Marcuse, um dos Teóricos de Frankfurt |
E
então? Vencemos o crime?
Já ninguém mais nos oprime
Pastores, pais, lei e algoz?
Que bom voltar pra família!
Viver a vidinha à pilha!
Yuppies sabor baunilha
Era uma vez todos nós!
Já ninguém mais nos oprime
Pastores, pais, lei e algoz?
Que bom voltar pra família!
Viver a vidinha à pilha!
Yuppies sabor baunilha
Era uma vez todos nós!
(Belchior
– Os Profissionais)
A
canção de Belchior, acima, lança um desafio àqueles que, uma vez
idealistas contra as vicissitudes do capitalismo se deixam dominar
pelo charme da vida na sociedade industrial. Ceder ao mencionado
fascínio, seria, imaginemos, por exemplo, cuidar que os shoppings
centers definem um padrão de vida ideal,
como que pairando acima da espessura do restante do cotidiano, e
sempre de um gosto muito apurado. Onde a música ambiental seleta
esteja sempre presente. Por certo, estarão ali, chanceladas, as
luminosidades languescentes das joalherias, que com seus reflexos
evocam tesouros misteriosos; um arranjo floral em corbelha de vime
insinua o trabalho humano decorativo, e lá estarão os dorsos
delicados das manequins, cobertos com o requinte do tecido que parece
mais acariciar do que vestir.
Pessoas, de impoluta determinação, os freqüentadores assíduos das galerias, não deixam, entretanto, de perceber, com um pequeno desgosto, certas contrariedades que de vez em quando podem ocorrer. Será aquele inoportuno gerente que, alheio à isenção que o ambiente reclama, debruça-se no balcão e de cenho franzido examina documentos contábeis. Ou ainda o sindicalista desairoso que adentra um por um dos estabelecimentos para distribuir com espalhafato alguma convocação.
Estes shoppings centers são o cartão de visitas da pretendida administração total, onde o funcional e o artístico se fundiriam. Herbert Marcuse, em A ideologia da sociedade industrial, aponta que, até mesmo, um maior grau de liberdade sexual está inserido na maneira de operar da civilização industrial, diz: Esta é uma das realizações originais da sociedade industrial - tornada possível pela redução da sujeira e do trabalho físico pesado; pela disponibilidade de roupas baratas e atraentes, cultivo da beleza e higiene física; pelas exigências da indústria de propaganda etc. As escriturárias e balconistas sensuais, o chefe de seção e o superintendente atraentes e viris são mercadorias altamente comercializáveis ...
As necessidades humanas que estão além da esfera biológica são precedidas por um estilo de vida, por uma orientação do desejo, por uma seleção do que deve ser adquirido, possuído, alcançado. Com isso instaura-se um campo de disputa, no qual as diferentes propostas versam sobre uma poética do ser neste espaço onde se vendem e se compram mercadorias. Eis a multiplicidade de uma disputa que vai do shopping center ao camelódromo. Por isto os free-shops estão em constante mutação.
Sérgio
Batista Christino
Texto
publicado na Coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional
em 06/06/2012
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