Soldado Osmar Martinez |
Quem visita o Cemitério das Irmandades e caminha pelos
seus corredores cheios de mausoléus e olhares que nos miram por
detrás das fotopinturas centenárias , pode encontrar, à direita da
capela, para quem entra pelo corredor central, um túmulo com a imagem do jovem
soldado Omar Martínez e a placa do Nono Regimento de Cavalaria uruguaio, indicativa do seu falecimento no cumprimento
do dever. No mesmo túmulo, encontra-se outros falecidos da mesma família
Martinez, os quais deduzimos serem uruguaios que moravam em Jaguarão.
A curiosidade pela história do soldado Osmar nos
impeliu à pesquisa. Descobrimos na história do "Regimiento de Dragones Libertadores de Caballeria Número 9",
que sua origem remonta ao século XVII, quando se formou o primeiro Corpo de
Dragões que se tem registro na Espanha. A denominação Dragões,
para os regimentos de cavalaria, origina-se do Império Romano, em que cada
coorte (formação militar) tinha um signum (estandarte
militar) particular e depois das guerras Dácias e Partas de Trajano no oriente,
o estandarte do dragão (Draco),
passou a ser usado nas coortes Sarmatarum (Sármata)
e Dacorum (Dácia), ou seja, as coortes
de cavalaria.
Sármata a serviço de Roma com o estandarte do dragão, reconstrução de Gerry Embleton com base na estela de Chester e na escultura da Coluna de Trajano. fonte Fantastipedia |
Na época da conquista da América, estes corpos
de elite foram amplamente utilizados para afirmar a expansão espanhola no novo
continente. No Rio da Prata, os dragões estiveram na primeira
liberação de Montevideo no ano de 1723, quando Bruno Zabala enviou de
Buenos Aires, 150 Dragões sob o comando de Alonso de la Vega, dando combate à
força portuguesa que iniciava a construção de uma fortaleza nessas terras.
Os mais renomados regimentos de Dragões espanhóis que
operaram na Banda Oriental foram os Regimentos de Sagunto, Lusitania e
Numancia, entre outros.
No ano de 1811, Artigas cria a primeira unidade de dragões,
posteriormente chamados de Blandengues Orientales. Na época Artiguista
e nas lutas pela independência do
Uruguay, os vários regimentos de Dragões
se destacaram sob o comando de Fernando Torgues, Fructuoso Rivera y Manuel Oribe.
Logo após a
Batalla de Sarandí e da entrada das Províncias Unidas na guerra contra o Império
do Brasil, se forma, com base no “Primer
Escuadrón de Dragones Libertadores” o “9no
Regimiento de Caballería de Línea”, sob o comando do então Tenente Coronel don Manuel Oribe, que
participou ativamente entre 1826 e 1827 de várias ações , entre elas a ocupação de
Bagé, batalha de Camaquã e o combate de Las Piedras.
O Regimento é incorporado ao novo exército uruguaio
depois da independência sendo nomeado o primeiro em sua arma.
Em 09 de abril de 1920 a tragédia. Numa
manobra de rotina, no Paso Belastiqui, departamento de Rocha, programou-se a
passagem do curso d’água por parte de uma seção da Unidade. Subitamente, espantou-se
uma égua, provocando que vários cavalarianos perdessem o controle de seus
animais errando o ponto de cruze e sendo arrastados pela correnteza. Entre as sete
vitimas fatais registradas neste insucesso, encontrava-se o soldado Osmar
Martínez.
O fato do sepultamento de Martinez em
Jaguarão, no Cemitério das Irmandades, permite-nos supor que, à época, houvesse
certa liberalidade no translado de corpos nesta fronteira. Ainda não havia sido
construída a ponte sobre o rio Jaguarão e por certo a fiscalização deveria ser
bem mais branda nesse sentido. A burocracia para tais procedimentos e as
proibições sanitárias, depois de instalados os controles de fronteira, fez com
que familiares ou amigos de pessoas mortas repentinamente, de um lado ou de
outro, fossem praticamente forçadas a realizar verdadeiros atos macabros, como
passar um defunto sentado no carro. “O
fulano está tirando apenas um cochilo” ou “se passou e bebeu demais”, era a desculpa,
se parados na cruzada da Ponte.
É comum para esta gente fronteiriça
ter parentes enterrados em ambos os lados do rio. Visitar o Cemitério significa
não apenas reverenciar nossos antepassados, mas também descobrir um pouco da
história que construíram.
Placa no túmulo do soldado Osmar Martinez |
Jorge Passos
Fontes consultadas: http://www.ejercito.mil.uy
3 comentários:
Parabéns pelo texto amor. Bela pesquisa. Será que daí também veio o nome dos Dragões da Independência, da guarda presidencial?
Gracias, Realmente, todos os corpos de Dragões são oriundos dessa mesma fonte do exército romano.
Muito legal Jorge, não sabia de tantos detalhes sobre a morte do meu tio avô.... Parabéns pelo blog, muito interessante!
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