(Publicadas
originalmente em Quatro por Quatro, Editora da UFPel, 2005 e
atualizadas para o Sarau Poético da Biblioteca Pública Pelotense,
em julho de 2012)
Por
Gilnei Oleiro Corrêa
Professor
de Literatura do IFSul - Pelotas
Em
07 de abril de 1962 nasceu em Pelotas, RS, o compositor, cantor e
escritor Vitor Hugo Alves Ramil. Fez seus estudos iniciais no
Instituto de Educação Assis Brasil. Em 1974 iniciou estudos de
violão clássico e piano e compôs suas primeiras canções. No
mesmo ano, venceu um concurso nacional de contos, promovido pela
Nestlé com um texto intitulado “O Fantástico Mundo do Chocolate”.
Com 14 anos, em 1976, criou o grupo “Canto, Contraponto e Fuga” e
fez seus primeiros shows. No final da década de 70, ingressou na
Universidade Católica de Pelotas, no Curso de Comunicação Social.
No
começo dos anos 80, mudou-se para Porto Alegre para continuar
estudos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em parceria com
José Fogaça, compõe a milonga Semeadura. Em 1981, gravou seu
primeiro disco estrela, estrela, pela gravadora Polygram,
no Rio de Janeiro, com a participação de músicos, cantores e
arranjadores de destaque no cenário nacional, como Egberto Gismonti.
No ano seguinte, trocou o curso de Jornalismo pelo de Composição e
Regência, na UFRGS, onde estudou piano e conheceu o professor e
músico Armando Albuquerque.
1984
foi o ano de A paixão de V segundo ele próprio, disco
experimental e polêmico que contou com a participação de
destacados músicos brasileiros. Esse disco apresentou ao público a
multiplicidade de caminhos que a inquietude de Ramil o levaria a
percorrer. Vinte e duas canções com sonoridades diversas que
transitam entre música medieval e carnaval de rua, de orquestras a
brincadeiras com instrumentos infantis, de instrumentos eletrônicos
ao bombo leguero. As letras misturavam poesia provençal,
surrealismo, regionalismo e piadas. Faz parte desse disco a clássica
mi longa Semeadura, que foi gravada pela grande intérprete
argentina Mercedes Sosa.
Entre
1984 e 1985, compôs Loucos de Cara, em parceria com seu irmão
Kleiton Ramil, e Ramilonga, canção que só viria a ser gravada
doze anos depois e que foi definida pelo cantor como “a música que
me faz chorar”.
Em
1986, mudou-se para o Rio de Janeiro e gravou o disco Tango,
pela gravadora EMI, que teve seu lançamento oficial em 1987. Nesse
disco, de repertório reduzido, a mão habilidosa do
compositor/letrista se revelou em canções rigorosamente elaboradas
e letras fortemente literárias, como a épica Joquim, recriação
a partir deJoey, de Bob Dylan.
Na
passagem dos anos 80 para os 90 Vitor afastou-se dos estúdios e
começou a dividir seu tempo entre os palcos e a literatura. “Vitor
Ramil e Nico Assunção”, “midnicht satolep” (com os amigos
Paulo Seben, Ben Berardi, Joca D’Avila e Felipe Elizalde) e
“Animais” (com Celso Loureiro Chaves) colocaram Vitor
definitivamente na estrada e superlotaram teatros pelo Brasil.
Começou a escrever a novela Pequod, seu primeiro livro.
Em
1991 voltou ao Rio Grande do Sul, primeiro Porto Alegre, depois
Pelotas. De volta a antiga casa de sua infância, Vitor ocupou-se de
música e literatura. Em 1992, publicou no livro Nós, os
gaúchos, organizado pelos Professores Luis Augusto Fischer e Sérgius
Gonzaga, o ensaio A Estética do Frio, reflexão sobre a
formação de sua identidade sulista.Em 1995, lançou em tiragem
especial, seu primeiro CD à Beça, com memoráveis canções
como Grama Verde e Foi no mês que vem. No mesmo
ano lançou, pela Editora Artes e Ofícios, a novela Pequod, que
lhe rendeu em 1996 seu primeiro prêmio Açorianos de Literatura, na
categoria Autor Revelação. A novela foi traduzida para o espanhol,
pela Professora Izabela Mozzillo e para o francês, por Luciana Wrege
Rassier.
