quarta-feira, 9 de novembro de 2011

V Conferencia Internacional do Bioma Pampa - A importância da Cultura na Região que sediará o Centro de Interpretação do Pampa

Lincando com o discurso de Marco Maia, presidente da Câmara, que cobrou ações humanas para potencializar a região, Fátima Bento Ribeiro (Unipampa) disse que o Fronteira Culturales é um exemplo de ação humana, além da própria universidade com novos cursos e o Centro Cultural.


O painel II - Cultura no Bioma Pampa - movimentou a manhã de debates na V Conferência Internacional do Bioma Pampa trazendo aspectos e práticas culturais da região.
A primeira parte foi apresentada pela professora Maria de Fátima Bento Ribeiro, diretora da Unipampa Unidade Jaguarão, que trouxe o relato sobre o episódio da Carta Fronteiras Culturales - um documento coletivo dos povos da Fronteira - que pensa os pontos que mostram a importância de uma legislação própria para a região e propõe o Seminário Brasil Uruguai de Cultura que trata das políticas de cultura para a Faixa. "É um documento desconhecido, mas é um marco, porque traz uma proposta clara para a cultura. Traz ainda a proposta de uma cartografia de Fronteira, com a participação do IFsul, UfPel, entre outras instituições", contou.
Outra ação da Unipampa foi a aprovação do curso de Produção e Políticas Culturais, inédito no Rio Grande do Sul, que trata da economia da cultura e políticas para a área. "É uma ação humana para pensar a cultura na região, junto com a Pós-graduação voltada para a cultura e cidades de Froteira", informou.
A professora citou a frase de um pensandor sobre as regiões fronteiriças. "Existe uma magia para quem vive na Fronteira e a magia é a convivência com o outro", relatou.  "A grande lição do mundo é saber conviver com o outro e por isso a Fronteira tem essa característica, potencializada pela cultura pampeana, que não é brasileira, ela é brasileira, uruguaia e argentina", disse.
Com uma palestra rica em informações culturais, Fátima contou ainda sobre a criação de um Centro Cultural chamado Centro de Interpretação do Pampa, localizado nas ruínas de uma ex-enfermaria Militar tombada em Jaguarão, com espaço para artistas, para a paleontologia, para arquitetura, colocando em relevo a mestiçagem da Fronteira e os costumes.
"O Centro terá uma tecnologia em que a pessoa terá junto com as imagens sensação de frio, calor, vento, com sensações diversas. Haverá na historiagrafia uma sessão de genética dos povos da região, com sua ancestralidade bem trabalhada", disse.
"O gaúcho do pampa tem uma forte ancestralidade africana no lado materno e no paterno, espanhóis e portugueses. Esse dado é rico também porque o Centro Cultural terá um espaço dedicado à genética", ressaltou.
Lincando com o discurso de Marco Maia, presidente da Câmara, que cobrou ações humanas para potencializar a região, Fátima Bento Ribeiro disse que o Fronteira Culturales é um exemplo de ação humana, além da própria universidade com novos cursos e o Centro Cultural.
Alan Melo trouxe para o painel um vídeo da maquete do projeto, destacando a importância de patrimonizar espaços históricos para sua utilização cultural.
O espaço terá concha acústica e espaço para exposições numa área de mais de duas hectares, além de sede de aulas, administrado pela Unipampa Jaguarão.
"Convém dizer que o Museu do Pampa nasce em Livramento, chegando em Jaguarão após o desentendimento de Livramento com o Iphan. Jaguarão entendeu que o Pampa merece esse olhar apurado sobre sua natureza. É uma interpretação sobre a diversidade deste ecossistema feita por um equipamento cultural multiuso", explicou Melo.
O projeto foi viabilizado pela Unipampa, Prefeitura de Jaguarão e Iphan.
O segundo painelista foi o secretário de Cultural de Bagé, Sapiram Brito, que iniciou sua fala abordando a origem do gaúcho para chegar ao Bioma Pampa. "O Bioma Pampa é um ecossistema com a variedade de mais de 2000 espécies de plantas únicas, com gramíneas e leguminosas diferenciadas. Mas a gente acha que é a mesma grama", introduziu. O gado e a produção pecuária, afirmou o secretário, também é outro ponto ligado ao Pampa. "O gado veio para o RS procurando o seu destino, um ambiente propício para  sua natureza. Este gado, no início, era caçado", narrou o secretário da Cultura de Bagé.
O RS passou por desatenções sérias de Portugal e pelo Império brasileiro pela distância, formando-se então uma cultura peculiar, misto de isolamento e necessidade de firmação de identidade coletiva. "Nosso RS é uma imensa província mineral. Em nosso Estado, tem todos os minérios, até xisto betuminoso em São Gabriel. Só que nosso solo é raso, mas esta natureza gerou nosso tipo de cultura agropecuária", disse.
"Temos clima definido, com chuvas um tanto escassas, uma imensa bacia hidrográfica, solo propício à produção de gramíneas e leguminosas, uma insolação rara. A partir dessa realidade, aliada à nossa genética, se formou um tipo que é diferente, que não é melhor ou pior: é o gaúcho", destacou Sapiram Brito.
Segundo o secretário, há um complexo de inferioridade no Pampa, talvez pela distância, talvez pelo isolamento, mas que marca profundamente o desenvolvimento da região. Ele destacou a necessidade de se orgulhar com humildade das riquezas da região. "Fornecemos neste eixo de Fronteira uma referência cultural seguida por todo o RS", indicou.
Portanto, no entender do secretário, há potencialidades mal utilizadas na região, que acabam afastando talentos dos municípios fronteiriços. Ele chamou a atenção para a economia da cultura. "É possível ganhar dinheiro com a cultura, tem que ter persistência. Temos que nos orgulhar do que temos e como isso pode nos levar para um futuro melhor", concluiu Sapiram Brito.
Compôs a mesa ainda o presidente do Instituto Girassol, Marcelo Furtado. Ele destacou a grande diversidade da região para o turismo e o desafio, na cultura, de aproximá-la da população, que não tem acesso ao teatro, cinema, futebol, enfim, que precisa ser inserida culturalmente.
A mediação foi de Carmem Regina Silveira Nogueira, professora da Ufpel.

Texto: Josemari Quevedo

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