Inconstância das coisas do mundo!
Nasce o Sol e não dura mais que um dia,Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas e alegria.
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz falta a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se a tristeza,
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza.
A firmeza somente na inconstância.
Nave de Igreja em João Pessoa - Foto J. Passos
DILEMA
Para sempre, em duas metades, repartido
Sem saber qual sou eu, dentre essas partes
A racional - feito um discípulo de Descartes
A passional - feito um escravo de cupido?
Seguir a fé, com os seus ritos e estandartes
Sem questionar o porquê de haver nascido
Ou seguir a ciência onde tudo tem sentido
Menos o amor que faz nascer todas as artes?
A eterna dúvida do que sou, guardo comigo
Qual um dilema, consumindo a minha mente
Feito a resposta que, em vão, busco e persigo
Há dois caminhos a seguir, mas qual eu sigo?
Sou um que pensa e, também, outro que sente
Digo o que sou, mas nunca sou isso que digo!
Martim César Gonçalves
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