Salvador Dalí - A Tentação de Sto Antonio - 1946
"O surrealismo tem sido a maçã de fogo na árvore da sintaxe". ( Octávio Paz)
Andei lendo o livro do Luís Buñuel, "Ultimo suspiro", comprado no Sebinho, aqui em Brasília, para tentar entender um pouco os filmes "Cão Andaluz" e "Idade do Ouro", ícones do surrealismo. Para quem quiser aprender um pouco sobre o tema do surrealismo no cinema esse é um documento fundamental. O conceito que atingi após a leitura é de que a obra Surrealista não é para ser entendida, é para ser sentida, e se for sentida da maneira mais chocante possível, o objetivo do artista surreal foi atingido.
Andava portanto, com essas ideias na cabeça, quando fui convidado para fazer parte do Encontro Literário " I Pedra da Palavra " em Jaguarão, 26 e 27 de junho, evento que antecipa a próxima Feira Binacional do livro que será realizado em novembro. Ocorreu-me prestar homenagem a dois grandes compositores e poetas da cidade, Hélio Ramirez e Martim César , recitando deles, poemas que me parecem profundamente surreais e que fazem parte do CD Caminhos de Si.
Ei-los:
Pesadelo (Hélio Ramirez) e Delírio (Martim César)
Acordei mais irreal do que real
Sonhando em pingar pingos de mel
E uma espada surgiu por tras dos cirrus
Cravando minha língua num bornal, animal!
Animal , Inquisidor, patas geoméricas
Boca da noite, dedo duro , mão de Algoz
Pos-me em leilão, me desfez em yogurte,
Yogurte, requeijão coloidal!
E vi minha hora então chegar
Gog, Magog, chocalho , cascavel
E um rio de massas Isabela
Num assombro me levou num turbilhão!
Deliro! E em meu delírio, feito um doido, eu pressinto
Que hoje me encontro sob as regras de outro plano
Onde só digo a verdade, na verdade, quando minto
Onde o tempo não existe e a vida é um grande engano
Um minotauro corre a esmo em seu infindo labirinto
Temeroso de encontrar, outra vez, um ser humano
Há milênios não compreende seu destino desumano
De viver em um pesadelo e morrer por ser distinto
Fera ou homem? Neste quadro em que eu me pinto
Pouco importa. São tão iguais logo após cair o pano
E se eu sou ambos, toda a dor que imponho e sinto
É duplicada pelo espelho, onde vejo um ser extinto
Quero voltar à realidade, mas é tarde!... O cotidiano
É um vampiro confundido entre sangue e vinho tinto.
E ri , como ri um Fariseu
E chorei feito um bezerro desmamado,
Pulei o muro do inconsciente feito um gato
E me refiz , como uma bola de sabão!
Jorge Passos
"O surrealismo tem sido a maçã de fogo na árvore da sintaxe". ( Octávio Paz)
Andei lendo o livro do Luís Buñuel, "Ultimo suspiro", comprado no Sebinho, aqui em Brasília, para tentar entender um pouco os filmes "Cão Andaluz" e "Idade do Ouro", ícones do surrealismo. Para quem quiser aprender um pouco sobre o tema do surrealismo no cinema esse é um documento fundamental. O conceito que atingi após a leitura é de que a obra Surrealista não é para ser entendida, é para ser sentida, e se for sentida da maneira mais chocante possível, o objetivo do artista surreal foi atingido.
Andava portanto, com essas ideias na cabeça, quando fui convidado para fazer parte do Encontro Literário " I Pedra da Palavra " em Jaguarão, 26 e 27 de junho, evento que antecipa a próxima Feira Binacional do livro que será realizado em novembro. Ocorreu-me prestar homenagem a dois grandes compositores e poetas da cidade, Hélio Ramirez e Martim César , recitando deles, poemas que me parecem profundamente surreais e que fazem parte do CD Caminhos de Si.
Ei-los:
Pesadelo (Hélio Ramirez) e Delírio (Martim César)
Acordei mais irreal do que real
Sonhando em pingar pingos de mel
E uma espada surgiu por tras dos cirrus
Cravando minha língua num bornal, animal!
Animal , Inquisidor, patas geoméricas
Boca da noite, dedo duro , mão de Algoz
Pos-me em leilão, me desfez em yogurte,
Yogurte, requeijão coloidal!
E vi minha hora então chegar
Gog, Magog, chocalho , cascavel
E um rio de massas Isabela
Num assombro me levou num turbilhão!
Deliro! E em meu delírio, feito um doido, eu pressinto
Que hoje me encontro sob as regras de outro plano
Onde só digo a verdade, na verdade, quando minto
Onde o tempo não existe e a vida é um grande engano
Um minotauro corre a esmo em seu infindo labirinto
Temeroso de encontrar, outra vez, um ser humano
Há milênios não compreende seu destino desumano
De viver em um pesadelo e morrer por ser distinto
Fera ou homem? Neste quadro em que eu me pinto
Pouco importa. São tão iguais logo após cair o pano
E se eu sou ambos, toda a dor que imponho e sinto
É duplicada pelo espelho, onde vejo um ser extinto
Quero voltar à realidade, mas é tarde!... O cotidiano
É um vampiro confundido entre sangue e vinho tinto.
E ri , como ri um Fariseu
E chorei feito um bezerro desmamado,
Pulei o muro do inconsciente feito um gato
E me refiz , como uma bola de sabão!
Jorge Passos
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