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Conflito entre produtores rurais, quilombolas e indígenas no Sul do país
23/Out/2011 Por Paola Lima
Foto de Marcelo Bertani
A demarcação de terra para comunidades indígenas e
quilombolas e seu impacto no setor rural foram discutidos na tarde desta
sexta-feira (21) em audiência pública promovida pela Comissão de
Agricultura e Reforma Agrária do Senado (CRA) em Porto Alegre (RS). O
debate, que acirrou ânimos de produtores rurais, índios e negros, reuniu
mais de 500 pessoas no Teatro Dante Barone, na sede da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul.A questão da demarcação de terras no Sul do país vem provocando enfrentamentos entre agricultores, indígenas e afrodescendentes, o que fez com que a senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) promovesse o debate no estado. Comunidades de índios e negros reclamam a devolução das terras que pertenciam a seus antepassados, de onde foram expulsos de forma violenta à época da colonização do país.
Um dos pontos de maior polêmica é a demarcação e titulação de uma área de mais de 4,5 mil hectares, na zona rural de Morro Alto, Litoral Norte. O Incra, junto com historiadores e antropólogos do estado, promoveu um estudo para delimitação da área, reivindicada para 456 famílias quilombolas (193 delas já vivem no local). O estudo, no entanto, é contestado por pequenos agricultores que produzem na região e asseguram serem proprietários legais das terras. O impasse gerou protestos e manifestações, tanto por parte dos quilombolas quanto dos produtores.
- É preciso mudar a ideia de que quilombolas e indígenas são os vilões, são aqueles que estão retirando as terras dos pequenos produtores. Queremos apenas que se respeite o direito à nossa existência, como quilombolas e indígenas, direito esse garantido pela Constituição Federal e pelos tratados internacionais que o Brasil subscreve. A única forma de se construir uma verdadeira democracia no campo neste pais é se reconhecendo e respeitando os direitos de todos os povos, respeitando a lei e não apostando na continuidade da violência e do genocídio - afirmou Onir Araújo, advogado do Movimento Negro Unificado.
Para o índio Francisco dos Santos, representante da aldeia de São Leopoldo, deve, sim, haver respeito às propriedades dos agricultores, mas não quando elas estão instaladas em cima das terras historicamente indígenas.
- É justo que os trabalhadores precisam trabalhar na terra. Mas não onde tiver índio. Aí vamos brigar. Nós todos sofremos, mas eu não sou o culpado, vocês (produtores) que embarcaram numa barca furada - argumentou.
Direitos iguais
Já os agricultores afirmam que as demarcações de terra extrapolam os limites a que as comunidades teriam direito e incorporam terras produtivas, compradas por suas famílias ao longo das últimas décadas. Eles argumentam que, assim como negros e índios, eles também devem ter seus direitos protegidos pelo Estado.
- Precisamos construir com governo e com sociedade um outro contrato social que permita ao Estado fazer justiça com quilombolas e indígenas sem fazer injustiça com os produtores. As comunidades remanescentes têm direito à terra, mas o Estado também precisa contemplar os agricultores. Longe de qualquer preconceito com quilombolas ou índios - defendeu o deputado federal Alceu Moreira (PMDB-RS), titular da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados e um dos signatários da audiência pública conjunta.
Da discussão participaram ainda o superintendente do Incra no Rio Grande do Sul, Roberto Ramos; o coordenador substituto regional da Funai, José Maurício Farias; a subchefe da Casa Civil do Rio Grande do Sul, Mari Peruso; parlamentares e prefeitos da região, entre outros.
Para a senadora Ana Amélia, é preciso encontrar soluções legais para a questão. Entre as propostas apresentadas na reunião estão a suspensão dos processos de desapropriação de terras para análise mais cuidadosa dos estudos de demarcação, a revisão das leis que tratam do assunto, e a participação dos produtores rurais nos processos em andamento.
- Não podemos nos omitir, estaremos nesta discussão para, com equilíbrio, racionalidade, respeitando os direitos, seguir e cumprir com as leis - prometeu a senadora, depois de avisar que todas as sugestões serão analisadas pela Comissão de Agricultura do Senado.
Portal do Senado Federal
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