Foto: Maria de Fátima Bento Ribeiro |
Houve uma ordem:
colocar abaixo uma árvore com o tronco seco para utilizar a madeira
na feitura de uma cerca. O sargento, com sua usual enérgica voz,
determinou que três dos seus soldados se dirigissem ao bosque do
campus universitário e derrubassem aquele enorme eucalipto
localizado nos fundos do auditório. Um acordo entre o Exército e a
Universidade possibilitava essa ação. Os militares, muitas vezes,
realizavam a limpeza da área aberta do campus. Cortava-se o capim,
juntavam-se entulhos e recolhia-se o lixo que inadvertidas pessoas,
eventualmente, jogavam no local. Em contrapartida, tinham autorização
para subtrair algumas das árvores condenadas. Um biólogo havia
diagnosticado e indicado os caules mortos e que deveriam ser cortados
para evitar que, em caso de fortes ventanias, causassem estrago ao
patrimônio material, fosse de algum dos prédios ou mesmo um
automóvel parado no estacionamento.
A tarefa era
simples. Os três soldados tinham prática e, com isso, condições
de executá-la com todo o cuidado. O som da motosserra era um tanto
perturbador e até assustador, mas com o tempo eles já tinham se
acostumado. Algumas cordas seriam necessárias para amarrar os galhos
altos e, assim, não deixar que, na queda, destruíssem um telhado ou
mesmo a cabeça de um indivíduo.
O trabalho foi
rápido e considerado eficiente. Algumas poucas horas de uma tarde
foram suficientes para organizar e realizar a ordem dada. Depois foi
só carregar a matéria-prima produzida para ser utilizada na cerca.
Na manhã
seguinte, os acadêmicos estavam reunidos no auditório. Estudantes,
técnicos administrativos e professores participavam de estudos de
planejamentos estratégicos para o campus. Coordenadores e
Pró-reitores da Universidade desenvolviam oficinas, visando criar e
estruturar projetos. Entre uma explanação e outra, entre uma
intervenção e outra, todos se encantavam com a bucólica presença
de um pica-pau na janela. Junto ao vidro e aos gritos, ele parecia,
com insistência, querer participar dos debates. Talvez porque
encantado com inusitada imagem, aquele público não reparou que os
saltos e bater de asas do pássaro eram de desespero. Se tivessem
tido maior atenção, teriam até visto lágrimas nos olhos do
pica-pau. Ele não tinha mais um toco para picar. Ele não tinha mais
o seu ninho. E ele nunca mais viu seus pequenininhos pica-paus que,
até a tarde anterior, não tinham ainda aprendido a voar.
Carlos Rizzon
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