Ao Hélio Ramirez
Deu-se na Curuzu; da igreja para o quartel é a penúltima das ruazinhas que descem para o rio; aladeirada e um pouco ancha. Por ali moravam Dom Ala, o Eli Glória-Deus-nas-alturas, o Antoninho Costa Coelho e tantos.
Deu-se pelo meio-dia, num verão de há muito. Quietude, calor; na hora que custa a passar, que se arredonda e que ensurdece. Um galo, de patas para o ar, rolava; as penas do lombo dourando de pó. Isso era na esquina de cima, onde ficava o armazém de Dom Ala, testa alta, já de meia idade, homem rosado, macilento, de sorriso estúpido, meio oriental, meio brasileiro. O galo era dele, chamara-o Fausto. Bicho estimado. Contava Ala que a avezinha comportava-se como ouvinte atencioso à leituras bíblicas.
No então, Fausto empoeirava-se ao sol. A porta do armazém entreaberta mostrava o escuro, o quieto, o manso.
Aquela rua, a mais da metade, era um ladeirão poerento. Da altura do armazém via-se pouco da margem do rio, lá embaixo. Mais ali, descendo, à sinistra de quem sobe, morava o Seu Tunequim Favo, que melava como ninguém, diziam. Escafandro, aparelhado em botas, chapéu com um filozinho em torno da aba, e mais o diabo a quatro, cientista da abelha e do mel.
Sol pinante, o galo rolando, rolando ... tudo preguiça. Era olhar e bocejo. Eis que, de vagar, lá no pé da Curuzu, começaram a aparecer uns cobres reluzentes; curvas, ancas e lombos avermelhados movendo-se morosas. A cavalhada da guarnição, que tinha sido levada a refrescar-se. Agora retornavam, a água ainda escorrendo. A bicharada vinha vindo, cordial, até. Quando muito assoavam as ventas irisando o ar com umidade minúscula. Sinuelando, um praça franzino montava um zaino. Era coisa de cem cavalos! Na cerra-fila, uma zorra verde suportando uma pipa d’água, produzia um chiado sonolento, reiunassa. E era só, mais barulho não tinha, os cascos batiam leve no pó como se fosse talco. Cem cavalos subindo a Curuzu em silêncio.
Uma cigarra soou o alarma. E foi o inferno! Dinâmica de patas e crinas. Rinchos e relinchos. Cavalos por toda a parte, cascos e sangue. Coices! O demônio solto. Alguém gritou: “As abelhas! As africanas!”. Só aí é que se ouviu o zumbidão medonho. Ferrão sem trégua. Os cavalos dispararam na rosa-dos-ventos, subiam calçadas. Era prá lá e prá cá. E a zorra solta, misturando água e sangue, e uma lama vermelha resvalava a cavalhada.
Após, que o tempo não se mediu, nem dava. Dom Ala viu seu Fausto. Uma roda do carro o sinistrara. Tudo era prejuízo, de cima a baixo. Tudo avaria.
Deu-se pelo meio-dia, num verão de há muito. Quietude, calor; na hora que custa a passar, que se arredonda e que ensurdece. Um galo, de patas para o ar, rolava; as penas do lombo dourando de pó. Isso era na esquina de cima, onde ficava o armazém de Dom Ala, testa alta, já de meia idade, homem rosado, macilento, de sorriso estúpido, meio oriental, meio brasileiro. O galo era dele, chamara-o Fausto. Bicho estimado. Contava Ala que a avezinha comportava-se como ouvinte atencioso à leituras bíblicas.
No então, Fausto empoeirava-se ao sol. A porta do armazém entreaberta mostrava o escuro, o quieto, o manso.
Aquela rua, a mais da metade, era um ladeirão poerento. Da altura do armazém via-se pouco da margem do rio, lá embaixo. Mais ali, descendo, à sinistra de quem sobe, morava o Seu Tunequim Favo, que melava como ninguém, diziam. Escafandro, aparelhado em botas, chapéu com um filozinho em torno da aba, e mais o diabo a quatro, cientista da abelha e do mel.
Sol pinante, o galo rolando, rolando ... tudo preguiça. Era olhar e bocejo. Eis que, de vagar, lá no pé da Curuzu, começaram a aparecer uns cobres reluzentes; curvas, ancas e lombos avermelhados movendo-se morosas. A cavalhada da guarnição, que tinha sido levada a refrescar-se. Agora retornavam, a água ainda escorrendo. A bicharada vinha vindo, cordial, até. Quando muito assoavam as ventas irisando o ar com umidade minúscula. Sinuelando, um praça franzino montava um zaino. Era coisa de cem cavalos! Na cerra-fila, uma zorra verde suportando uma pipa d’água, produzia um chiado sonolento, reiunassa. E era só, mais barulho não tinha, os cascos batiam leve no pó como se fosse talco. Cem cavalos subindo a Curuzu em silêncio.
Uma cigarra soou o alarma. E foi o inferno! Dinâmica de patas e crinas. Rinchos e relinchos. Cavalos por toda a parte, cascos e sangue. Coices! O demônio solto. Alguém gritou: “As abelhas! As africanas!”. Só aí é que se ouviu o zumbidão medonho. Ferrão sem trégua. Os cavalos dispararam na rosa-dos-ventos, subiam calçadas. Era prá lá e prá cá. E a zorra solta, misturando água e sangue, e uma lama vermelha resvalava a cavalhada.
Após, que o tempo não se mediu, nem dava. Dom Ala viu seu Fausto. Uma roda do carro o sinistrara. Tudo era prejuízo, de cima a baixo. Tudo avaria.
Sérgio B. Christino
2 comentários:
É muito bacana a coloquialidade do recorte - quase cienematofráfico!!!!
Muito bem descrito! Bucólico!
Dá para imaginar a época!!!
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