Em
1997, gravou Ramilonga - A Estética do Frio. A poesia e a
melodia de onze “ramilongas” percorre o imaginário regional
gaúcho. A reflexão acerca da identidade de quem vive no extremo sul
do Brasil começa pela recusa ao estereótipo do gauchismo. Rami
longa é uma espécie de marco zero na
carreira de Vitor Ramil.
O
ano 2000 marca para Vitor a consolidação da parceria com músicos
argentinos, especialmente com Pedro Aznar, que produziu Tambong,
disco gravado em Buenos Aires com quatorze canções. O cantor Lenine
registrou sua voz em parceria com Vitor na canção Só você
manda em você.
No
primeiro semestre de 2001, realizou temporadas de lançamento
de Tambong em várias capitais,
destacando Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. No segundo
semestre foi a vez de Buenos Aires receber, em duas temporadas, o
comentadíssimo espetáculo.
No
ano de 2002, acompanhado por uma banda composta por músicos
brasileiros e argentinos, levou novamente Tambong em
turnê pelas principais capitais do Brasil. Em 2003, Vitor apresentou
show solo em Montevidéu, na Sala Zitarrosa, local onde tocara no
final de 2002 com o músico uruguaio Jorge Drexler. Ainda em 2003, em
turnê pela Europa, apresentou-se em Genebra e Zurique. Em Genebra
proferiu conferência no Teatro St. Gervais, tendo por tema a
Estética do Frio. Em Paris, participou do evento de lançamento,
pela Editora L’Harmattan, da tradução da novela Pequod.
Outubro
de 2004 é a data de lançamento de Longes, seu sexto disco,
gravado em Buenos Aires e produzido por Pedro Aznar. Nesse trabalho
Vitor aprofunda e aperfeiçoa a linguagem que começou a elaborar nos
discos anteriores. Simultaneamente ao lançamento de Longes,
lança, em edição bilíngue, pela Satolep Livros, A Estética
do Frio, texto da conferência produzida em Genebra.
2007
é o ano em que a Estética do Frio estabelece diálogo com o samba.
Marcos Suzano, percussionista carioca pertencente ao primeiro time da
música brasileira é o seu interlocutor e parceiro em Satolep
sambatown. Canções espetaculares comoQue horas não
são? e Invento, recentemente
gravada por Ney Matogrosso, destacam-se no disco. O Prêmio Açorianos
de Música de 2007 consagra à Vitor Ramil e ao disco Satolep
sambatown, os prêmios de disco do ano, espetáculo do ano,
melhor compositor e melhor intérprete.
Em
2008, Vitor Ramil é o vencedor do Prêmio Tim de Música Brasileira,
na categoria Melhor Cantor, por voto popular.
Em
2010 lança délibab, álbum composto de cd e DVD documental,
gravado em Buenos Aires em junho de 2009, no estúdio Circo Beat, com
12 milongas compostas a partir de milongas-poemas de Jorge Luis
Borges e dos versos de João da Cunha Vargas. O violão
inspiradíssimo de Carlos Moscardini fraseou as milongas desse
trabalho. Em Milonga de los morenos, Caetano Veloso tem
participação especial gravando, pela primeira vez, junto com Vitor
Ramil.
Em
2012, Vitor cumpre agenda de shows no Brasil, Uruguai, Argentina e
Europa, dessa vez França e Portugal recebem a música de Ramil.
Atualmente Vitor trabalha em seu novo projeto Foi no mês que
vem, álbum duplo com 30 músicas de sua autoria e do songbook
com 60 músicas. O projeto tem financiamento coletivo. Milton
Nascimento, Ney Matogrosso e Carlos Moscardini já registraram suas
participações em parceria com Vitor.
Além
disso, a obra de Vitor Ramil já foi objeto de várias teses
acadêmicas e vem sendo discutida em inúmeros eventos de literatura,
como o Festival de Inverno de Paraty e a Jornada Literária de Passo
Fundo. Esse ano Vitor é o homenageado especial do Primeiro Festival
de Inverno de Pelotas (03 a 12 de agosto).
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