A alma é livre, mas as coisas do mundo nos fazem colocar alguns pesinhos nos pés, manter o equilíbrio e não voar tão alto... Afinal de contas, o ser humano não foi feito para voar. Sempre que vou aos céus lembro disso, e procuro descer rapidinho. Já foram tantos tombos, de lugares tão altos, que prefiro não mais me arriscar.
Será? Ah...o ser humano é contraditório também. Por isso, dia desses coloquei minhas asas coloridas e sobrevoei meus vários jardins. Um novo, florescendo. Flores delicadas, machucadas pelo temporal. Ali pousei lentamente, e na hora de ir embora, fui embora como brisa, batendo as asas com cuidado. Ainda circulei pelas flores coloridas, alegres, amigas.
Logo adiante, um vendaval me atingiu e meio tonta, fechei as asas, tentei colocar meus pés no chão, mas mesmo assim o vento me arrastou ao passado com toda fúria. “Voltamos, por que na verdade, de lá nunca saímos”, soprou ao me trazer de volta.
Fiquei meio que ao meio. Mesmo sabendo dos riscos e prazeres de voar, sempre me surpreendo com todas as sensações que me proporciona. Ao bater as asas espalho meu pólen, e carrego comigo o aroma e a essência de todas as flores.
Quando volto, é necessário esse doloroso processo de mutação. Entrar para o casulo, transformar as asas em pés, e pisar novamente o chão.
Maria Fernanda Passos
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