terça-feira, 17 de julho de 2012

É QUE EU VI DÉRCIO MARQUES...




Em 2002, num Encontro de Cultura no Rio de Janeiro, eu vi e convivi alguns dias com Dércio Marques.


Ali eu vi um brasileiro em música fazer dormir a um negrito. É que eu vi Dércio Marques cantar Atahualpa Yupanqui.

Eu vi um brasileiro matar a sede do povo e salvar o planeta. É que eu vi Dércio Marques cantar a água.

Eu vi um brasileiro fazer a reforma agrária e matar a fome do povo. É que eu vi Dércio Marques cantar a terra.

Eu vi um brasileiro, numa milonga de andar longe, romper o mapa e formar o mapa de todos: mestiços, negros e brancos. É que eu vi Dércio Marques cantar Daniel Viglietti.

'Nos anos de chumbo perdemos todos, muito', disse o uruguaio Daniel Viglietti neste encontro memorável no Rio de Janeiro.

Depois eu vi um brasileiro cantar a raiva contra o silêncio e, passada a raiva, romper o círculo do tempo. É que, vendo a vida a sua frente e frente a si o seu passado eu vi Dércio Marques virar menino.

Tudo isso eu vi.

Mas hoje o menino, dormindo e grávido de nós, sorriu para morte com a vida no coração. Isso eu não vi. Mas posso imaginar. Foi isso que Dércio Marques veio mostrar para quem soube enxergar.

Enilton Grill
americasgrill.blogspot.com

Texto publicado na Coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional do dia 04/07/2012 

Nenhum comentário:

Clandestino - Gilberto Isquierdo e Said Baja

  Assim como o Said, milhares de palestinos tiveram de deixar seu país buscando refúgio em outros lugares do mundo. Radicado nesta fronteir...