Em
2002, num Encontro de Cultura no Rio de Janeiro, eu vi e convivi
alguns dias com Dércio Marques.
Ali
eu vi um brasileiro em música fazer dormir a um negrito. É que
eu vi Dércio Marques cantar Atahualpa Yupanqui.
Eu
vi um brasileiro matar a sede do povo e salvar o planeta. É que eu
vi Dércio Marques cantar a água.
Eu
vi um brasileiro fazer a reforma agrária e matar a fome do povo. É
que eu vi Dércio Marques cantar a terra.
Eu
vi um brasileiro, numa milonga de andar longe, romper o mapa e formar
o mapa de todos: mestiços, negros e brancos. É que eu vi Dércio
Marques cantar Daniel Viglietti.
'Nos
anos de chumbo perdemos todos, muito', disse o uruguaio Daniel
Viglietti neste encontro memorável no Rio de Janeiro.
Depois
eu vi um brasileiro cantar a raiva contra o silêncio e, passada a
raiva, romper o círculo do tempo. É que, vendo a vida a sua frente
e frente a si o seu passado eu vi Dércio Marques virar menino.
Tudo
isso eu vi.
Mas
hoje o menino, dormindo e grávido de nós, sorriu para morte com a
vida no coração. Isso eu não vi. Mas posso imaginar. Foi isso que
Dércio Marques veio mostrar para quem soube enxergar.
Enilton Grill
americasgrill.blogspot.com
Texto publicado na Coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional do dia 04/07/2012
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