em história. Em 2012 criamos o bacharelado em política e produção cultural”, conta.

Projetos ambiciosos para o futuro

O futuro próximo reserva projetos ambiciosos para a universidade. Uma cantina já está em processo final de construção, e deve entrar em funcionamento ainda este ano. Também em 2013, a ideia é iniciar a construção de um segundo prédio, com cerca de 2 mil metros quadrados, e de uma sede para a biblioteca, que hoje possui 20 mil livros (o segundo maior acervo de todos os campi da Unipampa). 

O curso de geografia já está em fase de aprovação no Conselho Universitário da Unipampa, que é o último estágio dentro da universidade. Se aprovada nos próximos meses, a graduação poderá ser oferecida em 2014. Nas comissões internas, tramita ainda a criação das graduações de licenciatura em computação, filosofia e biblioteconomia. “Pela estrutura que temos hoje, poderíamos abrigar, pelo menos, mais mil alunos”, afirma o diretor.

O campus de Jaguarão foi também o primeiro a ter aprovado um curso na modalidade de ensino a distância. Em, no máximo, 18 meses (o curso pode também estar apto a funcionar dentro de seis meses), a graduação de Letras poderá ser ofertada. A partir de então, Jaguarão gerenciaria a oferta de mais 50 vagas através do campus de Livramento e outras 50 vagas pelo campus de Alegrete.

Impulso na cultura

Além de ofertar Ensino Superior, a Unipampa atua diretamente em processos culturais e de qualificação profissional no município. Segundo o diretor do campus, a universidade auxiliou na criação do Plano Municipal de Educação. Projetos de extensão e pesquisa também são direcionados para a comunidade, como a oferta de cursos de qualificação para quem atua em restaurantes e hotéis.

A cidade vizinha de Arroio Grande também se beneficia. No final de 2012, uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação garantiu a qualificação de 60 professores do ensino básico do município na área de educação ambiental.

“Já se planeja levar um curso de graduação para Arroio Grande. Conversamos com a antiga administração e realizamos uma audiência pública. A ideia é saber que curso eles gostariam de receber e a viabilidade para a Unipampa instalar na cidade”, adianta o professor.

Preocupação com patrimônio histórico modifica linhas de estudo

Professor de história, Cláudio Martins (PT) honrou as origens. Nos últimos quatro anos do primeiro mandato, passou a trabalhar a valorização do patrimônio histórico da cidade. O trabalho da prefeitura refletiu-se em maior preocupação da universidade com o assunto, garante o prefeito.

“Veio o curso de história e algumas linhas de estudo no curso de produção cultural e turismo também passaram a contemplar esta área”, conta Martins.

O Centro de Interpretação do Pampa, espaço que irá revitalizar as ruínas da Enfermaria Militar, já está sendo construído. O orçamento inicial prevê um investimento de R$ 6 milhões na obra. A maior parte dos recursos vem do governo federal, mas a prefeitura entra com uma contrapartida financeira.

“Assim que inaugurado, o Centro será a maior ferramenta de educação patrimonial e da área da museologia da América Latina”, garante o diretor da Unipampa. Segundo ele, a universidade será responsável pela gestão do Centro. 

O Centro será dedicado à pesquisa e à experiência sensorial e estética sobre o bioma do Pampa.

O Campus da Unipampa em números

42.943,50 m de terreno

5.626,53 m² de área construída

6 laboratórios

74 professores

21 servidores concursados

26 servidores terceirizados

1.000 alunos

5 cursos de graduação

4 cursos de especialização

1 curso de mestrado

R$ 2 milhões é o valor aproximado do orçamento anual

Chegada de alunos movimenta economia

Os mil alunos, muitos deles de fora da cidade, movimentam a economia do município e amenizam as perdas sofridas pelos comerciantes desde a implantação dos free shops, na cidade vizinha de Rio Branco.

“Se olhar pelo lado material e financeiro houve, sem dúvida, uma explosão no setor imobiliário. Aumentou a procura por casas e apartamentos e também subiu o preço dos aluguéis”, explica o prefeito Cláudio Martins (PT).

Um hotel, a 250 metros da Unipampa está sendo erguido. O investimento é da iniciativa privada, mas a prefeitura doou o terreno como forma de incentivo. 

Embora não tenha dados concretos, a presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Jaguarão, Maria Emma Lippolis cita um incremento no setor de serviços, principalmente no ramo hoteleiro.

“Até por necessidade, o setor de hotéis e pousadas precisou incrementar os serviços. A gastronomia, lojas de roupas e as festas também tiveram crescimento”, aponta a presidente.
Os ganhos são ofuscados pelo prejuízo gerado pelos free shops, segundo a dirigente lojista.

“Dezenas de lojistas fecharam as portas porque a concorrência com o comércio do Uruguai é desleal. Teve gente que foi embora da cidade para buscar o sustento”, afirma Maria Emma.
A esperança é o projeto de lei do deputado Marco Maia (PT - RS), que já foi sancionado pela presidente Dilma Rousseff.

O texto final prevê que o pagamento pelos produtos poderá ser feito com moeda nacional ou estrangeira, como o dólar. Os estabelecimentos poderiam ser concedidos às chamadas “cidades gêmeas”, como Jaguarão, Chuí, Aceguá e Santana do Livramento.

A partir da publicação da lei, a Receita Federal ficou responsável pela colocação do projeto em prática. No entanto, os comerciantes reclamam de lentidão no processo de regulamentação.

“A situação está nas mãos da Receita, mas eles não sabem o que a gente está perdendo ao longo destes últimos anos. A solução precisava ser mais rápida. Assim, muitos de nós (comerciantes) poderíamos também migrar para o sistema de free shops”, afirma a presidente da CDL.

Segundo o superintendente adjunto da Receita Federal no Estado, Ademir Gomes de Oliveira, a instalação dos free shops no lado brasileiro trata-se de uma operação complexa. Uma comissão foi criada em Brasília para estudar o caso e ainda não há previsão de resposta. 


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