Estar frente ao outro, um outro que mesmo com as similaridades é dessemelhante, eis o cenário em que nos movemos e onde aprendemos a conviver com outra cultura, outra arte, outro modo de pensar, outros costumes. Práxis que caracteriza esta gente fronteiriça, o reconhecimento de um espaço próximo, porém diferente, que não nos pertence e o qual aprendemos a respeitar. Portanto, ao contrário do que se pensa, a virtude da fronteira não está na igualdade, mas na diversidade que se comunica.
No momento em que Jaguarão enfrenta novos desafios com uma Universidade Federal, abrigando estudantes vindos de várias regiões do Brasil, com os novos meios de comunicação que nos conectam ao mundo, com o reconhecimento de um patrimônio histórico que nos coloca em evidência nacional, creio ser interessante refletir sobre outras fronteiras, limites, a que somos confrontados e não nos apercebemos.
Deixamos o isolamento, a pequenez. Navegamos na modernidade.
Parafraseando um tal de R. Kooper, diria que a próxima fronteira não está à nossa frente, mas dentro de nós.
Se por um lado, conseguimos com êxito reconhecer o outro numa fronteira externa, delimitada por uma ponte, por um rio, por uma língua, há um longo caminho a percorrer nestas outras fronteiras disfarçadas e que vamos descobrindo.
Uma delas está sendo enfrentada e transposta. Os muros erguidos em relação à contribuição do negro na construção desta cidade e deste estado, estão sendo derrubados no resgate das tradições dos povos africanos, que ficaram sempre segregadas ou marginalizadas. Alguns exemplos disso: a Festa de Iemanjá que tomou a avenida 27 de Janeiro e revelou ao povo jaguarense a manifestação religiosa e de arte popular das religiões Afro –brasileiras. O trabalho da historiadora Juliana Nunes sobre o Clube 24 de Agosto e seus blocos carnavalescos, desvelando essa imensa contribuição negra na nossa arte e música.
Na Semana da Consciência Negra em novembro de 2010, o pesquisador Paulo Moreira, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, apresentou-nos o fascinante personagem jaguarense e quase desconhecido para nós, Aurélio Virissimo Bittencourt, negro e filho de escravos, braço direito dos Governadores Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros.
Noutra ação de enfrentamento das fronteiras ocultas, há o importante projeto “Arte de rua aos quatro ventos” como um espaço de valorização da arte construída pelo jovem excluído da periferia, a dança de rua, o graffiti, o samba, o rap. Promovido pela parceria Secult e SIC, a continuação depende da captação de novos recursos.
Muito ainda há por fazer, o “à meia-volta volver” não é mais uma possibilidade. As fronteiras existem para serem transpostas. Mãos, mentes e corações à obra.
Jorge Passos
Texto publicado na Coluna "Gente fronteiriça" do Jornal Fronteira Meridional, dia 20/04/2011
Um comentário:
Gostaria de saber o nome das pessoas que aparecem na foto do bloco do 24.
Aglaé Rodrigues
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