Fotografia Araquém Alcântara |
A
alma é livre, mas as coisas do mundo nos fazem colocar alguns
pesinhos nos pés, manter o equilíbrio e não voar tão alto...
Afinal de contas, o ser humano não foi feito para voar. Sempre que
vou aos céus lembro disso, e procuro descer rapidinho. Já foram
tantos tombos, de lugares tão altos, que prefiro não mais me
arriscar.
Será?
Ah...o ser humano é contraditório também. Por isso, dia desses
coloquei minhas asas coloridas e sobrevoei meus vários jardins. Um
novo, florescendo. Flores delicadas, machucadas pelo temporal. Ali
pousei lentamente, e na hora de ir embora, fui embora como brisa,
batendo as asas com cuidado. Ainda circulei pelas flores coloridas,
alegres, amigas.
Logo
adiante, um vendaval me atingiu e meio tonta, fechei as asas, tentei
colocar meus pés no chão, mas mesmo assim o vento me arrastou ao
passado com toda fúria. “Voltamos, por que na verdade, de lá
nunca saímos”, soprou ao me trazer de volta.
Fiquei
meio que ao meio. Mesmo sabendo dos riscos e prazeres de voar, sempre
me surpreendo com todas as sensações que me proporciona. Ao bater
as asas espalho meu pólen, e carrego comigo o aroma e a essência de
todas as flores.
Quando
volto, é necessário esse doloroso processo de mutação. Entrar
para o casulo, transformar as asas em pés, e pisar novamente o chão.~
Maria
Fernanda Passos
Texto publicado na coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional do dia 10/10/2012
Um comentário:
Aqui estou, cativo em desterro eterno, na espera que tu, ave arribadora, tragas contigo pólen de amor para fecundar este ermo ávido de vida!
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