quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Elegia à Vida




Fotografia Araquém Alcântara 


Insano fenômeno é o movimento
Eterno da vida.
Para acontecer, necessita
Da morte.


Que mistérios encerra
Em suas entranhas, que
Justificam esta trajetória:
A Natureza equivocou-se,
Ao planejar o Homem?

Sobre nossas cabeças
(em pensamentos),
Voam soturnos os pássaros
Que, conselheiros de maus agouros,
Sempre prenunciam o fim.

Vestem-se de véus escuros
As idéias dos que,
Medindo seus milimétricos
Momentos, atracam-se
Nos inseguros portos
Do querê-los perenemente.

Em dias de confinado
Pensar, penamos sob
A foice que não controla
Esta ampulheta, reguladora
De um finito tempo animal.

E é assim o tempo.
Impõe regulamentos,
Define o destino, semeia
E colhe de chofre
Os que acreditam na eternidade.

E destas sementes espargidas,
Pouco se nutre o espírito,
Senão rotas sensações de
Que um dia passou pela terra,
Para, em seguida, virar pueril poeira.

E que sentido imprimir
Na gráfica da história,
Tão somente ter-se transformado
Em simples humus, após
Uma breve putrefação?

Os poetas malditos,
Seja os Gregórios, Rimbaud’s, Baudeleire’s
Os Leminski’s, Cacazos, Cruz’s,
Dentre tantos morreram pela poesia.

Veja você:
Dos Anjos liberou sua
Alma rebelde, para que
Falássemos dele, de suas poesias.
Mas, como falar de sua agonia
Em versos solenes?

Viveram tão pouco.

Contudo, seus versos
(tão íntimos), deixaram-os
eternamente aqui.

Mas não foram eles, só...
E não o serão, neste torvelinho
Desalinhado dos versos;
A poesia exigida por Tanatos no entanto
Pressupõe que, enxergando
Além da vida, matemos a morte.

E não a convidemos para
Nosso funeral, sob o risco
De ser a atriz principal
Desta cena.

Ela quer choro.
Queremos inflamadas declamações!
Ela quer tristeza,
Exigimos a natural e
Intensa compreensão
Do começo e do fim material de um corpo;

Contrariemo-la contudo,
Com o início e o continuar
De uma alegre lembrança
Do existir permanente
(mas não cultuemos somente fotos esquálidas).

Ela impõe o medo.
Desafiemo-la
Cruzar a estrada de cada um,
Momentos seguintes.

Busquemos assim,
O reencontro de nós
Desatando os vários nós;
Que aprisionam a felicidade,
Na limitada redoma do existir
Passageiro de um trem sem destino.

E, para terminar, publiquemos
Num jornal de grande circulação
O anúncio de que a Morte foi
Demitida.

Assim, encontra-lá-emos pois,
Num banco de parque,
Soletrando os classificados
De empregos diversos...
Eis a sua importância!
Costa Santos ( BH - 1990)

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