Nos
amamos, lembra, daquele amor de tanto tempo atrás? Aquele que não
amamos, no beijo que não demos? Lembra daqueles sonhos que tivemos
um com o outro, mesmo que nunca tenhamos sido um do outro, e mesmo
que provavelmente nunca consigamos ser.
Lembra
das coisas que escrevi pra ti, pros dias em que não estivestes ao
meu lado, nas fotos que não tiramos juntos, nos espaços que sempre
preenchemos com alguém que não éramos nós. Nos amamos tanto,
mesmo não tendo amado nunca, nos amamos desse jeito desamado, dessa
forma, imprecisa, imprevisível, eterna na nossa total falta de estar
juntos, nesse mundo, em que eu não preciso te abraçar pra ter te
aqui, por que nunca te tive, e por que ambos sabemos, jamais nos
teremos.
Imprecisos?
Nada pode ser mais nosso do que nossa imprecisão, nossa imperfeição
de ser perfeitos nisso que não temos, nunca tivemos, e nunca
teremos. Mesmo assim, preciso falar que me traduzo em ti, e precisas
me dizer que eu devo dizer isso pra todas, e precisas dizer que
minhas palavras são exatamente o que pensar, para que eu sorria ao
te ler, como sorris ao me ler, eu sei que sim, posso sentir, nesses
sentidos todos que temos um no outro, na distância que nos une de um
modo inexplicável.
Nos
amamos, lembra? Ainda nos amamos, do nosso jeito, embora,
provavelmente nunca nos amemos mesmo, muito embora, tenhamos iniciado
pelo cabo, e posterguemos esse cabo nesses fantásticos diálogos
virtuais, em que te vais e eu me vou pra uma vida que não nos lembra
um do outro. Nos amamos, lembra? Será que um dia esqueceremos?
Nicolás
Gonçalves
Texto publicado na Coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional do dia 23/05/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário