Contemporâneo de Pedro
Bartholomeu Ribeiro (Tutuca) no Ginásio Estadual de Jaguarão, eu ficava
abismado com a sua verve em composições musicais que produzia a torto e
direito, sem se importar com o destino que elas tomariam. Quando muito
apresentava as mesmas através de performances beneficentes do Conjunto “O
Ginasiano”, na época composto por ele, Luiz Fernando Cassal, Eulálio Delmar
Faria (Pato) e mais os saudosos Luiz Carlos Silveira (Bode), Oscar Godofredo
Porciúncula (Porraço) e Luiz Elder Franco, inclusive tinha o samba “Trovejou,
Relampeou”, de sua autoria, como característica musical do grupo.
Eu não me conformava com
tanto talento desperdiçado e tentava convencer “Tutuca” a encarar melhor a
divulgação de sua obra, mas ele Pedro Bartholomeu sempre me contestava com a
demasiada mão de obra que lhe custaria investir nessa empreitada, não valia a pena.
E ai eu, nulidade em qualquer ritmo, meti-me a querer provar como não seria tão
difícil assim. E comecei a cantarolar alguns versinhos que me vieram à mente,
saiu “Boa Noite, Alegria”. Depois numa viagem naqueles ônibus antigos da
Fréderes, que rangiam com as “costeletas” da estrada de terra, comecei a
escutar uma melodia naquela barulheira, “Seu Boa Piada”...
Um belo dia, enchi-me de
coragem para apresentar esses “pecaditos” ao notável instrumentista de
Jaguarão, Oswaldo Emílio Medeiros, nosso querido Mestre Vado. Voz de taquara
rachada, ritmo precário, fui “largando a franga”. Ele me pediu que parasse,
obedeci envergonhado. Ele pegou um pedaço de papel, riscou algumas pautas,
apanhou o “surrado” clarinete de palhetas amarradas com barbante, deu uma ligeira
afinada e me ordenou “canta de novo”, “para”, solava aquela coisa e depois
escrevia as notas na modesta partitura. Canta, para, toca, anota e assim fomos
indo. Em questão de minutos, as partituras estavam prontas.
“Quanto é, Mestre Vado?” De
jeito nenhum quis me cobrar. Disse-lhe então que dali em diante o apresentaria
como parceiro. Aceitou relutante, pois queria me convencer de que tinha passado
para o papel aquilo que lhe transmiti. Na ocasião, recomendou-me que procurasse
o professor Alcebíades Lino de Souza, pianista jaguarense, diretor do
Conservatório Musical de Pelotas, para fazer o arranjo para piano e o desenho
da partitura. E lá fui numa “via-crúcis” danada, dando cabeçadas de tudo que é
jeito. Estabeleci meus primeiros relacionamentos no mundo musical e terminei
editando a partitura definitiva e encalhada daquelas músicas.
Em 2002, produzi “Fundo de
Gaveta”, CD/Demo reunindo parceiros e intérpretes para compilação de tudo
aquilo que resultou dessa nossa jornada e ali registrando o samba “Boa Noite,
Alegria” e a marcha “Seu Boa Piada”, ambos com música de Oswaldo Emílio
Medeiros e letra de José Alberto de Souza, com muita honra. Pouco tempo depois,
estive jantando numa churrascaria da Coxilha/Uruguai, onde me juntei aos amigos
Cláudio Rodrigues, Newton Silva e Arnoni Lenz, para entregar essa modesta
gravação aos companheiros “Tutuca” e Vado Medeiros, integrantes daquela
coletânea.
Hoje sou surpreendido pela matéria “Jaguarão está de luto: faleceu Mestre Vado” postada no Blog da Confraria dos Poetas de Jaguarão e,
pesaroso, estou publicando este meu depoimento sobre um ilustre conterrâneo, personalidade
ímpar da nossa cultura popular, de grande contribuição a tantas orquestras e
conjuntos regionais que se formaram em Jaguarão e Rio Grande, aonde chegou a
acompanhar consagrados cantores do cenário nacional. Acredito que São Pedro
deve estar recebendo-o de braços abertos ouvindo:
“Seu Boa Piada, Seu Boa Piada,
conte mais uma,
bem bem engraçada,
daquelas que o senhor,
dizer sempre costuma...”
José Alberto de Souza
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