Através
do conterrâneo João Pompílio Neves Pólvora, tomo conhecimento dos
55 anos do Romi Isetta, o primeiro carro produzido em série no
Brasil. A primeira unidade saiu da linha de montagem em Santa Bárbara
do Oeste - SP, ás 11h30min do dia 30 de junho de 1956. Porém, o
lançamento oficial deu-se a 5 de setembro do mesmo ano em São
Paulo, quando 16 veículos partiram em carreata de promoção para
uma concessionária situada na Marquês de Itu e circularam pelas
principais ruas e avenidas daquela capital. A data assinala o começo
da industrialização automotiva em nosso País.
E
esse fato me remete a priscas eras em Jaguarão, quando ali existiam
as revendas Ford e Chevrolet, respectivamente representadas por
Olívio Brum e José Laborda – numa época em que até os mais
abonados penavam para adquirir um carro novo – com o que se
limitavam ao comércio de autopeças. Se não me engano, os primeiros
automóveis Ford que chegaram à revenda local foram modelos de
fabricação 1949 destinados ao construtor Gaspar Scangarelli e ao
prefeito Dr. Ernesto Marques da Rocha. A Agência Ford contava ainda,
em seu leque de atendimento, com Oficina Mecânica e Posto de
Gasolina.
Parece-me
que toda oficina mecânica que se prezasse, naquele tempo dispunha do
seu próprio posto de combustíveis, como eram o caso de Cláudio P.
de Freitas e Cantídio Occacia. Daquelas mais antigas, apenas a
oficina de Martim Queijo não se dava a esse luxo. Tenho uma vaga
idéia de que havia uma bomba de gasolina Ipiranga ali na esquina das
ruas General Osório e Andrade Neves, de propriedade de Alter
Gonçalves – o que preciso conferir com as “memórias vivas” de
Cleber Carvalho e Cláudio Ely Rodrigues.
Esses
estabelecimentos eram suficientes para atender a precária demanda da
época.
Até
me recordo daquele “guarda-louça” preto e quadradão, lataria
inteira, quatro portas, os vidros enormes nas janelas e pára-brisa,
que “a gente não precisava entrar de bunda para se sentar” como
diziam os avoengos. O Marino Hernandorena, com um braço só,
pilotava esse seu flamante e antediluviano “bólido” pelas ruas
da cidade, ostentando uma privilegiada condição social. A maioria
da população valia-se de “autos de praça” nos deslocamentos
mais longos atendidos pelos “choferes” André Nunes, Celerino
Gonçalves, Gualter Silva e José Luiz Cunha, os mais conceituados.
Cheguei
a freqüentar o balcão da Ford em Jaguarão para amenas conversas
nas horas de pouco movimento com o filho do “seu” Olívio, meu
amigo Flávio Brum. Inteirava-me então das imensas dificuldades de
se colocar um carro “zero Km” nessa localidade para cumprir a
cota mensal estipulada pela montadora em São Paulo. E o Flávio se
via obrigado a seguidas viagens à Paulicéia para retirar um ou
outro veículo na porta da fábrica e ali mesmo repassá-lo a preço
de custo aos “picaretas”, sempre a postos para “tirar a corda
do pescoço” daqueles concessionários ameaçados de perder a
revenda. Mas
de uma coisa tenho certeza, Alter Gonçalves foi o pioneiro local na
comercialização de carros populares, quando conseguiu ser
concessionário de uma marca francesa. Na ocasião, recém tinha sido
lançado no Brasil o Renault La Juvaquatre, um carrinho que parecia
ser de brinquedo, 3,6 metros de comprimento e 600 kg de peso,
velocidade máxima de 95 km/h. Ideal para um casal com crianças,
tinha razoável conforto para quatro passageiros de estatura mediana.
Assim,
o Pompílio me refrescou a memória, fazendo-me visualizar aquela
incrível carreata de “La Juvaquatre” (seis mais ou menos),
puxada pelo “seu” Alter, pelas ruas de Jaguarão até a
residência do prefeito Graciliano Jerônimo de Souza - grande
administrador apesar do biótipo minúsculo - onde fez entrega da sua
primeira encomenda.
José
Alberto de Souza
Texto publicado na Coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fonteira Meridional do dia 29/08/2012
2 comentários:
Beleza, gente boa! Sensibilizou-me a belíssima reprodução que agradeço bastante honrado pela deferência.
Seu texto na Coluna Gente Fronteiriça do Meridional sem dúvida valorizam o semanário e na Confraria nos deixa muito honrados. Abração
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