terça-feira, 28 de setembro de 2010

Sugarranha, arranhasuga

O Beijo - Francis Picabia



Um dia antes de nascer um anjo me disse:

Vai loira, vai ser trouxa na vida!


Só que o anjo não sabia,

O que tinha escondido...

O cabelo era tinta,

Mas o terço bizantino.


Assim ela nasceu,

Careca de dar dó,

Teve o couro cabeludo

besuntado de xodó.


Era como a princesinha

De contos de fada e só

Mas o lobo apareceu

E felicidade lhe prometeu.


Não é que o malvado lobo

Só queria sua cestinha?

Comeu todos os biscoitinhos,

Da casa da vovozinha!


Um dia aquela situação

Foi pro espaço com uma revelação.

O anjo reapareceu

E um beijo lhe deu.


Disse que fora louco

De dizer tanta maldição

E que era na verdade

um baita dum bundão.


Ela logo percebeu

Que anjo não cai do céu

Toda aquela saudade

Era pura insolação.


Podia ser o lobo disfarçado de capitão.

Foi aí que ela sentiu,

Seu peito arrebentar,

Doeu tanto, tanto, tanto

Que seu riso fez-se pranto.


Depois de tanto chorar

A bobinha se calou,

Não falou um palavrão

E meteu-se num porão.


Por lá ficou até a raiva passar,

Pode vir anjo, pode vir lobo,

Vais comer do meu passar,

E não mais enganar...


Ainda penalizada

Dela mesma e da passarada

Gritou pro anjo- lobo

Sua tampa ta amassada!!!


Analva Passos (set 2010)

2 comentários:

Silvia disse...

Espectacular. Dolor, rabia y resurrección!!! Un deleite leerlo. Que imaginación maravillosa.

Analva Passos disse...

Obrigada Silvia! Gosto de brincar com as palavras. Um abraço.

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