Aos façanhudos que fazem do lixo, sobrevivência.
LIXÃO
Como me havias
pedido
Amassei todos os
nossos poemas, canções, hai-kais,
Que falavam de
amores secretos
E joguei no lixo.
Junto com os
dejetos da cidade
Embarcaram e foram
triturados.
Mesclaram-se,
esperam a decomposição.
Mas, antes desta
fatalidade,
A força da palavra parece
revolucionar a fedentina.
Uma azeda caixa de
leite Danby
Se enruga toda ao
ouvir de um
Desbotado tubo de
Avanço:
“- eu tremia- e
amava-
As estrelas me
miravam
A noite dormia
E eu pensava em
ti”.
Entre o monturo,
Ressoa o eco das garrafas
de plástico
Recitando para um
bando de vasilhames de cartão:
“Vem e sente meu
cheiro de mulher, tua, nua,
Esperando você no alvorecer a revelar-te em mim”.
Esperando você no alvorecer a revelar-te em mim”.
Um sapato velho,
como não poderia deixar de ser,
Cantava a uma meia
rota:
“Se não eu quem vai
fazer você feliz”.
O que restou de um
pernil de carneiro
Já em putrefação
Sussurrava a uma
coxa de galinha estragada:
“De que me servem
minhas pernas,
Se não me conduzem
no caminho dos teus passos
Nem enlaçam em
abraço tuas coxas sensuais”?
De longe, um
escovão de aço já careca
Gritava angustiado
A uma tampa de
panela enferrujada:
“Que força cósmica
nos colocou nesta distancia”?
E todos...todos -
desde o mais reles saquinho de nylon
Até a mais cobiçada
lata de cerveja reciclável -
Todos liam e
repassavam
Nossos fragmentos
de paixão despedaçados.
E assim, daquela
matéria em processo de corrosão
Elevou-se um
murmúrio, quase uma sinfonia
Impregnando de vida
o aterro sanitário.
Neste dia
Quem vive (e se
alimenta)
Da coleta e
separação destes resíduos
Em solene atitude
de respeito
Não trabalhou.
Jorge Passos
Um comentário:
Lindo amore! Gostei do escrito na caroça...Ecologicamente aceito... hehehehe
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