Vitor Ramil - Sapatos em Copacabana
Andei recentemente pelo
Rio de Janeiro. Selecionaram um trabalho de minha pesquisa sobre o direito de
propriedade e fui apresentá-lo em um congresso internacional de filosofia. Pousei
no Astória, em Copacabana. No caminho entre o hotel e a estação do metrô - meu
ponto de embarque para ir até o campus da Universidade Estadual do Rio de
Janeiro -, eu caminhava duas ou três quadras por uma ruazinha muito simpática.
A dita se chama Rua Tonelero; Isto! Aquela, do cabuloso atentado contra Carlos
Lacerda, que precipitou a crise política e que culminou com o suicídio de
Getúlio Vargas.
Lembrei Sapatos em Copacabana do Vitor Ramil: Sei que não tenho nome,/ só minha juventude.
No meu caso nem isso, mas lembrei dos tempos idos; de minha juventude, meu
grupo de amigos, visceralmente ligados ao horizonte cultural que o Rio de
Janeiro representava. Semanalmente íamos à Tabacaria
do Zé conferir se já tinha chegado o Pasquim.
Já? Opá! Que regalo! Sentávamos ali mesmo – havia assentos no canteiro central
da Vinte e Sete; nem dava para
esperar chegar em casa. O Hélio era fã do Jaguar (cartunista genial, sem
dúvidas), o Dídio lia o semanário de cabo a rabo e eu, bueno, eu me deliciava
com as coisas que o Luiz Carlos Maciel (gaúcho) escrevia sobre teatro e sobre a
contracultura. Obviamente éramos todos leitores aficionados do, igualmente
gaúcho e genial, Tarso de Castro.
O
Pasquim representava exatamente algo que era muito a nossa cara: a multiculturalidade
- que é um traço inarredável de qualquer unificação política heterogênea, como
é o caso do Brasil, e que precisa expressar afirmativamente as diferenças, sem
que, no entanto, venha a perder a unidade. Esta unidade na diferença, que é o germe
da grande política, também é uma marca muito própria da nossa gente de
fronteira, que convive com o diferente sem abdicar daquilo que lhe é
constituinte – do seu ser brasileiro, do seu ser uruguaio, do seu ser
argentino, ou paraguaio, boliviano, venezuelano, chileno, etc.
Voltando ao Rio de
Janeiro, sem medo de ser provinciano, o
Rio de Janeiro continua lindo, a enseadita do tal bairro Botafogo é mesmo
um cartão postal – um gole de água fresca pros olhos!
Sérgio Batista Christino
Texto publicado na coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional do dia 20/10/2011
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